O próximo governo terá de fazer as coisas certas rapidamente se não quiser enfrentar um cenário externo adverso e a deterioração das condições domésticas, em razão da elevada e crescente da dívida pública. Os relatórios divulgados pelo Fundo Monetário Internacional em sua reunião anual mostram que os obstáculos para o Brasil crescer de forma sustentável ainda são grandes e difíceis de contornar, ainda mais quando as condições globais pioram.
Segundo o Fundo, o ritmo da economia global é menos vigoroso e equilibrado que há seis meses e os riscos aumentaram. A expansão foi menos vigorosa do que o esperado na zona do euro e no Reino Unido. Tanto nos Estados Unidos, como no Japão e na Alemanha, os investimentos declinaram, e o avanço dos países emergentes se estabilizou no primeiro semestre.
Há uma desacelaração global do comércio, que poderá ou não se aprofundar, a depender dos próximos passos da guerra declarada pelo governo americano, que concentra cada vez mais seu alvo na China. O FMI identifica nessa escalada das tensões comerciais e em um de seus efeitos prováveis - a saída dos Estados Unidos de um sistema multilateral com regras aceitas que eles próprios criaram - uma das principais ameaças à economia mundial.
Por isso, os técnicos do Fundo calcularam, com base nas tarifas já estabelecidas pelos Estados Unidos e as decorrentes de retaliações pela China e outros países atingidos, os efeitos esperados para s duas maiores economias do mundo. Os americanos poderão perder 0,9% do dinamismo, enquanto que a conta para a China seria mais salgada, de 1,6% do PIB.
O cenário externo tornou-se menos favorável, além disso, porque houve um aperto nas condições financeiras, nos Estados Unidos e em alguns países emergentes e aumento nos custos de transações comerciais com o exterior (pelo protecionismo). Para o FMI, o crescimento global começou a fraquejar no ano corrente e deverá declinar um pouco mais nos próximos dois anos, com a perda do fôlego da economia americana, a lenta e controlada desaceleração da economia chinesa e o passo cadenciado, mas não frenético, como no passado, de várias economias emergentes.
O cenário geral para 2020, pelos cálculos do FMI, prevê que os países avançados terão deixado para trás a recessão de 2008, mas atingirão um ritmo de expansão potencial que será, na média, abaixo daquele anterior, há mais de uma década. A redução do crescimento é causada pela menor vitalidade das exportações (-1%) e importações (-1,4%) e pela trajetória cadente dos investimentos, que já começou e prosseguirá em 2019.
A razão disso é que os fatores de impulso, como o da política fiscal americana, que traz déficits crescentes, não são sustentáveis, segundo o FMI. Os juros continuarão negativos na zona do euro até a metade de 2019, e a partir daí as condições monetárias serão mais restritivas. A mesma coisa ocorrerá no Japão, a terceira maior economia, até o fim do ano que vem.
O Brasil, com isso, terá crescimento abaixo do previsto este ano (1,4% ante 1,8%) e em 2019 (2,4% ante 2,5%) e continuará sua tendência de voar bem mais baixo que os países emergentes, cuja média de expansão será de 4,7% nos dois anos. A comparação com os ex-tigres asiáticos é ainda mais desfavorável: eles crescerão 5,3% e 5,2%. Vital para a saúde da economia brasileira, a China crescerá 6,6% agora e 6,2% no ano que vem.
Nenhuma ajuda para o Brasil deverá vir da Argentina, cujo PIB encolherá 2,6% este ano e 1,6% no próximo. As expectativas para o vizinho não são boas, apesar da extensão do pacote de socorro financeiro do FMI, que não prevê alteração significativa nos índices de inflação nos dois anos: 31,8% em 2018 e 31,7% em 2019.
O FMI, assim como a grande maioria dos economistas brasileiros, aponta a urgência da reforma da previdência. As projeções para a evolução da dívida pública feitas pelo Fundo pioraram. Já em 2019 o país terá o maior nível de endividamento bruto - 88,4% do PIB - entre um grupo de 39 emergentes. Em 2023, o FMI prevê que o esse indicador ficará em 98,3% do PIB, acima da projeção anterior, de 95,6% do PIB.
O novo governo, seja qual for o candidato vencedor, precisará de agilidade e foco para desarmar a bomba da dívida pública, prestes a explodir. O crescimento maior ajudará um pouco, mas as principais ações dependerão de um bem delineado e factível programa doméstico de reformas.
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