terça-feira, 3 de julho de 2012

Tem fio desencapado na defesa mensaleira:: Raymundo Costa

A marcação de data para o julgamento do mensalão, o maior escândalo político do governo Lula, alcança o PT num momento em que a lembrança da população sobre o caso parece esvanecida e as responsabilidades, diluídas. Agosto já era ruim para o partido acusado de montar um esquema de compra de votos no Congresso, devido à proximidade da eleição municipal de outubro. Mas o julgamento só terminará no fim de agosto, se tudo o que o Supremo programou ocorrer exatamente como foi planejado, o que é considerado pouco provável. O mais certo é que a audiência avance por setembro, entre no período do horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão para reavivar, dia a dia, a lembrança de algo que muitos eleitores ouviram falar mas poucos, muito poucos, sabem exatamente do que se trata, segundo aponta pesquisa encomendada pelo PT.

A primeira pergunta feita pelo instituto contratado pelo partido (a pesquisa não foi registrada na Justiça Eleitoral) trata exatamente do grau de conhecimento do mensalão: apenas 24% dos entrevistados responderam que ouviram falar e "se sentem bem informados" sobre o caso. A maioria, 55%, respondeu que ouviu falar e se sente mal informado, enquanto 18% simplesmente disseram nunca ter ouvido falar de mensalão.

Um aprofundamento na análise dos dados indica que a desinformação deve ser maior até do que a declarada pelos entrevistados. Um exemplo: entre os que se disseram bem informados sobre o mensalão, é alto o percentual (67%) dos que acham que há pessoas do PSDB, partido na oposição ao governo, envolvidas no suposto esquema armado pelo PT para comprar votos de deputados a projetos de interesse do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Mensalão assombra PT quando esvanece memória do caso

A pesquisa foi realizada em abril. Até então o senador Demóstenes Torres era considerado um dos pilares morais do Congresso. Mas seu nome foi mais lembrado (1%) que o do ex-governador José Roberto Arruda (0%), que renunciou ao governo de Brasília na esteira do escândalo batizado de mensalão do DEM. Até o ex-ministro José Dirceu, apontado como o "chefe da quadrilha" pelo Ministério Público Federal e que, com o passar do tempo, se transformou quase numa espécie de "sinônimo" de mensalão, aparece com índices baixos: em primeira citação, apenas 10% dos entrevistados mencionaram seu nome como o principal envolvido e 12% em segunda.

Dirceu está bem atrás daquele que a população que ouviu falar do suposto esquema acha que é o verdadeiro responsável pelo esquema: o empresário Marcos Valério, com 23% em primeira citação e 26% na segunda.

A desinformação é maior nas regiões Norte e Centro-Oeste, onde 80% dos entrevistados sentem-se mal informados ou nunca ouviram falar de mensalão. Sabe-se mais do escândalo no Sul do país, região na qual 34% dos entrevistados afirmam ter ouvido falar e estar bem informados sobre o suposto esquema de compra de votos na Câmara dos Deputados; a região Nordeste concentra o maior percentual dos entrevistados que nunca ouviram falar (29%). O mensalão é mais conhecido nas regiões metropolitanas (28%) do que nas capitais (27%) e no interior do país (21%).

Os entrevistados que declararam simpatia pelo PSDB são os que mais ouviram falar no maior escândalo do governo Lula (43%), seguidos dos que declararam preferência pelo PMDB (36%). Entre os que são simpáticos ao PT, apenas 26% afirmam estar bem informados sobre o suposto esquema.

Os homens (29%) consideram-se mais bem informados do esquema do que as mulheres (20%), mas também quanto ao gênero a grande maioria sente-se mal informado ou nunca ouviu falar do assunto, respectivamente, 56% e 21%. Quanto mais jovem o entrevistado, maior o desconhecimento do mensalão. Apenas 19% dos entrevistados na faixa etária dos 16 aos 24 anos declararam que estão bem informados sobre o escândalo a ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Mesmo entre os mais escolarizados é grande o desconhecimento do assunto. No público com ensino superior, 40% dos ouvidos disseram conhecer bem o caso do mensalão, mas 48% estão mal informados e 8% nunca ouviram falar sobre o assunto. Entre os que cursaram até a 4ª série do ensino fundamental, a soma dos percentuais dos que ouviram falar e se sentem mal informados (53%) com aqueles que nunca ouviram falar (30%) do assunto chega a 83%. Nessa faixa, somente 14% dizem que ouviram falar e se acham bem informados sobre o mensalão.

Fenômeno curioso: numa divisão de classe social que vai de E a B1/A, está na classe C o maior contingente dos que ouviram falar mas se sentem mal informados (62%). Na classe B1/A o percentual para esta mesma questão é de 49%. No outro extremo, a classe E, o percentual é tecnicamente o mesmo: 50%.

Bem ou mal informada, a grande maioria das pessoas identifica o mensalão com o PT e com o governo. À pergunta "pelo que você sabe ou já ouviu falar tem alguma pessoa envolvida no mensalão" o PT ficou com 67% das respostas e o governo com 63%. Mas além dos 48% do PSDB, as pessoas identificam o mensalão com o PMDB (50%) e o PTB (45%), partido do ex-deputado Roberto Jefferson, que denunciou e cunhou o termo "mensalão" para designar o escândalo.

Entre os partidos aliados do governo, aqueles que declararam simpatia pelo PMDB foram os que mais apontaram o dedo acusador para o PT (74%) e o governo (65%). Os simpáticos ao PT também não livraram o partido (67%) e o governo (63%). É claro, entre os entrevistados que declararam preferência eleitoral pelos tucanos, e que já ouviram falar do mensalão, os percentuais sobre o envolvimento dos petistas (90%) e do governo (88%) são bem maiores.

Às vésperas do julgamento, a defesa dos réus do PT está bem articulada. Delúbio Soares, o ex-tesoureiro, deve assumir que fez caixa dois. O fio desencapado é Marcos Valério. Ninguém sabe o que ele vai dizer. E o que fazer para reduzir os efeitos do desgaste na campanha.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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