quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Usina avalizada por Dilma no RS deu prejuízo

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Idealizada em 2000 pela hoje candidata petista e por Valter Cardeal, a Termogaúcha nunca saiu do papel

Turbinas compradas por US$ 100 mi foram vendidas 6 anos depois por menos da metade do preço, US$ 43,1 mi

Silvio Navarro e Ranier Bragon

SÃO PAULO, BRASÍLIA - À frente da Secretaria de Minas e Energia do Rio Grande do Sul, Dilma Rousseff (PT) e seu braço direito no setor elétrico, Valter Cardeal, hoje diretor da Eletrobras, participaram da criação de usina a gás que nunca saiu do papel e gerou prejuízo para a CEEE (Companhia Estadual de Energia Elétrica).

Batizada de Termogaúcha, a usina idealizada em 2000 foi liquidada seis anos depois pelos acionistas -CEEE, Petrobras, Ipiranga e Repsol-, sem funcionar.

Os sócios movem processo contra a CEEE pelos prejuízos causados e por dívidas.A Termogaúcha foi incluída no programa do governo FHC para construir termelétricas. A intenção era utilizar gás argentino, o que não se viabilizou em seguida.

Dilma e Cardeal culpam a crise energética argentina pelos problemas.

Documentos obtidos pela Folha mostram que Dilma avalizou a compra de turbinas a gás e a vapor da empresa GE (General Eletric), por US$ 100,3 milhões. Na época, ela ocupava o cargo de presidente do Conselho de Administração da CEEE.

Em 2006, as turbinas foram vendidas por menos da metade do preço pago: US$ 43,1 milhões. Na época, Dilma presidia o Conselho de Administração da Petrobras, uma das sócias, que tentou comprar as turbinas. Cardeal foi para a Eletrobras.

Os sócios ainda gastaram para estocar as turbinas no exterior no período.

A principal crítica ao projeto é que a gestão se precipitou por não ter garantias."Foi feito sem ter a venda da energia, o que é uma tradição no setor elétrico. A gente só começa um empreendimento quando essa energia está vendida, o que dá contratualmente segurança", afirmou o atual presidente da CEEE, Sérgio Camps. "A CEEE vai sair com prejuízo de pelo menos R$ 60 milhões [investimento e dívidas] nessa participação frustrada."Hoje, o governo gaúcho é do PSDB. Na época, era administrado pelo PT.

Auditorias e analistas estimam que a dívida da CEEE seja de R$ 35 milhões.Atas das reuniões da CEEE que a Folha teve acesso mostram que Dilma deixou o projeto nas mãos de Valter Cardeal, então diretor da CEEE. A rapidez no processo chamou a atenção da Eletrobras.

Numa das reuniões do conselho da CEEE, o próprio Cardeal informa a advertência feita pela Eletrobras para que "nos próximos empreendimentos" a documentação relativa à constituição da empresa deverá ser submetida previamente e em tempo hábil para análise".

Petista e aliado atribuem fracasso à crise argentina

As assessorias de Dilma Rousseff e da Eletrobras -Valter Cardeal é diretor de Planejamento- atribuíram à crise econômica argentina o motivo para o fracasso da Termogaúcha. Segundo eles, se as turbinas não fossem compradas haveria risco de descumprimento de prazos.

Em respostas bem similares, as assessorias afirmam que nem Dilma nem Cardeal tinham mais responsabilidade sobre a CEEE em 2006, quando houve a decisão da venda das turbinas por menos da metade do preço da compra. Dilma, entretanto, presidia o Conselho de Administração da Petrobras.

"Os empreendedores assinaram com o governo federal [então do PSDB] contrato com compromisso de prazo [a entrada em operação comercial da usina estava prevista para 2004] e, para seu cumprimento, adquiriram as turbinas da GE, conforme deliberação de todos os sócios."

A assessoria de Dilma diz ainda, que, "na ocasião, o mercado estava muito aquecido, com muitos pedidos de turbinas em carteira".

"A Termogaúcha seria abastecida com gás argentino, o que se inviabilizou com a grave crise econômica vivida por aquele país. As turbinas foram vendidas posteriormente, quando Dilma Rousseff já não era mais Secretária de Minas e Energia do Estado", afirmou.

Cardeal dá resposta semelhante, via assessoria: "A CEEE, da qual Valter Cardeal era diretor, tinha participação minoritária de 23%. (...) Não há participação alguma de Valter Cardeal na decisão de vender os equipamentos [turbinas], pois o mesmo já não era mais membro da diretoria da CEEE e nem representante da Termogaúcha".

Ele afirma que "os responsáveis pela venda dos equipamentos foram os sócios do empreendimento no ano de 2006/2007, cabendo aos administradores da Termogaúcha explicar os motivos da venda e dos resultados econômicos".

Procurada pela reportagem, a Petrobras não se manifestou até o fechamento desta edição sobre seu papel no empreendimento e sobre o destino das turbinas após serem vendidas.

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