Folha de S. Paulo
Governo avista abismo político e prepara
gambiarra com cara de programa social
Jair Bolsonaro dizia, em dezembro de 2020,
que o
país vivia "um finalzinho de pandemia", mas era também um
negacionista da crise econômica. À época, o presidente avisava que o auxílio
emergencial seria interrompido na virada do ano porque a prioridade do governo
era manter as contas públicas em equilíbrio.
O Planalto nunca deu muita bola para o
controle de gastos, como
mostram as despesas generosas com benefícios para caminhoneiros,
policiais e outros integrantes da base que apoia Bolsonaro. O presidente provou
também que não ligava para uma situação que se agravaria na população mais
pobre.
Para Bolsonaro, a emergência não é a fome de quem perdeu renda na pandemia. Ele só se mexeu nessa área ao ver seu futuro político ameaçado. Quando a popularidade do presidente despencou, no início do ano, o governo voltou a pagar o auxílio por alguns meses. Agora, improvisa um novo programa para recuperar fôlego na corrida pela reeleição.
O time de Bolsonaro arquiteta uma gambiarra
com cara de benefício social. O governo quer manter o valor fixo do Bolsa
Família em R$ 189, mas inventou um complemento temporário para levar
o pagamento a R$ 400 até o fim do mandato. Além da manobra, uma parte das
despesas deve ficar fora do teto que limita o crescimento de gastos públicos.
Bolsonaro atropelou as
restrições da equipe econômica porque avistou um abismo político com o
fim do auxílio emergencial, no fim de outubro. Na primeira interrupção, em
janeiro, a popularidade do presidente entre os mais pobres caiu de 37% para
27%. Desde então, mesmo com a retomada do pagamento em valores menores, esse
índice foi a 17%.
Durante o governo, o presidente tratou a
fome e a proteção social como degraus políticos. Afirmou que as restrições à
economia provocariam saques que nunca ocorreram, ameaçou cobrar de governadores
a conta do auxílio e chamou de idiota quem afirma que é preciso comprar feijão
em vez de fuzil. Não será diferente em 2022.
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