Folha de S. Paulo
É do interesse do país que presidente
busque equilibrar-se entre EUA e China, sem tomar partido muito claro de nenhum
Lula
fala demais e abusa do improviso. Ninguém sabe ao certo o que vai
acontecer com a economia mundial nos próximos meses e anos, mas, no que diz
respeito à geopolítica, o cenário é um pouco menos incerto. Pelos próximos
tempos e até onde a vista alcança, EUA e China disputarão
influência e mercados.
É um terreno bem favorável a países como o Brasil, que não se alinham automaticamente a nenhuma das duas potências e têm forte relacionamento econômico com ambas.
Pelo menos em teoria, Washington e Pequim
têm interesse em buscar a cooperação de Brasília, o que nos deixa numa posição
vantajosa para negociar acordos comerciais e firmar pactos políticos. Para
extrair o máximo dessa situação, precisamos sinalizar ao mesmo tempo
independência e confiabilidade, isto é, que podemos pender tanto para um lado
como para o outro, dependendo da questão, e que seremos sempre um parceiro
leal, mesmo nas situações em que haja discordâncias. Na prática, isso significa
que não podemos fazer juras de amor eterno nem atacar impiedosamente nenhuma
das partes.
É aí que Lula tem metido os pés pelas mãos.
Ele até que cumpriu honrosamente o protocolo em
seu tour pelos EUA, no início do ano, mas agora, em sua viagem à China,
desferiu uma série
de caneladas desnecessárias contra Washington, o dólar e até a pobre
da Ucrânia,
que sofreu uma invasão legal e moralmente injustificável. Esse tipo de arroubo
retórico não nos traz muitos ganhos diante dos chineses, mas pode nos fazer
perder bastante diante dos americanos.
Não vou dizer que não aprecie as falas
de improviso de Lula. Como o superego não é o forte do presidente, são
essas intervenções que nos permitem vislumbrar o que ele realmente pensa.
Acredito, porém, que, nas viagens internacionais, dado o potencial de dano para
o relacionamento com outras nações de frases e ideias mal colocadas, Lula
deveria ater-se a discursos escritos.
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