Folha de S. Paulo
Presidente leva plataforma de baixa
credibilidade a Nova York, em horário eleitoral de alto custo
Em pouco menos de 20 minutos na
ONU, Jair Bolsonaro preencheu quase toda a cartela de sua plataforma
de campanha. O presidente falou bem do governo, direcionou críticas a
adversários políticos, prometeu tempos melhores na economia e repetiu
distorções já conhecidas sobre a própria conduta na pandemia.
O falatório sem grandes novidades mostra que o foco principal de Bolsonaro não era tanto o conteúdo das declarações, mas o simples fato de ter tomado o púlpito. O presidente viajou aos EUA em busca de um reforço para a pose de governante e a impressão de que leva sua agenda eleitoral para um foro de prestígio.
A ida a Nova York, depois da
passagem por Londres, se tornou especialmente importante para um
presidente que enfrenta dificuldades crescentes dentro de casa. Com a reeleição
em risco, Bolsonaro saiu em turnê internacional para evitar (ou ao menos
adiar) a síndrome do
pato manco —aquela que drena o poder de governantes em fim de
mandato.
Sem esconder a vontade de se dirigir ao
público brasileiro, o presidente tentou transmitir na ONU a percepção de que
preserva sua autoridade. Mais do que isso, quis apresentar o argumento de que
há um governo a ser defendido, sem se importar com a realidade de que
praticamente todos os elementos do discurso eram conhecidos e enfrentam certa
desconfiança do eleitorado.
Os problemas de credibilidade abalam até
mesmo o esforço de Bolsonaro para modular a retórica inflamada. O presidente
pode ter reduzido o tom belicoso do pronunciamento de 2019, mas ainda aplicou
uma carga ideológica ao discurso e terminou com uma versão do conhecido lema
"Deus, pátria e família", adotado por
fascistas brasileiros.
No fim das contas, a passagem de Bolsonaro pela ONU completou o horário eleitoral de alto custo em que ele transformou sua turnê internacional. A menos de duas semanas do primeiro turno, resta ao presidente ampliar sua exposição a qualquer custo, mesmo que muita gente já saiba o que ele tem a dizer.
2 comentários:
TODOS já sabemos o que ele tem a dizer: NADA!
Mas isto é o mesmo que o canalha tem na cabeça: nada...
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