segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Ação contra Nardes é ataque à democracia, afirmam opositores

• Para Aécio, ação mostra o 'desespero de uma gestão que já se vê derrotada antes do fim do processo'

• Ministros e deputados veem na manobra uma tentativa do governo de ganhar tempo para enfraquecer Cunha

Daniela Lima - Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Os líderes dos principais partidos de oposição ao governo Dilma Rousseff classificaram a ofensiva do Planalto contra o ministro do TCU (Tribunal de Contas da União) Augusto Nardes como uma ação "autoritária", "bolivariana" e "truculenta". Eles querem que o Congresso reaja para proteger o tribunal.

Presidente nacional do PSDB, o senador Aécio Neves (MG) disse que a ação para afastar Nardes da relatoria do processo que analisa as contas do governo soa como "um atentado à democracia" e evidencia o "desespero de uma gestão que já se vê derrotada antes mesmo do resultado final do processo".

O tucano afirmou ainda que a ação contra o ministro do TCU é uma medida "procrastinatória". "Esse é um ato que só escancara a falta de argumentos técnicos para responder às graves denúncias de que houve manobra nas contas públicas", avaliou Aécio. "O governo age como um time que perdeu de goleada e tem como último recurso tentar trocar o juiz.
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'Bolivariana'
O discurso de que a ação contra Nardes é um atentado á democracia foi entoado em uníssono pela oposição. Líder da minoria na Câmara, o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE) afirmou que o gesto configura a "primeira ação institucional bolivariana do PT dentro do Brasil".

"Isso é muito grave, estarrecedor. É a primeira atuação bolivariana institucional do PT dentro do Brasil. O governo mostra agora a pior face do seu autoritarismo e intolerância", concluiu.

Líder do DEM, o deputado Mendonça Filho (DEM-PE) afirmou que o Congresso tem o dever de reagir à ofensiva do governo contra Nardes. "O TCU é um órgão auxiliar do Congresso Nacional. Não podemos e não vamos aceitar esse tipo de intimidação. O Congresso terá que reagir."

A votação das contas do governo Dilma no ano de 2014 no TCU é a principal aposta da oposição para justificar a abertura de um pedido de impeachment contra a petista.

No processo, são analisadas manobras como as chamadas pedaladas fiscais –uso de dinheiro de bancos públicos para pagamento de benefícios de programas sociais e outras despesas federais.

Integrantes da oposição viram na ofensiva contra Nardes uma tentativa do governo de atrasar a conclusão do julgamento das contas de Dilma, já que nos bastidores a reprovação do balanço apresentado pelo governo é dada como certa.

Cunha
Deputados e ministros do TCU ouvidos pela Folha avaliam que o governo busca usar o tempo que o tribunal levará para decidir sobre a afastamento de Nardes para continuar manobrando no Congresso para diminuir o número de deputados que, hoje, estão insatisfeitos e poderiam votar pelo impeachment.

Eles também viram na ofensiva uma aposta do governo de que, nos próximos dias, haverá uma deterioração da situação política do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

O peemedebista, que rompeu publicamente com o governo em julho, ganhou suporte da oposição por ter a prerrogativa de instaurar o processo de impeachment, mas teve o prestígio abalado após o Ministério Público da Suíça informar ao Brasil ter encontrado quatro contas controladas por Cunha e seus familiares naquele país.

O peemedebista nega ter recursos não declarados no exterior, mas sabe que a eventual comprovação do caso pode resultar em seu afastamento do comando da Câmara, o que, na atual conjuntura, seria celebrado pelo governo.

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