domingo, 27 de abril de 2025

Collor, Lula e ‘politiquices’ – Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Collor apavora Lula com o fantasma do petrolão e Bolsonaro, com o risco de prisão

A prisão de Fernando Collor joga luzes sobre a corrupção crônica no Brasil e traz de volta o fantasma do petrolão e da Lava Jato que assombra o presidente Lula, derrotado por ele em 1989. Já presidente, anos depois, Lula desprezou as acusações contra Collor como “politiquices”, disse que ele faria um “mandato extraordinário” ao voltar à cena política como senador e... o premiou com duas diretorias da BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras, epicentro do maior escândalo de corrupção da história brasileira.

Essas diretorias, a de Operações e a de Postos de Serviço da BR, viraram um balcão de negócios que, segundo a PF e a ação contra Collor no Supremo, lhe renderam R$ 20 milhões em propinas. Até hoje, é incompreensível que o petista Lula tenha dado esse presentão para um ex-presidente cassado por corrupção, senador inexpressivo e adversário que jogou sujo contra ele. No petrolão, sempre cabia mais um.

Filho de político (que matou um colega no Senado), Collor foi prefeito de Maceió, governador de Alagoas e venceu a primeira eleição direta após a ditadura militar com a fantasia de “caçador de marajás”, quando ele próprio era o marajá, que na juventude ostentava mulheres, carrões e petulância por Brasília. O passado alerta: desconfiem de “salvadores da Pátria” que se dizem antipolíticos sendo políticos.

Collor sofreu impeachment, mas foi absolvido pelo STF anos depois, virou senador, aproximou-se de Lula, deu-se muito bem na BR e voltou às manchetes em 2015, embolado com o PT na Lava Jato. Na sua “Casa da Dinda”, em Brasília, a PF encontrou uma Lamborghini, uma Ferrari e um Porsche. Não é para qualquer um...

É triste, desanimador e também irritante que os dois adversários do segundo turno da primeira eleição direta pós-1964 tenham se aliado no petrolão. A diferença é que Lula foi julgado e condenado, inicialmente, pela primeira instância de Curitiba, mas o processo de Collor correu no Supremo.

Numa reviravolta histórica, o mesmo STF que havia ratificado a prisão de Lula pelo triplex do Guarujá concluiu que Curitiba não era o foro adequado, devolveu as causas à estaca zero e abriu caminho para o terceiro mandato e o desmanche da Lava Jato. Enquanto isso, Collor navegava de recurso em recurso até a última quinta-feira, quando Alexandre de Moraes mandou prendê-lo.

Assim como traz de volta o fantasma do petrolão assombrando Lula, a prisão de Collor aumenta o pavor de Jair Bolsonaro de parar na cadeia. Collor remete ao passado, assombra o presente, projeta o futuro e diz muito sobre o Brasil. Por falar nisso, quem mandou matar PC Farias, o “operador” de Collor?

 

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