Pré-candidato tucano diz que decisão foi de “foro íntimo”
Isabel Braga e Júnia Gama
BRASÍLIA - O presidente do PSDB e pré-candidato à presidência da República, senador Aécio Neves (MG), afirmou nesta quarta-feira desconhecer qualquer pressão do partido sobre a decisão de Eduardo Azeredo (PSDB-MG) de renunciar ao mandato de deputado. Segundo Aécio, Azeredo tomou uma decisão “de foro íntimo” para se dedicar à sua defesa a partir de agora.
- Que eu saiba, não (houve pressão). É uma decisão de foro íntimo, que tem que ser respeitada. O colega agora vai se dedicar à sua defesa. Ele é conhecido e reconhecido em Minas Gerais como um homem de bem - disse Aécio.
O senador, que tenta evitar o assunto desde que o Ministério Público pediu pena de 22 anos de prisão para Azeredo, não quis prolongar seus comentários a respeito do caso. O presidente do PSDB deu a declaração na saída da sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, da qual participava e saiu antes de terminar. Para Aécio, o julgamento de Eduardo Azeredo no que ficou conhecido como mensalão tucano não deve interferir nas eleições este ano para o PSDB.
— A renúncia foi uma questão de foro íntimo, eu respeito, mas fico triste porque não é uma decisão partidária. Isso não tem impacto nas eleições porque não se trata de uma ação contra o PSDB, o partido não está sendo julgado como instituição política. É uma acusação de crime em campanha eleitoral, contra um candidato do PSDB que teve a campanha coordenada do ponto de vista financeiro por um ex-ministro do presidente Lula — afirmou Aloysio.
O senador destacou que o partido não irá contestar a decisão do STF a respeito do caso.
— Nós respeitamos a decisão da Justiça. Tenho para mim que Azeredo é um homem honrado e honesto, mas a Justiça é que vai decidir sobre isso — disse.
O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) disse que a renúncia de Azeredo é um gesto de desprendimento e não uma manobra.
- Foi uma demonstração de desapego ao poder e de preocupação em demonstrar sua inocência. Não tem a ver com o retorno do processo à primeira instância, até porque, houve a volta no caso do Ronaldo Cunha Lima, mas a decisão mais recente do Supremo, em relação a Natan Donadon, foi diferente. E quem conhece o processo, como eu, tem a convicção da absolvição do Azeredo.
Não quero que um gesto dele, um gesto de desprendimento como é este da renúncia, seja interpretado como manobra. Outros ficaram apegados ao poder mesmo depois de condenados - disse Sampaio.
Já o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), criticou a decisão de Azeredo. Para o petista, a renúncia do deputado seria uma forma de se esquivar do julgamento no Supremo e uma tentativa de evitar que o PSDB seja afetado negativamente pelo episódio nessas eleições.
— A renúncia do deputado é uma manobra para evitar que o Supremo se posicione e para tirar o foco do PSDB, que foi o partido responsável pela corrupção no mensalão mineiro. Espero que o STF aja com o mesmo rigor com que agiu com os membros do PT que foram julgados. Queremos que não haja no Brasil dois pesos e duas medidas — disse o senador.
Para o petista Jorge Viana (AC) a renúncia seria um recurso legítimo que Azeredo usou. O senador reafirmou sua posição de que, assim como no caso do mensalão do PT, o mensalão mineiro teria sido apenas crime de caixa dois. Viana criticou o que classificou de hipocrisia em relação ao financiamento de campanhas e disse que o PT deu um tratamento “mais digno” a Azeredo do que o PSDB deu aos mensaleiros petistas.
— Não acho que a renúncia seja apenas uma manobra, é um recurso que a pessoa pode usar para se defender, porque ele acha que não cometeu nenhum crime. O PSDB está encontrando uma maneira de não ser vitimado como o PT foi. E o PT acertou em não tratar o Azeredo como o PSDB nos tratou, porque não houve nenhuma dignidade. Na minha opinião, tanto no mensalão do PT, quanto no mineiro, o que houve foi caixa dois. Um deu origem ao outro e no Brasil continua a existir essa hipocrisia com o financiamento das campanhas. É evidente a continuidade dessa busca de financiamento ilegal e todos fecham os olhos.
Fonte: O Globo
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