• Dólar não sobe só devido à histeria brasileira; economia em colapso pode até conter juros
- Folha de S. Paulo
O Banco Central mandou a taxa básica de juros para a maior das alturas dos anos Dilma Rousseff, 12,75%. A Selic voltou ao nível mais alto desde janeiro de 2009, quando, porém, descia a ladeira. Agora sobe. Até quando?
Até pouco tempo, Selic a 13% não estava no mapa dos rapazes do mercado; deve ir a 13% no fim de abril, data da próxima decisão do BC. Mas é possível dar asas à imaginação e aos juros, dado que o dólar ronda os R$ 3 e dadas as primeiras fumaças de inflação a 8% em 2015.
É razoável argumentar que o dólar bateu nos R$ 3 devido a um novo surto de toleima política do governo ou a um excesso de crispação, devido às novidades do Petrolão. Mas é razoável dizer também que as crises econômica e política podem se realimentar em espiral. Mas o cálculo das probabilidades é uma pilhéria ainda maior devido a outras incertezas e rolos.
Mesmo que a gente pare de dar tiros no pé, pode ser que o dólar continue a subir, pois sobe pelo mundo, em especial ante moedas aparentadas com o real. Isto é, as ditas moedas "commodities", objetos preferenciais de uma ponta da especulação com dinheiro grosso. Pode haver mesmo alta tumultuada do dólar no mundo inteiro, pois a novela da alta de juros nos EUA terá capítulos nervosos nos próximos seis meses.
Desde o ano passado, houve dois surtos de altas do dólar em relação a essas moedas, mais ou menos no início de setembro e mais ou menos no início de novembro. O real se desvalorizou mais, como de costume (até por características do nosso mercado financeiro, grande e organizado) e, além do mais, devido às incertezas e resultados da eleição de 2014. Mas o real acompanha a manada.
Pelo menos metade da desvalorização do real desde setembro pode ser atribuída a fatores que também pressionam moedas aparentadas. Desde novembro, o real não anda tão longe assim das andanças dessas moedas-primas, ainda mais quando se desconta a histeria dos últimos dias.
Por outro lado, como se fosse preciso lembrar, note-se que a economia ora está em colapso. Sabe-se lá até quando dura o presente surto de degradação, mas a coisa está muito feia. Por quanto tempo pode persistir a inflação numa economia tão inerte e fria, meio morta? De quanto pode ser o repasse da alta do dólar para os preços?
O investimento deve estar em colapso. Não há dados precisos desde o terceiro trimestre de 2014, mas a produção de bens de capital caiu 11% nos 12 meses contados até janeiro, indicou ontem o IBGE; a importação de bens de capital afunda. A taxa média de juros no mercado dito livre é a mais alta desde que Dilma tomou posse e ainda vai subir mais. O estoque de crédito (quantidade de dinheiro emprestada) cresce cada vez mais devagar, tendendo a zero; descontada a participação dos bancos públicos no crédito, que tende a minguar também, o total de crédito encolhe faz meses. Vendas de imóveis novos e de carros afundam.
Assim como uma recessão feia pode livrar o país de um racionamento de energia, o colapso agudo da economia pode conter a alta de juros. Não é um consolo. Menos ainda imaginar que pode haver tumulto financeiro mundial e que a elite política, depois de tantos tiros no pé, agora tenta acertar a cabeça. A nossa.
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