- Folha de S. Paulo
No coração de parte da população, seu governo acabou
Jair Bolsonaro tem um longo mandato, mas no coração de parte da população seu governo acabou, como sentenciou o haitiano em frente ao Palácio da Alvorada. O presidente, que disse que a pandemia de coronavírus era "fantasia", talvez deva se preocupar com outra epidemia mais contagiosa, o de gente insatisfeita, que começa a gritar de suas janelas que "acabou".
Acabou, Bolsonaro. Políticos e personalidades já dão as costas ao governo. A última foi Janaína Paschoal, autora do pedido de impeachment de Dilma e quase vice da chapa Bolsonaro. Da tribuna da Assembleia paulista, a deputada disse ter se arrependido do voto e defendeu que o presidente seja afastado.
Acabou, Bolsonaro. Ídolo máximo do presidente, Donald Trump recuou, admitiu que a crise de saúde pode durar meses, anunciou ajuda financeira aos americanos e seu atual discurso é o de que previu que o coronavírus seria uma pandemia, deixando Bolsonaro isolado na retórica negacionista.
Acabou, Bolsonaro. Os presidentes da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal parecem cada vez mais unidos para combater as aspirações golpistas de Jair. Juntar-se a manifestações que pediam o fechamento dos Poderes e AI-5 e depois dizer que valoriza as instituições não cola mais.
Acabou, Bolsonaro. Até o empresário Luciano Hang, bolsonarista apaixonado, cansou de bater palma para maluco. Recomendou que o presidente não fosse à manifestação e cobrou "serenidade".
Acabou, Bolsonaro. O tiozão do pavê e a tia do zap já demonstram incômodo frente ao desempenho do governo, às irresponsabilidades do presidente, à quantidade de tretas desnecessárias e de piadas sem graça até para os padrões pavê e zap.
O governo vai até o final de 2022, mas a gritaria que vem das janelas é altamente contagiosa e pode tomar as ruas. Anote aí, Bolsonaro: acabou. Mesmo que seja só o sossego.
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