• O PT ainda vê recuperação via esquema tático
- Valor Econômico
Considerando apenas três Estados, dos mais importantes, cujo arranjo eleitoral foi mal resolvido, evidencia-se para o PT a necessidade de aplicar, em todos eles, um bom esquema tático para suprir o mau planejamento estratégico na fase preliminar. O Partido dos Trabalhadores não demonstrou competência nesse quesito, até o momento, e deixou que se avolumassem seus problemas em região onde habita parte substantiva do eleitorado.
A opção preferencial de Lula, no comando de fato do seu partido desde a primeira candidatura vitoriosa, foi segurar o poder federal da forma possível, com qualquer tipo de aliança, da extrema direita à extrema esquerda, deixando que nos Estados a natureza política, incontrolável em se tratando das forças regionais, determinasse as associações como quisesse.
Ainda há, presentes no cenário de hoje, testemunhas conhecidas de um jantar organizado por amigos de Lula, na fase preparatória das eleições de 2002, somente para que anunciasse, na sala apinhada de políticos e jornalistas, que sem alianças a torto e a direito não seria mais candidato a nada, o PT que se virasse e resolvesse se queria perder ou ganhar.
Contrariando os seus próprios desígnios, o ex-presidente, certamente acreditando que o poder federal já estava bem seguro, resolveu fazer o contrário do que mandava e adotou, em 2014, a estratégia de dar força às chapas petistas em confronto com aliados nos Estados. Certamente não contava com a astúcia do PMDB, partido que Lula esperou segui-lo como carneirinho. O PT acabou ficando mais isolado do que imaginava e agora não dá mais para refazer o caminho, terá que ir à frente com um plano tático competente para o próximo período da campanha.
No Rio, o PT pagou para ver e quase ficou a ver. O candidato Lindbergh Farias (PT) apostou na desgraça eleitoral que parecia ter encontrado morada junto ao ex-governador Sergio Cabral e imaginou que fosse fácil ocupar integralmente o espaço. Provou-se que a equação Rio era muito mais complexa que a baixa popularidade de Cabral e o acampamento de manifestantes em frente ao apartamento em que morava. O PT perdeu o PMDB para o candidato Aécio Neves e terá em sua chapa, como candidato ao Senado, um representante do candidato Eduardo Campos, o ex-jogador Romário (PSB), tendo que fazer contorcionismo real para definir-se com alguma nitidez diante do eleitorado.
No Paraná, o PT tem uma candidata forte, Gleisi Hoffmann, nutrida no esquema eleitoral de primeiro mundo da candidata à reeleição, Dilma Rousseff, e tem também um candidato aliado mais forte ainda no PMDB, Roberto Requião. Será uma humilhação para o partido ter que entregar ao PMDB a candidatura Gleisi Hoffmann (PT), que perdeu muito de sua possibilidade de ir ao segundo turno com o lançamento do candidato próprio do PMDB. Mais provável presença no segundo turno, para disputar com o governador Beto Richa (PSDB), candidato à reeleição, não é impossível, mas difícil, que Requião e Gleisi se enfrentem na segunda etapa. Se isto vier a ocorrer, não se imagina possível a transferência dos votos do atual governador para a candidata petista. Situação ruim por todos os lados.
Em São Paulo ocorreu um fenômeno parecido com o do Paraná, envolvendo também PT e PMDB. Formulador das soluções, o ex-presidente Lula optou por lançar um candidato-poste do PT, Alexandre Padilha, que vinha de uma gestão apagada no Ministério da Saúde. Lula tentou, claramente, repetir o fenômeno Fernando Haddad, que egresso de uma gestão igualmente pálida no Ministério das Educação foi o poste eleito prefeito da capital paulista por obra de Lula.
O ex-presidente confiou, e ainda confia, na sua estrela, mas até agora Padilha não decolou. Sua candidatura foi ferida de morte com o lançamento do candidato do PMDB, Paulo Skaf, ao governo, catapultado pela poderosa máquina da Fiesp, que presidiu e de onde armou durante anos seu lançamento eleitoral.
O problema para o PT é que Skaf, tendo em vista a baixa aceitação do petismo em São Paulo, não quer se identificar com a candidatura Dilma. Nesse caso o inverso constitui um drama maior ainda: Skaf está muito mais à direita do que o PT gostaria de ter na sua aliança, e se for para o segundo turno terá que apoiá-lo no confronto com o candidato à reeleição, Geraldo Alckmin (PSDB).
Skaf tem sua candidatura ancorada em um símbolo entre os adversários históricos do PT, a Fiesp, com quem os movimentos sociais liderados pelo Partido dos Trabalhadores sempre duelaram.
A presidente Dilma terá ainda uma semana de agenda presidencial, com a cúpula dos Brics, e a partir do dia 20 mergulhará na campanha eleitoral. Nos últimos dias, a equipe que trabalha para a reeleição registrou a necessidade de uma recuperação tática, usando para isso o período que vai de agora até o início da propaganda na TV. Para isso, procurou por um negociador, alguém que pusesse o guizo no pescoço do Skaf, do Requião, e de Pezão, numa tentativa de inserir a presidente candidata à reeleição no suposto sucesso que as pesquisas apontam para esse PMDB até agora alforriado. Ontem, o vice-presidente Michel Temer, candidato à reeleição na chapa de Dilma, anunciou que reassumirá hoje a presidência nacional do PMDB, exatamente para tentar evitar riscos para o PT, como os que já correu na convenção nacional que por pouco quase derrubava a aliança. Temer passará, assim, a ter participação em todas as decisões do partido durante o período da campanha. Poderá funcionar como uma barreira às decisões antipetistas que poderiam esvaziar de votos a chapa de que participa.
O PT e o governo dedicam-se, ainda a esta altura, a fazer carga contra a candidatura de Eduardo Campos (PSB). O argumento principal é que a candidatura já se desfez, e ele deveria abrir logo a possibilidade de reintegrar-se ao projeto petista para que Dilma Rousseff volte a ter chances de vitória em primeiro turno. Para o PT, com a propaganda intensa na TV, a candidata à reeleição passará logo dos 40%, e as pesquisas semanais mostrarão que o passe para o poder ficará mais caro. Eduardo Campos, porém, parece estar mouco ao canto de sedução.
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