Folha de S. Paulo
Ala do governo defende deixar de fora itens
que possam contaminar pacote levado a Lula e ao Congresso
A equipe econômica começou a estabelecer os
limites da proposta de corte de gastos que será apresentada nas próximas
semanas. A fase atual é uma espécie de ajuste do ajuste. O objetivo é manter as
estimativas de redução de despesas, mas descartar pontos considerados
impopulares demais e que poderiam contaminar politicamente o pacote.
Um dos alvos principais da discussão é o tamanho da mudança que deve ser proposta para o BPC (Benefício de Prestação Continuada). Uma ala do governo envolvida na elaboração das medidas prefere deixar dois pontos fora do plano: o aumento da idade mínima de acesso ao benefício e o fim da correção dos pagamentos pelo salário mínimo.
O grupo avalia que esses itens nem deveriam
ser levados à mesa de Lula.
Ainda que todos saibam que o presidente tem o poder de dar a palavra final
sobre cada tópico, alguns auxiliares entendem que a simples ideia de um ajuste
mais duro no benefício pago a idosos e pessoas com deficiência muito pobres
poderia tornar todo o
pacote menos palatável.
A mexida, caso essa avaliação prevaleça,
teria outro foco: deixar mais nítidos os conceitos de vulnerabilidade que
determinam o acesso ao BPC, corrigindo o que o ministro Fernando
Haddad chama de distorções, provocadas
pela judicialização e pela concessão do benefício a quem não
precisa.
O resultado das conversas indicará as
escolhas políticas que a equipe econômica deve fazer para enfrentar o desafio
do ajuste. Lula seria o primeiro filtro. Embora concorde com a ideia geral de
uma revisão de gastos, o presidente faz questão de manifestar sua oposição a
um corte amargo
para a população de baixa renda.
A calibragem do BPC e a limitação de
supersalários do setor público seriam movimentos táticos em
busca de um certo equilíbrio. A mesma lógica é direcionada a deputados e
senadores que precisam ser convencidos a aprovar as medidas da equipe econômica
e, em dois anos, disputar eleições para manter suas cadeiras.
Uma possível decisão antecipada de cortar
gordura do pacote carrega um certo risco. Se a proposta final tiver poucos
excessos, o governo terá uma margem menor para negociar o texto com o
presidente e os parlamentares.
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