domingo, 9 de fevereiro de 2014

Tormentas na rota do Planalto

A presidente Dilma Rousseff enfrenta nesta semana não só o rescaldo dos últimos tenebrosos dias como uma sequência de abacaxis para descascar. O início do ano em que ela disputará a reeleição tem lhe rendido preocupações e não dá sinais de melhora. Além de ter que lidar com um apagão nacional, a prisão de mais mensaleiros, o retorno das manifestações de rua, a fuga de uma cubana do programa Mais Médicos e a crise com o PMDB, Dilma tenta se concentrar em sua campanha e evitar que os episódios atinjam sua imagem.

A cena flagrada por um cinegrafista e divulgada na última quarta-feira é emblemática: Dilma anda de um lado a outro falando ao telefone e fazendo gestos de quem dá uma bronca em alguém. A ligação ocorreu pouco depois de a cúpula do Ministério de Minas e Energia ter tentado explicar os motivos do apagão que afetou 11 estados. Mas poderia ter sido feita em qualquer outro dia da semana. Ainda que indiretamente, Dilma foi atingida por uma série de outros episódios que marcaram negativamente a primeira semana de fevereiro e a de atividade do Congresso.

Enquanto o problema da energia elétrica sinaliza que, apesar da negativa da presidente, a infraestrutura do país não vai tão bem, o surgimento da médica cubana desertora Ramona Rodríguez reabriu a ferida do programa que é uma das maiores vitrines eleitorais do governo – e do ex-ministro da Saúde e pré-candidato ao comando de São Paulo, Alexandre Padilha. A prisão dos mensaleiros Henrique Pizzolato e João Paulo Cunha, ainda que aparentemente distantes do território presidencial, manteve o calcanhar de Aquiles do PT em evidência. E o ataque a um cinegrafista durante a manifestação por causa do aumento de passagem no Rio na quinta-feira indicou que a tensão ocorrida no país nos protestos do ano passado pode voltar a qualquer momento.

Desgaste
Coube ao PMDB colocar a cereja no bolo de Dilma. Envolvida no quebra-cabeças da reforma ministerial – em que precisa tapar buracos deixados pelos ministros que saem para campanha e ao mesmo tempo agradar à base para apoiá-la nas eleições – ela ainda tem que administrar a revolta dos integrantes de seu maior aliado. A presidente se reuniu com caciques da sigla por longas horas, tentou conciliar os ânimos, e a resposta foi dada pela bancada peemedebista na Câmara. Em nota, o grupo disse colocar à disposição os cargos que detém na Esplanada – Ministérios da Agricultura e do Turismo. "A gente prefere não ocupar cargos, que não são expressivos, nessa posição desgastante", comenta o vice-líder do PMDB na Câmara, Marcelo Castro (PI).

O deputado queixa-se que, por conta das conversas com o governo, a legenda sempre sai mal diante da opinião pública. "As negociações com o governo no mandato da Dilma têm sido muito negativas para a imagem do partido, que é colocado como fisiológico, carreirista, sem identidade, que está disposto a servir a todos os governos, nós somos o maior partido do Brasil e o sentimento é que estamos em desvantagem de anos-luz em relação ao PT", reclama. Castro, porém, garante que não há crise. "A semana foi difícil por uma sequência de coincidências, mas já coincidiu demais, agora é ter paciência."

Prefeito de Coari se entrega à polícia
O prefeito de Coari (AM), Adail Pinheiro (PRP), se entregou à polícia no início da tarde de ontem, em Manaus, segundo informações da Polícia Civil. Ele é acusado de chefiar uma rede de exploração sexual de crianças e adolescentes no município localizado a 363km de Manaus. Outras cinco pessoas ligadas ao prefeito também foram detidas. Todos ocupam algum cargo na prefeitura comandada por Adail e não resistiram à prisão. De acordo com testemunhas e vítimas, eram eles que, sob ordem do prefeito, abordavam as famílias oferecendo benefícios e dinheiro em troca dos delitos.

Fonte: Correio Braziliense

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