segunda-feira, 28 de julho de 2025

A ilusão do agro - Diogo Schelp

O Estado de S. Paulo

Os interesses dos homens e mulheres do campo nunca foram preocupação da família Bolsonaro

O sentimento antipetista predominante entre empresários do campo é perfeitamente compreensível. Os tempos das frequentes invasões de propriedades por movimentos sem-terra, apoiados pelo PT, estão vivos na memória de produtores rurais e alimentam a sensação de insegurança que muitos sentem até hoje.

As primeiras gestões petistas também ficaram no imaginário de agricultores e pecuaristas como o ápice da “indústria da multa”. Cada um deles tem pelo menos uma história para contar sobre algum excesso cometido pelos órgãos fiscalizadores ambientais.

A retórica petista sempre endossou essas percepções, ao tratar o pessoal do agro em geral como latifundiário, improdutivo, desmatador e reacionário. Não é preciso ir muito longe no tempo. Em 2022, na qualidade de candidato, e em 2023, já como presidente, Lula usou a palavra “fascista” para se referir a integrantes do agronegócio.

À parte o cacoete ideológico e da militância radical, contudo, Lula e o PT não rasgam dinheiro. Eles sabem que o agro é a locomotiva da economia brasileira, responsável pela entrada de divisas e pela geração de empregos. Por isso, nunca faltaram estímulos ao setor nos governos petistas.

O ex-presidente Jair Bolsonaro sempre foi hábil em capitalizar para si o sentimento antipetista, mas nunca fez nada de muito extraordinário em favor do agro. O número de invasões de terra, por exemplo, já havia caído para menos de 15 no último ano do governo de Michel Temer – e manteve-se nesse patamar ao longo do mandato de Bolsonaro. O total de crédito rural concedido no Brasil em 2023, por sua vez, superou em mais de 13% o montante que foi disponibilizado para os produtores em qualquer ano durante a gestão Bolsonaro.

Também houve grande fanfarra em relação às multas ambientais, além de toda a conversa sobre “passar a boiada”, mas as verdadeiras dores dos ruralistas nunca foram efetivamente enfrentadas. Quem se beneficiou, mesmo, foram os poucos que andavam fora da linha, como os madeireiros ilegais. Afinal, a esmagadora maioria dos produtores rurais respeita as leis ambientais. No ano passado, por exemplo, todo o desmatamento ilegal registrado no País ocorreu em apenas 1% das propriedades.

A ideia de que Bolsonaro é o campeão do agro é uma ilusão. Agora que sua família está em campanha para que os exportadores brasileiros sejam punidos com sanções americanas, fica claro que os interesses dos homens e das mulheres do campo nunca estiveram no centro das suas preocupações.

 

Nenhum comentário: