O problema do PMDB com o governo já não é o ministério A, B ou C. A revolta da bancada da Câmara, que culminou com a decisão na semana passada de não indicar nomes para substituir os dois deputados que sairão das pastas do Turismo e da Agricultura para disputar eleições, tem a ver com a percepção de que o partido se tornou um estorvo a ser removido.
Não uma eliminação abrupta e radical. Afinal, tem ainda serventia: votos no Congresso e, em decorrência de uma representação parlamentar robusta, cobiçados minutos no horário eleitoral de televisão.
O movimento do governo seria o da desidratação lenta e gradual, com reflexos a cada nova eleição de modo a que o PMDB vá paulatinamente perdendo seu poder de fogo na cena nacional, até que não tenha mais a importância de hoje.
“Há uma tentativa deliberada de reduzir a bancada na Câmara”, diz o líder do partido, deputado Eduardo Cunha. Ele não atribui a ação exclusivamente à presidente Dilma Rousseff; considera o conjunto da obra: o projeto do PT de assumir a hegemonia política no país de modo a esticar ao máximo seu período de permanência no poder.
Por esse raciocínio, o PMDB seria a próxima vítima do processo de estrangulamento que enfraqueceu os partidos de oposição e quase fez desaparecer legendas outrora poderosas como o DEM.
A cada dia é mais firme essa convicção entre os peemedebistas, principalmente os deputados, os alvos preferenciais. Explicando melhor: a força do PMDB tem origem na eleição do maior número possível de deputados federais.
Por lei, a bancada na Câmara serve de parâmetro para estabelecer a divisão do tempo no horário eleitoral e a distribuição do dinheiro do Fundo Partidário. Duas moedas muito fortes no jogo do poder.
Com recursos e tempo, o PMDB se torna um aliado cobiçado para qualquer governo dos quais recebe a contrapartida em ocupação de espaços na máquina administrativa. Espaços estes de fundamental importância para eleger deputados, senadores, prefeitos e governadores.
Uma vez obstruídos esses caminhos, o partido tem reduzido seu fornecimento de oxigênio. Tende a eleger menos deputados o que, no ano seguinte, vai se refletir em parcela mais reduzida do fundo partidário e na eleição subsequente, em menor tempo de televisão.
Ao longo de duas, três eleições, um partido cai da classificação de legenda grande para agremiação de médio porte. Fica em segundo plano, não se credencia a postos de comando no Congresso e, quando dá por si, está em irremediável trajetória descendente
Esse é o resumo da ópera da revolta do PMDB com o PT, o governo e a presidente Dilma.
O partido não irá ao ataque. Não tem condições objetivas para romper. Mas, na trincheira da defesa, pode perfilar durante a campanha um desconfortável exército de dissidentes nos palanques estaduais.
Atrás da orelha. Permeia o ambiente no PMDB a desconfiança de que não está de todo afastada a possibilidade de o ex-presidente Lula da Silva vir a se candidatar a presidente, se o acúmulo de más notícias que rondam o governo não for só uma fase ruim.
Há também a suspeita de que Lula incentivou a filiação do empresário Josué Gomes da Silva — filho do falecido vice-presidente José de Alencar — como reserva técnica para a composição de uma chapa.
No caso, para deixar Michel Temer de fora. Se for isso mesmo, os peemedebistas já avisam que não há a menor hipótese e lembraram que Lula tentou o mesmo, sem sucesso, com Henrique Meirelles, hoje no PSD. No PMDB, reiteram os caciques, são precisos anos de serviços prestados para conseguir acesso à área VIP.
Adicional. Como se não fossem suficientes os problemas entre os dois partidos, a relação do PMDB com o PT do Rio de Janeiro está, na definição de um dirigente local, “cada vez pior”.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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