- Folha de S. Paulo
Com a campanha nas ruas, começa a temporada de maquiagem nos candidatos
O Photoshop burlesco no retrato oficial da chapa do PDT ao Palácio do Planalto, com a senadora Kátia Abreu —candidata a vice de CiroGomes— excessivamente retocada, não é evento isolado na campanha que ganha as ruas. Sete quilos mais magra, a parlamentar reconheceu o exagero imagético, mas surfou na repercussão da fotografia.
A marquetagem transforma candidatos e (re)cria caricaturas.
Em sua terceira campanha presidencial, Marina Silva cercou-se de magos que agora se preocupam com sua aparência franzina. O tônus muscular se impõe à biografia, e a seringueira contaminada por mercúrio precisa mudar suas roupas e ganhar volume físico. Recebe consultoria de imagem para a transmutação à base de pantalonas e cores mais vibrantes, sem resvalar em marcas “fast fashion”.
“Photoshopar” a língua de Ciro, o verborrágico, e conter seu ímpeto machista são meios de suavizar a estampa do candidato. Na visão dos marqueteiros, a estridência do discurso do pedetista rouba-lhe eleitorado. A camisa de força ora funciona —em entrevistas se diz mais “maduro e sereno”. Ora nem tanto. Ao jornal O Globo, afirmou: “O futuro presidente do Brasil não tem que mostrar temperamento de lesma, de ameba”.
O candidato do PSL, Jair Bolsonaro, modula diariamente a retórica agressiva, acusada de racista, misógina e homofóbica, para reduzir seus índices de rejeição —32%, segundo a última pesquisa Datafolha. Com o intuito de conquistar a confiança do mercado e do empresariado, por exemplo, o capitão reformado adaptou seu pensamento econômico de ultradireita, com forte defesa do Estado intervencionista, a uma versão liberal e privatista.
Nada do que se vê, por ora, é comparável à maquiagem aplicada por João Santana ao Brasil de 2014, comandado por Dilma Rousseff. No raiar da pior recessão das últimas décadas, o marqueteiro vendia a fantasia petista de um país grandioso, com uma presidente-candidata que sorria ao preparar macarronadas.
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