A indicação de Kassio Marques surpreendeu, todos esperavam alguém ‘terrivelmente evangélico’, como prometera o presidente Jair Bolsonaro
Indicado
para a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal (STF) com a aposentadoria do
ministro Celso de Mello, o desembargador federal Kassio Nunes Marques será
sabatinado hoje, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado (CCJ). A
presidente da comissão, senadora Simone Tebet (MDB-MT), pretende ler e
sustentar o parecer favorável do líder do MDB, Eduardo Braga (AM), que está
impossibilitado de fazê-lo por motivo de saúde. Com toda certeza, Marques
passará por algum constrangimento, quando nada, devido ao currículo
anabolizado, mas seu nome será aprovado pela maioria. A rejeição à sua
indicação está confinada aos senadores do grupo Muda Senado.
A
indicação de Kassio Marques surpreendeu, todos esperavam alguém “terrivelmente
evangélico”, como prometera o presidente Jair Bolsonaro. Entretanto, trata-se
de um magistrado do Piauí, católico, indicado pelo senador Ciro Nogueira (PI),
presidente do PP, o principal partido do Centrão. A tese de que foi resultado
de um acordo com os ministros do Supremo Dias Toffoli e Gilmar Mendes não
procede; ambos prefeririam que o nome escolhido fosse um magistrado com
passagem pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), cujos ministros Luís Felipe
Salomão, Humberto Martins e Luiz Otávio de Noronha eram cotados para vaga.
Um
almoço na casa de Toffoli, com a presença do presidente Jair Bolsonaro e seu
indicado, ao qual compareceu o ministro Gilmar Mendes, gerou a especulação de
que a indicação era fruto de um acordo com o Supremo, cujo objetivo seria
blindar o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) na Segunda Turma do
Supremo, no processo das rachadinhas da Assembleia Legislativa fluminense. O
evento gerou mal-estar na Corte e provocou reação do novo presidente do STF,
ministro Luiz Fux, que propôs e aprovou, por unanimidade, uma mudança
regimental que transferiu os julgamentos sobre inquéritos e processos criminais
para o plenário do Supremo, o que acabou com essas especulações.
Kassio
Marques chegou ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), com sede em
Brasília, na cota dos advogados, por indicação da então presidente Dilma
Rousseff. Não por acaso, agora, tem o apoio do presidente da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, que faz oposição a Bolsonaro, e
da bancada do PT no Senado. O senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), que preside a
Casa, trabalha ostensivamente para aprovação do nome de Kassio, sendo o
primeiro a comunicá-la aos ministros Dias Toffoli e Gilmar Mendes.
Pizzaria
A
propósito, o voto de Kassio Marques no Supremo pode ser decisivo para Alcolumbre
viabilizar sua reeleição no Senado. Seus movimentos junto ao Palácio do
Planalto e aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) miram esse objetivo.
Internamente, tem uma posição bastante consolidada, graças aos acordos de
bastidor que fez com as bancadas do MDB e do PT. Apesar de já ter maioria em
plenário para aprovar uma mudança regimental que viabilize sua reeleição,
Alcolumbre depende de uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que
considere a mudança um assunto interna corporis, ou seja, que deve ser decidido
pelo próprio Senado. A reeleição é considerada inconstitucional pelos senadores
que integram o grupo Muda Senado.
Por
essa razão da reeleição, o presidente do Senado tem evitado bolas divididas. É
o caso do escândalo envolvendo o senador Chico Rodrigues (DEM-RR), seu
correligionário, flagrado na semana passada com R$ 33 mil na cueca, durante uma
operação de busca e apreensão da Polícia Federal em sua residência. Alcolumbre
não deu um pio sobre o caso, que desgastou tremendamente o Senado, mas atuou
fortemente para que Chico Rodrigues se licenciasse do cargo. Com isso, evitou
que o plenário do Supremo Tribunal federal (STF) julgasse a liminar do ministro
Luís Roberto Barroso que afastou o parlamentar do cargo. Também trabalhou para
que o Conselho de Ética do Senado não se reunisse para apreciar o caso.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) e a Polícia Federal investigam um esquema de desvio de recursos públicos destinados ao combate ao novo coronavírus em Roraima, que chegaria a R$ 20 milhões em emendas parlamentares. Chico Rodrigues é suspeito de lavagem de dinheiro e está sendo acusado de tentar obstruir a ação da Justiça. Como se licenciou do cargo, o ministro Barroso suspendeu a liminar que havia determinado seu afastamento do Senado por 90 dias e solicitou ao presidente do Supremo, Luiz Fux, que retirasse o caso da pauta da sessão plenária de hoje.
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