sexta-feira, 3 de abril de 2015

Lula quer emplacar ‘deputado anti-impeachment’

• Wadih Damous, primeiro suplente do PT, é visto como nome certo para defender Dilma no Congresso e rebater de forma ‘técnica’ pedidos de ‘Fora Dilma’

Luciana Leal – O Estado de S. Paulo

RIO - Empenhado em intensificar a defesa do governo e da presidente Dilma Rousseff no Congresso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva trabalha para mudar a bancada do PT na Câmara. Em jantar com o prefeito Eduardo Paes e o governador Luiz Fernando Pezão,ambos do PMDB,anteontem, Lula pediu que um deles abra vaga no secretariado para um deputado federal petista do Rio,a fim de dar lugar na Câmara ao primeiro-suplente, Wadih Damous (PT-RJ).

Na avaliação de Lula, Damous, ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro (OAB-RJ),poderá fazer uma sustentação não só política, mas jurídica e técnica, contra movimentos como o que pede o impeachment da presidente. Também poderá questionar os métodos da Operação Lava Jato, que investiga o esquema de corrupção na Petrobrás.

O ex-presidente diz que falta à bancada petista um parlamentar com o perfil de Damous.
No jantar, do qual participou o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), ficou acertado que Paes estudará como levar um petista para a prefeitura. Paes é aliado do PT, partido do vice- prefeito e secretário municipal de Assistência Social e Direitos Humanos, Adilson Pires.

Pezão, que enfrentou o PT na disputa pelo governo, ano passado, não está disposto a abrir espaço para o partido.

A primeira opção pensada por Lula era que a deputada Benedita da Silva(PT-RJ)assumisse uma secretaria. Benedita foi denunciada pelo Ministério Público Estadual por suspeita de improbidade administrativa quando ocupou a Secretaria de Assistência Social do Estado, entre 2007 e 2010. 

Anteontem, a Justiça do Rio, em liminar, determinou bloqueio de bens e quebra de sigilos fiscal e bancário da deputada e ex-governadora. Agora está sendo estudada a alternativa de levar para a prefeitura o deputado Chico D’Angelo, que é médico.

Elogios. No fim de fevereiro, durante ato em defesa da Petrobrás no Rio, Lula conversou com Damous e disse que gostaria de vê-lo na bancada petista. O ex-presidente petista elogiou as manifestações do advogado contra os pedidos de impeachment e as críticas ao que considera supervalorização das delações premiadas na Lava Jato.

Damous, presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB, disse ontem não ter relação próxima com Lula. Mas admitiu que amigos comuns mencionaram a ideia de levá-lo a assumir o mandato de deputado. “Fico muito honrado. Tivemos um breve diálogo, o presidente Lula disse que seria bom ter um quadro jurídico (na bancada petista)”, afirmou.

O advogado repetiu que não há fundamentação jurídica para o impeachment. “Existe um componente político acentuado, mas não tem cabimento tratar impeachment como solução para a insatisfação com o governo. A regra democrática manda esperar quatro anos pela próxima eleição”, disse.

Damous também sustenta ser preciso cautela no uso das delações premiadas. “Nesta Operação Lava Jato, a delação premiada está sendo banalizada e usada como principal elemento de prova. Não se pode atribuir à delação o caráter de verdade absoluta.Fui muito criticado quando disse isso, mas ninguém delata outro senão for coagido”, afirmou.

No jantar com os aliados peemedebistas, na Gávea Pequena, residência oficial do prefeito, na zona sul, Lula voltou a reclamar da articulação política do governo. Ele evita criticar diretamente a presidente, mas se ressente por não ser ouvido.

Lula quer que Dilma não fique acuada diante da pressão dos aliados, das manifestações contra o governo e do baixo índice de popularidade e que vá para a rua defender a própria gestão

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