- Diário do Poder
Em 1950, no Maracanã com 200 mil pessoas, o Uruguai derrotou o sonho brasileiro de sermos campeões mundiais de futebol.
Foi uma comoção nacional. Havia gente chorando pelas ruas.
Oito anos depois, na Suécia, os canarinhos de Garrincha, Nilton Santos, Didi, Vavá e daquele menino de 17 anos, Pelé, encantaram o mundo e trouxeram a Taça.
Vivíamos os anos JK, da construção de Brasília, da instalação da indústria automotiva, dos primórdios da Bossa Nova, da MPB e do Cinema Nacional voltado para as coisas do Brasil.
“A taça do mundo é nossa… com brasileiro… não há quem possa” cantava a nação, quando o escrete vitorioso desfilava, junto com multidões, pelas ruas do Rio de Janeiro, então capital federal.
Vivemos atualmente uma revolta surda contra a Copa do Mundo na Rússia.
Isso se deve, em parte, pela ducha de água fria que os 7 x 1 impuseram à nossa alma futebolista. Foi um choque de realidade, como poucos. Não éramos mais o que já tínhamos sido.
Se deve, também em parte, à corrupção que esteve presente na construção de arenas da Copa de 2014 e em obras de infraestrutura urbana. Os estádios elefantes-brancos são um monumento ao acinte.
A revolta surda se deve, principalmente, à frustração que se sucedeu ao pós-impedimento de Dilma Rousseff.
O governo Temer, a solução constitucional para a retirada do lulopetismo do poder central, na figura incompetente e cúmplice da corrupção, que foi Dilma Rousseff, não conseguiu fazer uma transição sentida pela população brasileira, em direção aos reclamos nacionais. O desemprego e o aperto financeiro ainda são sentidos pelas parcelas majoritárias da população.
Reconheço que houve avanços, tanto no estancamento das sangrias generalizadas, quanto da saída da recessão.
Está, porém, à vista de todos à fragilidade do governo de transição, prisioneiro de formas muito antigas de fazer política.
Nesse sentido, a frustração vicejou entre os brasileiros e se expressou, perigosamente, no apoio sem rumo à greve/locaute dos caminhoneiros, agora progressivamente substituído pela reação às consequências do desabastecimento e da tentativa de golpe.
A seleção de Tite, caso obtenha vitórias no rumo da conquista da Copa da Rússia, pode mudar o humor nacional.
Precisamos, sim, de esperança. As eleições de 2018 estão aí, para que, das urnas, saia um governo democrático e reformista legitimado para dar seguimento à recuperação econômica, avançar no resgate à enorme dívida social e assegurar a democracia e a república.
Outubro de 2018 ainda dista longuíssimos 4 meses.
Nesse ínterim, as vitórias dos amarelos, verdes e azuis, que parecem bastante prováveis, poderão lavar nossa alma futebolista. Afinal, ainda somos o único pentacampeão mundial e seguimos sendo respeitados pelos adversários, por todos eles, em razão dos atletas de ponta que teimamos em produzir, em escala.
A seleção canarinha poderá também contribuir para a melhoria do humor nacional, para a recuperação da brasilidade, no sentido de que todos nos toleremos e nos respeitemos e tenhamos alguns valores em comum. Poderá ajudar no resgate à autoestima.
Afinal, continuamos a ser um dos maiores e mais promissores países do planeta, com um gente misturada que, só junta, poderá realizar o que é desejável seja nossa vocação enquanto país e povo.
Torço pela seleção brasileira, agora um pouco mais.
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Roberto Freire é presidente do PPS
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