• Poderes. Após rompimento formal de Eduardo Cunha, governo Dilma busca refazer pontes com senador, considerado fiel da balança na tramitação de eventual processo de impeachment no Congresso
Isadora Peron e Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Tratado pelo Palácio do Planalto como peça-chave para impedir o agravamento da crise política, que pode culminar até no impeachment da presidente Dilma Rousseff, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), tem sinalizado a interlocutores diretos que pode voltar a colaborar com o governo da petista a partir desta semana, na volta do recesso parlamentar. Renan, contudo, cobrará "faturas" nas áreas política e econômica, em troca da ajuda.
Há duas semanas, logo após o anúncio do rompimento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o governo decidiu reforçar uma operação envolvendo ministros como Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento) e lideranças políticas petistas para cortejar o presidente do Senado. "Renan será o fiel da balança", definiu um dos envolvidos na investida do governo.
O Palácio do Planalto quer retomar a relação que mantinha com Renan durante o primeiro mandato Dilma, quando ele foi o principal interlocutor do governo no Congresso. O peemedebista, que contou com o apoio da presidente para se reeleger presidente do Senado em fevereiro, afastou-se do Planalto no mês seguinte, na esteira da abertura de três inquéritos contra ele no âmbito da Operação Lava Jato. Nos bastidores, Renan acusa o governo de ter atuado para incluí-lo no rol dos investigados.
O Planalto, porém, aposta no presidente do Senado para neutralizar os efeitos de uma provável decisão desfavorável no julgamento das contas de 2014 da gestão Dilma pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Caberá à Casa presidida por Renan apreciar inicialmente o parecer analisado pela corte.
Se tanto o Senado quanto a Câmara reprovarem as contas do governo, esse seria o primeiro passo para que um processo de impeachment fosse aberto contra a presidente. Por isso, dizem aliados, com a Câmara liderada pelo oposicionista Cunha, Renan é tido como fundamental para barrar no nascedouro um movimento pelo impedimento da presidente.
O peemedebista, porém, ainda não decidiu que papel vai adotar. É a esse delicado cálculo político que ele tem se dedicado nos últimos dias. Apesar da disposição de voltar a ajudar o governo, Renan deve investir na tese de que a análise das contas de 2014 poderá ser feita antes das contas de anos anteriores - ainda pendentes de julgamento - serem apreciadas pelo Congresso. Não há nada no regimento do Congresso que impeça isso e trata-se de uma decisão política.
Conta. Para aliados do presidente do Senado ouvidos pelo Estado, contudo, Renan está inclinado a assumir o papel de fiador da governabilidade de Dilma.
Mas vai impor condições. Segundo interlocutores, uma das principais faturas do peemedebista seria que Dilma promovesse mudanças no seu núcleo duro de governo, a começar pelo ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. O nome que conta com a simpatia de Renan é o do ministro da Defesa, Jaques Wagner, considerado por ele um político habilidoso. Desde a época em que eram colegas de Senado, Renan e Mercadante nunca tiveram uma boa relação e o peemedebista não está disposto a voltar a conversar com o Planalto se tiver o atual ministro como interlocutor.
Em outra frente, o presidente do Senado aguarda um apoio financeiro maior do governo federal a seu filho e herdeiro político, o governador de Alagoas, Renan Filho (PMDB) - que comanda um Estado com graves dificuldades econômicas. A expectativa no ano passado, quando Renan Filho foi eleito, era de que ele teria total apoio de Brasília para tirar de Alagoas o título de campeão em recordes negativos em indicadores sociais.
Ajuste. Renan também quer ter maior participação nas decisões do governo, principalmente em relação à política econômica. O fato de Levy ter consultado o senador antes do anúncio da redução da meta do superávit, há cerca de dez dias, agradou o peemedebista. Crítico do ajuste fiscal elaborado pela equipe econômica, que recentemente classificou como "tacanho", ele defende ainda que o governo corte despesas do próprio Executivo, a começar pela redução do número de ministérios.
Assim como na crise de 2007, em que contou com o apoio do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o peemedebista espera solidariedade do governo caso sua situação na Lava Jato venha a se complicar.
O assunto tem preocupado o Planalto, que avalia que a 16ª fase da operação, deflagrada na semana passada e que avança sobre as irregularidades do setor elétrico, pode afetar diretamente o grupo ligado a Renan na Casa e, assim, dificultar ainda mais a reaproximação.
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