• Dilma conseguiu negociar com os principais partidos da base na bacia das almas. A Operação Lava-Jato pôs de joelhos os caciques das legendas aliadas
Correio Braziliense
A presidente Dilma Rousseff, após um almoço com aliados no Palácio da Alvorada, ontem, acelerou a formação dos ministérios, que terão forte presença de políticos do baixo clero da base aliada. A maior surpresa foi a indicação de Jaques Wagner (PT), governador da Bahia, a principal estrela política da nova equipe, para o Ministério da Defesa no lugar do embaixador Celso Amorim.
Cotado para o Ministério das Comunicações e para as Relações Institucionais, Wagner foi consultado sobre essa possibilidade por Dilma. Para surpresa dos aliados na Bahia, que pleiteavam o Ministério da Integração Nacional, ele preferiu o comando das Forças Armadas, cargo que nunca fora ocupado por um petista.
Além da Defesa, o PT deve ocupar o Ministério das Comunicações, que será chefiado pelo deputado Ricardo Berzoini. O petista poderá ganhar o controle das verbas de publicidade do governo, esvaziando a poderosa Secretaria de Comunicação Social, que passaria a funcionar apenas como assessoria de imprensa. A cúpula do PT não abriu mão da pasta, considerada estratégica para neutralizar os grandes meios de comunicação do país.
Outro petista a ocupar uma posição-chave no governo será o deputado Pepe Vargas (RS), que está em vias de ser confirmado na Secretaria de Relações Institucionais, no lugar de Berzoini. Ele foi ministro do Desenvolvimento Agrário no primeiro mandato de Dilma e faz parte do grupo de gaúchos da confiança dela.
Também surpreendeu o deslocamento de última hora do ministro do Esporte, Aldo Rebelo (PCdoB), para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, que não é área de especialidade dele. Seu atual secretário executivo, Luís Fernandes, cientista político e professor da PUC-RJ e da UFRJ, velho companheiro desde os tempos da UNE, porém, já ocupou esse cargo no MCT e deve acompanhá-lo.
Com apenas 10 deputados e internamente dividido — uma ala da legenda queria a deputada Luciana Santos (PCdoB-PE), ex-prefeita de Olinda, no Ministério da Cultura —, Aldo acabou enfraquecido para permanecer no posto atual, disputado por partidos maiores por causa das Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. O Esporte acabou no colo do deputado George Hilton (MG), do PRB.
De joelhos
A negociação com o PMDB foi praticamente fechada. O pomo da discórdia era a indicação do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), para o Ministério da Previdência. Citado na delação premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da Costa, Alves jogou a toalha no almoço de ontem e pediu para sair da lista de indicações da legenda. O PMDB, porém, ficará com seis ministérios.
Kátia Abreu na Agricultura foi uma escolha pessoal da presidente Dilma Rousseff que o PMDB do Senado assumiu como parte de sua cota. O líder do governo no Senado, Eduardo Braga, vai para Minas e Energia. Era uma espécie de reserva de mercado do ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), que encerrou a carreira política. O atual ministro, Edison Lobão (PMDB-MA), foi fulminado pela Operação Lava-Jato. A Secretaria de Portos será destinada ao deputado Edinho Araújo (PMDB-SP) como compensação pela perda do Ministério da Previdência.
Eliseu Padilha assumirá a Secretaria de Aviação Civil, no lugar de Moreira Franco, ambos aliados do vice-presidente Michel Temer. Helder Barbalho, filho do senador Jader barbalho (PMDB-PA), assumirá o Ministério da Pesca. Vinicius Lages, indicado por Renan Calheiros, continua no Ministério do Turismo, com o compromisso de ceder a vaga para Henrique Alves, caso nada seja com provado contra ele na Operação Lava-Jato.
O ex-governador Cid Gomes, depois de muito relutar, aceitou a pasta da Educação, para a qual tentou emplacar o irmão, Ciro Gomes, ambos do Pros. Como estava previsto, o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD) aceitou ir para o Ministério das Cidades. Aguinaldo Ribeiro, que ocupava o posto, será o representante do PP na Integração. O suplente da senadora Marta Suplicy (PT-SP), Antônio Carlos Rodrigues, do PR, deve ser convidado para o Ministério dos Transportes.
Dilma conseguiu negociar com os principais partidos da base na bacia das almas. A Operação Lava-Jato pôs de joelhos os caciques das legendas aliadas. Mesmo com a constrangedora resposta do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de que não daria informações sobre o envolvimento de políticos no escândalo. O simples fato de a presidente da República ter afirmado publicamente que consultaria o Ministério Público sobre a situação dos aliados deixou os aliados na retranca.
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