Renda
de benefícios cai, restrições da epidemia crescem, presidente perde votos
Até
março de 2020, a soma de certos dinheiros que o governo federal transfere para
pessoas físicas era de R$ 69 bilhões por mês. Em abril, essas transferências
passaram para R$ 105 bilhões, graças ao auxílio
de renda do período de epidemia. No pico, em junho, foram a R$ 149 bilhões
mensais. Em janeiro e fevereiro deste ano, a média desses pagamentos regredira
a R$ 69 bilhões mensais.
Os
brasileiros voltaram a sacar
dinheiro das cadernetas de poupança nos primeiros três meses do ano.
Tomaram menos empréstimos nos bancos no primeiro bimestre. A renda disponível
para consumo caiu para a massa de pessoas sem ganhos do capital ou de
aplicações financeiras.
As transferências do governo federal são benefícios de INSS, Bolsa Família, Benefício de Prestação Continuada (BPC, para idosos e deficientes muito pobres), abono salarial, seguro-desemprego e alguns outros quebrados.
Essas
transferências foram engordadas pelo auxílio emergencial, pelo programa de
complementação de salário (BEm) e por antecipações da data de pagamento de
benefícios. Não estão incluídas nessa conta aposentadorias de servidores (que
variam pouco a curto prazo) e transferências estaduais e municipais —as
extraordinárias da epidemia, em particular, não devem ter aumentado até
fevereiro, porém.
A
popularidade de Jair Bolsonaro chegou ao auge entre
agosto e outubro do ano passado, quando os auxílios ainda eram grandes, a
renda do trabalho se recuperava um pouco e eram relaxadas medidas sanitárias de
restrição de movimento e aglomeração. Desde janeiro, o
prestígio de Bolsonaro cai.
A
despiora da economia e da situação do trabalho compensou em parte o fim dos
benefícios emergenciais —na média. Na realidade, muita gente ficou sem auxílio
e continuou sem trabalho, em particular os mais pobres. O descompasso tem um
efeito econômico (os pobres consomem sua renda inteira ou quase isso) e sociopolítico,
óbvio.
A
pobreza voltou a aumentar, de setembro até o fim do ano (não há dados mais
recentes para fazer as contas. Difícil que não tenha aumentado). Há sinais de
estresse entre os remediados (entre pobres, há fome).
A
poupança perde dinheiro, embora os saldos ainda sejam grandes. Até março de
2020, o total acumulado na poupança crescia ao ritmo de uns R$ 20 bilhões. Em
março deste 2021, ainda havia nas contas R$ 120 bilhões a mais que em março de
2020, mesmo depois do saque total de R$ 27,5 bilhões no primeiro trimestre. Mas
há saques.
O
governo federal pretende pagar uns R$ 44 bilhões nos três meses desta
rodada de auxílio emergencial. Era o que pagava, por mês, de maio a agosto
de 2020. Ou o que pagou em setembro e outubro de 2020. O auxílio valerá menos
também porque foi comido pela inflação.
O
receio de gastar (“poupança precaucional”), o medo da morte e as restrições
oficiais de movimento vão derrubar consumo, renda e emprego (saberemos quanto
apenas lá por junho).
Bolsonaro
não vai poder contar com auxílios e o efeito de alívio da reabertura da
economia no terceiro trimestre de 2020, se foram de fato esses os motivos da
recuperação da sua popularidade. Talvez por isso ora ponha fogo na sua campanha
eleitoral-golpista permanente.
Nesta
quarta-feira (7), reclamou de novo da Petrobras, atacou os “lockdowns”, ameaçou
botar as Forças Armadas na rua contra o tumulto social e outros horrores do
repertório. Antes de jantar com empresários, vomitava no país.
Se o motivo da ofensiva é esse mesmo, o trimestre por vir será mais tenso. Como se isso ainda fosse possível.
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