A presidente Dilma
Rousseff continua tratando o governador de Pernambuco e presidente do PSB,
Eduardo Campos, como um aliado, mas desde já procura criar alternativas a sua
eventual candidatura presidencial em 2014. No Palácio do Planalto e no PT,
ninguém sabe exatamente qual é o jogo de Campos.
Ontem, Dilma foi a
Manaus (AM) para participar de um comício da candidata do PCdoB a prefeito,
Vanessa Grazziotin. A candidata comunista tem chances remotas de vitória.
Segundo as últimas pesquisas conhecidas, o candidato tucano, o ex-líder do PSDB
no Senado Artur Virgílio lidera com mais de 30 pontos de diferença.
Um cenário
desfavorável que Dilma poderia muito bem evitar. Associar-se à derrota de
Vanessa, sem dúvida, dá um gostinho a mais à provável vitória de Virgílio, já
considerada "simbólica" pelos tucanos. Mas o que Dilma quer é fazer
um afago no PCdoB e enviar um sinal a Eduardo Campos. O partido de Vanessa,
aliado histórico do PT, nos últimos anos tem orbitado o PSB de Eduardo Campos.
Dilma já trabalha
para isolar eventual candidatura do PSB
Ao mesmo tempo, Dilma
decidiu não se envolver na eleição de Fortaleza, onde PSB e PT disputam o
segundo turno no próximo domingo. Na capital do Ceará o aceno é para os irmãos
Gomes, o governador Cid e o ex-ministro Ciro, os únicos integrantes do PSB em
condições de tentar, pelo menos em parte, minar a hegemonia de Campos no PSB.
Com Cid e Ciro ela mantém uma ponte com o PSB, se vier a precisar da sigla,
mais tarde, na campanha sucessória.
À exceção de São
Paulo, Eduardo Campos em geral situou-se com o candidato contrário aos
interesses do PT e do governo. Um caso exemplar é São Luis do Maranhão, onde
campos desembarcou logo após o primeiro turno a fim de fazer campanha para o
candidato do presidente da Embratur, Flávio Dino (PCdoB), inimigo do clã
Sarney.
Dilma poderia apoiar
o candidato de Flávio Dino em São Luis. O adversário é da oposição. Tucano de
ocasião. Mas o chefe do clã, José Sarney, pediu que ela não se envolvesse na
eleição da ilha. E a presidente prefere não comprar briga com o presidente do
Senado. Além de ser do PMDB, partido com o qual deve manter aliança
preferencial, ajuda mais que atrapalha. Veja-se o caso dos vetos presidenciais
ao Código Florestal, cuja votação o presidente do Senado jogou para o fim da
fila.
A última sexta-feira
só reforçou a necessidade de a presidente ter um Plano B para a hipótese de
Campos ser candidato à sua sucessão: o governador de Pernambuco fez campanha em
Uberaba (MG), ao lado do tucano Aécio Neves, o mais provável candidato do PSDB
em 2014.
Aécio flertou
abertamente com Eduardo Campos: "Quem sabe no futuro Deus permita que
esses laços sejam mais fortes pelo bem do país", disse. Aliado do governo,
Campos foi mais comedido. Destacou a importância do governo Lula e elogiou a
oposição feita ao governo pelo PSDB que "olha os interesses do país acima
das condições políticas conjunturais".
Não bastasse a
aproximação com Aécio Neves, o governador de Pernambuco também resolveu entrar
no quintal de Lula, a campanha de segundo turno em Campinas, onde o PSB
enfrenta outro candidato "inventado" pelo ex-presidente da República:
Márcio Pochmann, ex-presidente do Ipea, que a exemplo de Dilma Rousseff e
Fernando Haddad nunca disputou antes uma eleição, seja para cargo proporcional
ou majoritário.
Há no PT quem
considere a eventual vitória de Pochmann em Campinas, onde o PT enfrenta uma
conjuntura difícil já há alguns anos, um feito de Lula maior até que a invenção
da candidatura Haddad, hoje favorita em São Paulo.
Campos, na realidade,
ao mesmo tempo que deixa correr solta a hipótese de ser candidato já em 2014,
afirma que o PSB apoiará a reeleição de Dilma. No calor do segundo turno das
eleições municipais já declarou que na segunda-feira, quando os palanques forem
desmontados, "a gente vai se juntar para trabalhar e ajudar a presidente
Dilma a mudar este país".
A presidente
considera as duas possibilidades, tanto a de Campos ser candidato já em 2014,
como a do PSB permanecer na aliança da reeleição. Por via das dúvidas, trata de
fazer os afagos a potenciais aliados de uma candidatura do governador e enviar
os sinais que julga necessários para mostrar que está atenta à movimentação do
aliado. Por enquanto, Campos é aliado e mantém o ministro que indicou para o
governo em nome do PSB.
Campos sempre foi
mais próximo de Lula que da atual presidente, cuja referência no Nordeste
passou a ser o governador da Bahia, Jaques Wagner. Ocorre que Lula e Campos se
desentenderam sobre a montagem da chapa do candidato a prefeito do Recife.
Poucos, além dos dois, sabem exatamente a extensão da divergência e se há
sequelas. A se acreditar em dirigentes do PT, Lula se sentiu
"traído".
Segundo dirigentes
petistas, quando "melou" a prévia do PT do Recife e indicou o
senador, ex-líder da bancada e ex-ministro da Saúde Humberto Costa, Lula avisou
o governador de Pernambuco de sua decisão. Eduardo Campos não teria vetado como
fez com o atual prefeito João da Costa, o vencedor da prévia contra Maurício
Rands, o petista apoiado pelo governador. Apenas tirou a carta que tinha
guardada na manga, no melhor estilo Lula: seu secretário Geraldo Júlio (PSB),
afinal eleito no primeiro turno.
O certo é que o PT
não perdoa o governador e diz que ele agora está por sua conta no Nordeste.
"Por la libre", como se costuma dizer em Cuba. Para os petistas,
Eduardo Campos está pavimentando o caminho de sua candidatura ou um eventual
desembarque do governo Dilma. O certo é que está "enfraquecendo" o
PT. Pode ser. Mas é preciso esperar assentar a poeira da campanha eleitoral
para uma avaliação mais precisa. O fato é que o PT nunca aceitou que algum
partido considerado à esquerda do espectro político lhe fizesse sombra. E é
muito difícil imaginar Eduardo Campos em campo oposto a Lula numa eleição
presidencial.
Fonte: Valor
Econômico
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