José Matheus Santos / Folha de S. Paulo
Governadora deixa PSDB após críticas ao
partido por oposição a Lula e diz que recebeu em nova sigla 'a acolhida
necessária'
A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra,
filiou-se ao PSD na
noite desta segunda-feira (10) no Recife. O evento de filiação contou com
participação de líderes do partido, como o presidente nacional da
legenda, Gilberto
Kassab.
Raquel Lyra deixa após nove anos o PSDB, que
está sob um processo de fragilização da força política nos últimos anos. A
chefe do Executivo pernambucano também busca se fortalecer para uma eventual
disputa em 2026 contra o prefeito do Recife, João Campos (PSB).
No evento, Raquel agradeceu ao "partido que me acolheu nos últimos nove anos" e disse que agora "é um novo momento" no PSD. "Encontrei no PSD a acolhida necessária para ajudar na construção do partido e no fortalecimento dele no Nordeste. É um novo começo."
Em discurso após a filiação, ela disse que é
preciso "um partido que fuja de polarizações e que contribua com o futuro
do nosso país". A governadora também atacou o prefeito do Recife, sem
citá-lo diretamente. "Não estamos aqui esquentando cadeira para quem acha
que é dono do poder. A mudança está só começando", disse.
Em pronunciamento, Kassab anunciou que a
governadora assumirá a presidência do partido em Pernambuco. O pai da
governadora, o ex-governador João Lyra Neto, também vai se filiar ao PSD,
deixando o PSDB.
"Está começando um período de entregas
para a população. Raquel, se reeleita governadora, no dia seguinte, Pernambuco
vai perceber que o Brasil vai começar a sonhar com a hipótese de Raquel ser
presidente da República", disse o chefe do PSD.
Raquel ingressou no PSDB em 2016, quando não
conseguiu aval do PSB, seu então partido, para ser candidata a prefeita de
Caruaru. Após receber abrigo tucano, venceu a disputa e foi reeleita em 2020.
Em 2022, se elegeu governadora sem coligação e após ter, no primeiro turno, o
menor tempo de propaganda dentre os cinco principais candidatos da disputa,
contrariando os prognósticos políticos.
Desde meados de 2023, ela recebeu sondagens
do PSD para uma filiação visando às eleições de 2026. O processo se consolidou
em fevereiro deste ano. O MDB também foi cogitado como destino, mas a
governadora optou pelo partido de Kassab.
Em entrevista
concedida à Folha em dezembro, ela havia afirmado que o PSDB
foi "ficando pequeno" ao longo do tempo e que isso mostrava "que
algo está errado".
Raquel também expôs divergências públicas em
relação à postura do PSDB de fazer oposição ao governo Lula. "O PSDB não
foi oposição ao governo Bolsonaro e se colocou, há cerca de um ano, como 'farol
da oposição' ao governo do presidente Lula, sem ter um
projeto que pudesse apontar para o que queremos adiante", disse, em
fevereiro, à TV Bandeirantes.
A migração para o PSD deixa a governadora
mais próxima do governo Lula, mas aliados do petista em Pernambuco são céticos
quanto a uma aproximação efetiva para 2026. Petistas locais avaliam que a
governadora não faz gestos políticos em direção ao presidente.
Em entrevista coletiva, a governadora disse
que já tem uma relação de proximidade com o governo federal e que sempre tem
contado "com a contribuição" da gestão de Lula.
"Institucionalmente, o governo tem nos acolhido desde o primeiro momento e
tem dado demonstrações claras de quer ajudar o nosso estado a recuperar o
protagonismo."
O PSD integra o governo Lula com três
ministros: André de Paula (Pesca), Alexandre Silveira (Minas e Energia) e
Carlos Fávaro (Agricultura). O partido também é aliado do governador de São
Paulo, Tarcísio
de Freitas (Republicanos), afilhado político do ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL). Kassab é secretário de Governo da gestão de Tarcísio.
Para tentar manter o controle do PSDB, Raquel
articulou a filiação da vice-governadora Priscila Krause, que deixou o
Cidadania, ao partido. Há um temor no entorno da governadora de que o comando
da sigla passe para o presidente da Assembleia Legislativa, Álvaro Porto, seu
desafeto político.
A governadora externou a interlocutores nos
últimos dias sua insatisfação com o ex-deputado federal Bruno Araújo, que
ficará responsável por definir o futuro do PSDB em Pernambuco. Para aliados de
Raquel, o ex-presidente nacional do PSDB teria preferência por Álvaro Porto.
Por enquanto, a sigla continua presidida no estado por Fred Loyo, empresário
próximo a Raquel.
Ainda segundo aliados, Kassab prometeu a
Raquel Lyra o teto do fundo eleitoral para a disputa de 2026 em Pernambuco.
Possível adversário da governadora, o prefeito João Campos se tornará
presidente nacional do PSB em maio.
Pesquisa Quaest divulgada em fevereiro mostra
que o governo Raquel Lyra é aprovado por 51% da população e reprovado por 44%.
Já nas intenções de voto, a governadora tem 28%, ante 56% de João Campos.
Dessa forma, a avaliação no governo é que o
principal desafio é a conversão da aprovação em votos. Para isso, a governadora
aposta na entrega de ações, principalmente no interior. A gestão estadual
também quer avançar as ações na região metropolitana do Recife, reduto de João
Campos e onde moram 42% dos eleitores do estado.
Em Pernambuco, desde 2024 Raquel tem tido
influência no PSD. Com articulação dela, o partido cresceu de 14 para 20
prefeitos eleitos em Pernambuco, atrás de PSDB (32), PSB (31), PP (24) e
Republicanos (22).
A tendência é que a maioria dos prefeitos do PSDB siga aliado a Raquel, independentemente dos rumos do partido no estado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário