sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Exaltação aos mensaleiros

Esforço da cúpula do PT para evitar constrangimento a Dilma fracassou: o congresso do partido, em Brasília, se transformou em cobrança à presidente e a Lula para que defendam os petistas Dirceu, Genoino e Delúbio, condenados pelo STF no processo do mensalão e presos

Desagravo aos companheiros

Militância transforma congresso do PT em ato de defesa de condenados na AP 470, mas Dilma e Lula silenciam

Paulo de Tarso Lyra, Amanda Almeida

Apesar dos esforços da cúpula do PT para evitar constrangimentos à presidente Dilma Rousseff com menções diretas ao julgamento do mensalão, reservando para a manhã de hoje um ato de desagravo aos petistas presos, ela e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram confrontados, durante a abertura do 5º Congresso do partido, com cobranças para defender os correligionários condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Uma faixa aberta pela militância pedia a anulação da Ação Penal 470. José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares foram chamados de “guerreiros do povo brasileiro”. Nesse momento, embaraçados, Lula e Dilma trocaram palavras e beberam água.

O auge da pressão aconteceu quando Lula iniciaria seu discurso. “Lula, guerreiro, defende os companheiros”, bradava a militância. O ex-presidente manteve a estratégia e saiu pela tangente. “Eu tenho dito que não vou me pronunciar sobre a Ação Penal 470 enquanto o último recurso não for julgado. Vou manter essa minha posição até porque acho que temos outras coisas mais importantes para discutir”, enfatizou, silenciando a audiência.

Mesmo assim, Lula citou Dirceu, em uma das várias reclamações feitas sobre o tratamento que o PT recebe da imprensa. “Quando eu vejo a diferença na cobertura dada entre o emprego do Dirceu no hotel e a cocaína no helicóptero, lembro que eles nunca vão nos aceitar só porque somos do PT”.

Empossado ontem como presidente reeleito do PT, Rui Falcão optou por repetir as palavras escritas por ele próprio na nota oficial divulgada no dia da prisão dos petistas. “Não houve compra de votos, não houve desvio de recursos públicos e nenhum de nossos companheiros enriqueceu pessoalmente”.

Críticas
Falcão politizou o debate ao cobrar o mesmo tratamento dado às denúncias envolvendo o PSDB. “Não entendemos porque o silêncio de uma década sobre o mensalão mineiro. Nem porque não se comenta o trensalão tucano (denúncia de cartel nas licitações de trens e metrôs de São Paulo). Nem tampouco porque desviaram o foco da máfia do ISS denunciada pela prefeitura de São Paulo”, enumerou Falcão.

Dilma não citou o assunto diretamente. Lembrou a participação nos funerais de Nelson Mandela e elogiou a militância, dizendo que “nesses momentos difíceis” não pode se esquecer o que o PT representa. Falcão afirmou que é o momento de o PT passar por “renovação, autocrítica e evolução”. Tanto ele quanto Lula defenderam uma política ampla de alianças para ajudar na reeleição da presidente Dilma em 2014 e para garantir uma grande bancada de apoio no Congresso. “Seria bom se pudéssemos ser tudo do PT. Presidente, governador, senador, deputado. Imaginou Dilma? Se a bancada do PT, ao invés de 89 deputados, tivesse 300, você teria muito mais problema que tem hoje”, brincou.

A política de alianças foi definida em uma resolução do Diretório Nacional de quarta-feira: as negociações locais precisarão ser referendadas pela cúpula nacional. Isso vale para locais estratégicos para o PT, como Pernambuco, Maranhão, Pará e Rio de Janeiro (veja quadro ao lado).

No Maranhão, os petistas não querem apoiar Luiz Fernando Silva, candidato da governadora Roseana Sarney; em Pernambuco, a cúpula quer o apoio ao senador Armando Monteiro (PTB) e a militância quer candidatura própria. No Rio, a disputa está entre Lindbergh Faria (PT) e Luiz Fernando Pezão (PMDB).

Vaias e aplausos
A presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram vaiados ontem, durante a entrega do Prêmio Direitos Humanos 2013, em Brasília, por grupos de manifestantes, principalmente integrantes de entidades em defesa dos índios. Os gritos de reprovação foram abafados por aplausos de outros participantes do ato. “Se tem uma coisa que não me assusta é protesto. Eu nasci assim. Mas nós, governantes, precisamos ter consciência de que a democracia exige muito de nós”, afirmou Lula.

TSE mantém Rosalba no cargo
A ministra Laurita Vaz, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), concedeu uma liminar ontem à noite a Rosalba Ciarlini (DEM) permitindo que ela permaneça no cargo de governadora do Rio Grande do Norte. Na terça-feira, o Tribunal Regional Eleitoral do estado havia condenado Rosalba por abuso de poder econômico e político, e determinado seu afastamento. Ela, no entanto, não chegou a deixar o mandato. A governadora ficará no exercício do mandato até que o TSE julgue o mérito do recurso apresentado pela chefe do Executivo Potiguar.

Na mira
Maranhão
» O PT local cansou de apoiar o PMDB da família Sarney. Tampouco tem nome forte para lançar ao governo local, já que o histórico Domingos Dutra deixou a legenda. Os petistas querem apoiar a candidatura do comunista Flávio Dino (PCdoB). Mas, durante encontro na Granja do Torto, o senador José Sarney (AP) cobrou apoio a Luiz Fernando Silva, chefe da Casa Civil da governadora Roseana Sarney.

Pernambuco
» O PT insiste na crise interna que se arrasta desde as eleições municipais de 2012, quando parte da legenda não quis apoiar a reeleição de João da Costa e optou pela candidatura própria do senador Humberto Costa. Acabaram derrotados em primeiro turno por Geraldo Júlio (PSB). Agora, parte da militância defende novamente candidatura própria. Mas a direção nacional sinaliza que é simpática a uma aliança com o senador Armando Monteiro (PTB).

Rio de Janeiro
» O PT lançou a pré-candidatura do senador Lindbergh Farias e anunciou que os petistas desembarcariam do governo de Sérgio Cabral. O governador fluminense apoia a candidatura do vice, Luiz Fernando Pezão (PMDB), e apostava na manutenção da aliança. Ela é cada vez menos provável, mas, atendendo a um pedido do governador, Lula convenceu Lindbergh a deixar para o início do ano que vem o desembarque da administração fluminense.

Fonte: Correio Braziliense

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