É a cultura que nos mantém brasileiros
Chamam
de soft power. Poder suave. Macio. Agindo na maciota. Água mole em pedra dura.
Como
agora Caetano, no filme e na entrevista ao Bial. Mais que questionar
liberalismo, ele instiga a pensar quem somos, ao resgatar a fé num Brasil
criador, oriundo da miscigenação entre negros, índios e brancos pobres nos
arraiais. Provoca. Não reduz sua análise ao mito da democracia racial nem ao
que chamou de lado americanizado demais, que só vê estupro de senhor branco
contra escravizada. Desafia a celebrar nossa mestiçagem cultural. Reafirma o
alento que nossos músicos têm trazido nesta pandemia, a confirmar Pixinguinha,
Noel, Cartola, Caymmi, Tom e inventar futuros com o vigor da criação, apesar
dos que anunciam seu fim.
De
morte também anunciada, romances seguem a encantar leitores. Busquemos nas
livrarias que resistem. Mergulhemos nas fontes de Rosa, Graciliano, Clarice. E
na nova ficção que jorra vigorosa, com “A chave de casa”, “O tribunal da
quinta-feira”, “Um defeito de cor”, “Marrom e amarelo”, “O crime do Cais do
Valongo”. Tantos que nem cabem aqui.
Não
pedem o favor de ser lidos: impõem-se com a força do talento. São o Brasil.
Apesar da justiça anestesiada, da política corrompida, da mentirada geral e da
desfaçatez que campeia. E do crime organizado, cevado na impunidade disso tudo.
No país que admite o inadmissível, na cidade que se arrisca a reeleger o
inelegível.
É a cultura que nos mantém brasileiros. Teima em exigir uma atitude mais fraterna, uma defesa ambiental implacável diante da emergência climática, uma atenção firme na garantia da democracia. E a fé inabalável em nossos artistas e cientistas.
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