Igor Gielow | Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Cientes do risco de implosão do PSDB devido a seu cabo de guerra, Geraldo Alckmin e João Doria apresentaram cartas de conciliação para tentar garantir a parceria entre ambos em 2018.
Tanto o governador paulista quanto seu afilhado político, prefeito de São Paulo eleito no primeiro turno em 2016, querem ser candidatos à Presidênciano ano que vem.
A alta temperatura da troca de farpas entre os dois nas últimas semanas, contudo, colocou em alerta o tucanato, que teme uma cisão que comprometa a posição majoritária do partido no campo governista em 2018 –não por acaso, DEM e PMDB vêm buscando se cacifar falando em candidatos próprios.
A sinalização de trégua veio de parte a parte, embora haja caciques do tucanato que duvidem de sua eficácia.
Alckmin disse a interlocutores que considera legítimo o pleito de Doria de ser candidato, e o prefeito sinalizou que não despreza o desejo de seu padrinho político de vê-lo candidato a governador.
Aliados lembram que Alckmin topou ser secretário estadual do rival tucano José Serra enquanto se preparava para retomar o Bandeirantes, sinalizando desprendimento.
Por trás de ambos os movimentos há o cálculo da necessidade de estarem do mesmo lado no ano que vem. Um líder do PSDB falou em "risco existencial" caso haja um rompimento entre os dois.
Publicamente, eles devem manter a dinâmica das últimas semanas, nas quais Doria arregimentou apoios entre partidos aliados como o DEM e enfatizou uma agenda nacionalizada, enquanto Alckmin recrudesceu seu discurso de candidato. Ao mesmo tempo, eventos como a liberação de verbas estaduais para a prefeitura paulistana na semana passada deverão continuar em pauta.
O clima anda azedo. Alckmin considera o "ponto de mutação" em sua relação com Doria o vídeo publicado pelo prefeito após uma visita de cortesia ao governador no Palácio dos Bandeirantes no dia 13 de agosto.
Como em nenhum momento declarou apoio à candidatura do padrinho à Presidência, o ato foi considerado uma "facada nas costas", na expressão do governador, segundo a Folha apurou.
De lá para cá a relação piorou, mas os protagonistas da trama veem excesso de animosidade por parte de seus escudeiros.
O campo alckmista argumenta que o governador será melhor candidato porque combina a experiência de quatro gestões à frente do Bandeirantes com a capacidade de agregar partidos aliados num momento de fragmentação da política brasileira. Contra Alckmin há a ideia de que ele é de difícil vendagem fora do eixo Sul-Sudeste-Centro Oeste.
Já a órbita de Doria vê no prefeito o postulante ideal para o Planalto por encarnar o tal "novo", como definiu o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à Folha em abril.
O próprio FHC, que não é afeito a nenhum dos dois, mudou sua posição pró-Alckmin. Considera que Doria pode vir a ser mais competitivo.
Na semana passada, o DEM, aliado desde sempre dos tucanos, posicionou-se favoravelmente a Doria, com o prefeito de Salvador, ACM Neto, como seu principal fiador. A hipótese de o prefeito migrar para o partido o ou para outro aliado, como o PSD, está na mesa, mas é vista com reservas por Doria, que teme a pecha de traidor se enfrentar o governador nas urnas.
Há o efeito ainda não medido de seu voo nacional enquanto a cidade de São Paulo enfrenta questões de gestão.
Por fim, a provável ausência por condenação em segunda instância de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no pleito mina as pretensões de Doria, que tem o mais incisivo discurso antipetista da praça.
O próximo passo do balé se dará dia 11 de novembro, quando o PSDB fará convenções estaduais. No seu mundo ideal, Alckmin teria Doria como candidato a governador. Mas há uma fila colocada, com nomes novos (David Uip e Luiz Felipe D´Ávila) e tradicionais (José Serra e José Aníbal).
Assim, o círculo do governador espera pressionar Doria a posicionar-se para essa empreitada, que já conta com apoio do PSD e do DEM locais. O prefeito talvez não morda a isca, até porque tem a oportunidade de forçar sua mão mais à frente na disputa, após a concorrida convenção nacional tucana de 9 de dezembro.
Até ali, o partido espera ter definido o balé, sob risco de ver a disputa intestina devorar a sigla.
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