Correio Braziliense
A natureza dos eventos levanta preocupações
sobre violações ao direito internacional humanitário, que regulamenta o uso da
força em conflitos armados e a proteção da vida humana
Recentemente, o Líbano foi abalado por
ataques quase simultâneos que deixaram feridos e mortos. A série de explosões
de pagers e walkie-talkies de membros do Hezbollah matou 37 pessoas e deixou
mais de 3 mil feridos, segundo o Ministério da Saúde libanês. O governo
informou à ONU que explosivos foram implantados nos aparelhos usados pelo grupo
armado antes de chegarem ao Líbano. Esses dispositivos, sem GPS e usados para
evitar rastreamento israelense, explodiram atingindo também civis.
A investigação libanesa corrobora informações divulgadas pelo The New York Times que apontam que Israel teria vendido os aparelhos ao Hezbollah por meio de uma empresa de fachada, em uma operação secreta conduzida pelo Mossad e a Unidade 8200. Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, disse que o grupo tinha mais de 4 mil desses dispositivos, mas nenhum deles era usado pela alta liderança.
Se confirmada, a acusação sugere o envolvimento direto de Israel em uma ação que pode ser classificada como crime de guerra e contra a humanidade, já que os ataques chegaram a civis e causaram mortes indiscriminadas com uso de armas proscritas. A natureza dos eventos levanta preocupações sobre violações ao direito internacional humanitário, que regulamenta o uso da força em conflitos armados e a proteção da vida humana.A gravidade dos ataques não se limita à
dimensão física da destruição. Para o direito internacional, o uso de
explosivos em dispositivos de comunicação de um grupo armado, resultando em
ataques generalizados contra a população civil, pode ser enquadrado como crime
contra a humanidade. Em contexto de conflito armado, se for comprovado que os
ataques visaram a população civil, ou que os danos causados foram
desproporcionais ao objetivo militar, agentes israelenses podem ser acusados
também por crimes de guerra. A tipificação das condutas está descrita nos
artigos 7º e 8º do Estatuto de Roma, tratado que rege os crimes internacionais
e a jurisdição do Tribunal Penal Internacional (TPI).
Outra preocupação é a possível utilização de
armas químicas. Embora não haja informações conclusivas até o momento, a forma
e a escala dos danos levantam suspeitas sobre a natureza dos explosivos usados.
A Convenção de Armas Químicas, assinada em 1993 e ratificada por mais de 190
países, proíbe categoricamente o uso de qualquer tipo de agente químico em
conflitos armados devido aos efeitos devastadores sobre civis e combatentes.
Caso sejam confirmadas as suspeitas de uso de
substâncias químicas ou de agentes tóxicos nos explosivos, isso representaria
clara violação da legislação internacional. As Nações Unidas e organizações de
direito humanos têm alertado constantemente sobre o aumento do uso de armas
químicas em conflitos, o que torna o caso mais alarmante. Os recentes ataques
no Líbano geraram indignação internacional, com diversos países e organizações
internacionais pedindo investigações imediatas.
Se as acusações contra Israel forem
confirmadas, haverá pressão para julgamento dos responsáveis no Tribunal Penal
Internacional (TPI), que tem jurisdição sobre crimes internacionais.
Entretanto, nem Israel ou Líbano são signatários do Estatuto de Roma, o que
pode dificultar a responsabilização formal, a menos que o Conselho de Segurança
da ONU intervenha.
Por outro lado, o Hezbollah também enfrenta
escrutínio, já que seu uso de dispositivos de comunicação militar e a possível
presença de civis nessas áreas levantam questões sobre a proteção humana em
zonas de conflito. Há temores de que os ataques possam ser o início de uma nova
escalada de violência na já frágil estabilidade da região.
Os recentes ataques no Líbano não se limitam
a tragédias humanitárias, eles constituem uma violação grave ao direito
internacional. A detonação de dispositivos de comunicação, resultando em mortes
em larga escala, exige resposta. Caso sejam confirmados como operações
coordenadas por Israel, esses atos poderão ser qualificados como crimes de
guerra e crimes contra a humanidade, com implicações severas para a ordem
jurídica internacional. A realização de uma investigação imparcial e a
responsabilização dos envolvidos são imperativas para interromper o ciclo de
violência que continua a devastar o Oriente Médio e preservar a integridade das
normas internacionais que regem os conflitos.
Marco Aurelio Moura dos Santos — Doutor
em direito internacional e comparado (USP), professor de direito e pesquisador
do Grupo de Estudos sobre Proteção Internacional das Minorias (GEPIM/USP)
2 comentários:
Israel está se defendendo o regular diariamente há quase um ano lança mísseis na sua região norte em áreas de civis só não causar maior dano devido a defesa do domo de ferro o rebolar é uma organização terrorista você não deu uma palavra sobre isso Israel que está tentando sobreviver no meio Dos fundamentalistas islâmicos terroristas
O Hamas e o Hezbollah são tão terroristas quanto o Estado de Israel e o governo Netanyahu. Só que os 2 primeiros são reconhecidos e tratados como tal, enquanto o terceiro é visto como "única democracia na região" e apoiado em seus CRIMES DE GUERRA e atos TERRORISTAS DE ESTADO pelos governos dos EUA e da União Europeia, cúmplices dos terroristas militares israelenses e fornecedores das armas para estes terroristas judeus atacarem as populações civis palestinas.
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