O Estado de S. Paulo
A indicação de Galípolo tende a dificultar a tarefa do BC na hora que a Selic poderia cair
A não ser que Gabriel Galípolo, braço
direito de Fernando Haddad no Ministério da Fazenda, renegue sua ligação
próxima com o presidente Lula e também tudo o que disse no passado em termos de
política econômica, a sua indicação para assumir a diretoria de Política
Monetária do Banco Central será um grande tiro no pé.
Na segunda-feira, quando seu nome foi
anunciado, o dólar subiu 1,37%, passando de R$ 5,00. Na curva de juros, houve
aumento no prêmio de risco nos contratos mais longos de DI, com o vencimento em
janeiro de 2029 saltando 14 pontos-base.
Diante da pressão insana de Lula para o BC cortar juros o quanto antes, é provável que a nomeação de Galípolo – mesmo que ele represente uma minoria entre os votos no Copom até o fim do ano – deva gerar muito ruído na comunicação da política monetária, que tem um peso importantíssimo na condução das expectativas de inflação e no movimento dos preços dos ativos, como o dólar e os juros futuros.
Se Galípolo não tivesse tanto peso político
e perfil técnico tão ligado a teorias comprovadamente fracassadas em termos de
política monetária, talvez o mercado até relevasse essa indicação. Mas ele é
muito próximo de Lula. O endosso do presidente da República gerou a especulação
de que Galípolo será o indicado a substituir o presidente do BC, Roberto Campos
Neto, quando seu mandato acabar, no fim de 2024.
Ele também é visto como discípulo de
economistas que fazem arrepiar o viés mais ortodoxo do mercado financeiro: Luiz
Gonzaga Belluzzo e André Lara Resende. O primeiro é um entusiasta da Nova
Matriz Econômica adotada pelo governo Dilma Rousseff. O segundo defende a Nova
Teoria Monetária. O corolário de ambas, na visão do mercado, é a tolerância
para maior inflação e política monetária frouxa.
Tudo o que Galípolo falar como diretor do
BC causará mais barulho no mercado. E um eventual voto dissidente dele no
Copom, a favor de um corte de juros, terá mais repercussão do que a decisão da
maioria. Ruídos na comunicação do BC provocam aumento em prêmios de risco e
afetam as projeções de inflação.
O nome de Galípolo é um termômetro de como
o BC será comandado quando Campos Neto deixar o cargo: leniente com a inflação.
Com isso, as expectativas inflacionárias para 2025 e 2026 devem subir. No
segundo semestre deste ano, quando se espera o início do corte de juros, o
horizonte relevante para a política monetária incluirá, em parte, o ano de
2025. A indicação de Galípolo tende a dificultar a tarefa do BC bem na hora que
a taxa Selic poderia começar a cair.
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