sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Macron e as eleições de 2018 | Armando Castelar Pinheiro

-Valor Econômico

No Brasil os candidatos que despontaram nas pesquisas têm um discurso populista e apelo nacionalista

A eleição de Emmanuel Macron para presidente da França foi o acontecimento político deste ano, como foi a de Trump em 2016. Ambos eram pessoas públicas, mas emplacaram a imagem de estranhos ao mundo político tradicional, em parte porque nunca tinham concorrido a cargo eletivo. Os dois partiram de baixíssimas taxas de intenção de voto no início da campanha, usaram efetivamente as mídias sociais e fizeram campanhas lastreadas em parte na promessa de recolocar seus países em posição de destaque no cenário global.

O sucesso dos dois teve impactos para além de seus países. Acredito que esses se farão sentir também no Brasil, em especial na eleição de 2018. Essa é uma eleição que já prometia ter vários candidatos e a vitória de Macron energizará ainda mais os potenciais concorrentes, ao indicar que é possível se eleger presidente sem uma grande base partidária. Mas esse não deve ser o único impacto.

A eleição de Trump animou candidatos de perfil mais populista em todo o mundo, pelo sucesso de seu discurso nacionalista, contra importações e imigrantes. Coincidência ou não, no Brasil os candidatos que despontaram nas pesquisas, à esquerda e à direita, têm apresentado um perfil mais radical, com discurso populista e apelo nacionalista.

A esquerda, que lidera as pesquisas, adota um populismo tradicional, do "nós contra eles", buscando uma narrativa em cima de três anos de recessão, da baixíssima popularidade de Temer e da forte alta do desemprego, que devolveu centenas de milhares de pessoas ao Bolsa Família. Promete resolver tudo com as mesmas políticas que jogaram o país na crise, cuja responsabilidade atribui a banqueiros, empresários, estrangeiros etc.

À direita, o populismo é o da defesa da lei e da ordem, uma plataforma que levou Rodrigo Duterte à Presidência das Filipinas. O discurso também ataca minorias que têm obtido maior espaço na sociedade em anos recentes, em especial o movimento LGBT. A economia, por outro lado, não tem tido, nem deve ter, destaque na sua plataforma.

Macron produziu outro tipo de animação: a dos eleitores órfãos, que agora esperam que surja um candidato competitivo de centro, de fora do sistema político tradicional, o que entre outras coisas significa distância das falcatruas reveladas pela Lava-Jato. Será essa uma esperança razoável? Me parece que sim.

Além do descontentamento com os políticos tradicionais, o Brasil se assemelha à França pelo largo espaço aberto no centro pelo radicalismo dos candidatos mais competitivos à esquerda e à direita. Assim, a eleição de Macron deve muito ao fato de este ano os partidos tradicionais terem escolhido seus candidatos, pela primeira vez, com base em prévias. Como se tem visto também nas eleições americanas, esse sistema empurra os candidatos para longe do centro, para vencerem as prévias, e depois não dá tempo para se reapresentarem como moderados quando a eleição chega.

A eleição no Brasil também se parece com a da França na economia, pelo menos, pela natureza dos problemas enfrentados pelos dois países, guardadas as devidas proporções. Os dois países têm um problema de baixa competitividade e crescimento anêmico e necessitam melhorar os resultados fiscais. A agenda de reformas de Macron tem vários elementos em comum com a que vem sendo perseguida pelo governo Temer: redução do déficit público, reforma da previdência, reforma trabalhista, reforma política etc.

Esse candidato hipotético de centro poderia seguir outros quatro exemplos de Macron. Primeiro, ser claro e direto sobre as reformas que pretende fazer. Se ele tiver a transparência de Macron, pode construir em cima do amadurecimento em curso na sociedade brasileira sobre a necessidade de reformas.

Segundo, ainda que perseguindo uma agenda liberal, Macron evitou atacar símbolos, dessa forma se contrapondo ao discurso mais radical de François Fillon. Assim, por exemplo, ele não atacou o limite legal de 35 horas de trabalho semanal, mas quer aprovar a prevalência do negociado sobre o legislado, como fez o Brasil este ano, o que permitirá ignorar esse limite, se as partes quiserem. Na previdência, não vai mexer na idade mínima, de 62 anos, mas unificar os 37 diferentes regimes previdenciários e adotar regras parecidas com as da Suécia, fazendo o benefício proporcional às contribuições feitas ao longo da vida.

A plataforma de Macron também incluía uma política social focada em igualar oportunidades. O simbolismo também esteve presente em medidas baratas, mas populares, como mais facilidades para obter óculos e dentaduras, e outras mais caras, mas focadas, como reduzir encargos sociais para trabalhadores de baixa renda e reforçar a educação inicial em bairros pobres.

Por fim, Macron fez uma campanha otimista e de esperança, que se contrapôs ao discurso de raiva e medo de seus concorrentes, também essa uma oportunidade que se repete no Brasil.

Nenhuma eleição é igual a outra, menos ainda em países diferentes. Para vencer, Macron precisou de trabalho, inteligência, dinheiro, ambição e sorte. Mas vale a pena considerar essas lições ao analisar a movimentação dos candidatos no próximo ano e pouco.
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Armando Castelar Pinheiro é coordenador de Economia Aplicada do Ibre/FGV e professor do IE/UFRJ

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