terça-feira, 11 de novembro de 2025

Muitas divergências, poucas convergências, por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Além do tarifaço, as pautas prioritárias do Brasil opõem os presidentes Lula e Trump

A semana embola as grandes polêmicas que opõem Brasil e Estados Unidos e obrigam o presidente Lula a se equilibrar entre suas visões de mundo e as de Trump, em favor dos reais interesses brasileiros: os ataques ilegais dos EUA a embarcações venezuelanas, com mais de 70 mortos, classificar organizações criminosas como terroristas, abrindo o flanco para intervenção americana, e, durante a COP-30, meio ambiente, sustentabilidade e financiamento de florestas tropicais. O tarifaço paira sobre tudo isso.

Na escapulida de Belém, onde continua a COP, para Santa Marta, na Colômbia, onde se reuniram Celac (América Latina e Caribe) e UE (Europa), Lula enfrentou a tripla pauta, digamos, antiamericana, e criticou o “uso da força militar”, as “manobras retóricas” e “as intervenções ilegais” na nossa região, para pedir paz e dar um recado claramente endereçado aos EUA e a Trump: “Democracias não combatem o crime violando o direito internacional”.

Afora a afirmação de que “somos uma região de paz” – que vale para as relações externas, não para o cotidiano dos países –, a crítica de Lula era obrigatória e foi objetivamente correta. A questão é que

Trump está de olhos e ouvidos atentos e reagiu no mesmo dia.

Segundo Trump, “eles devastaram a Floresta Amazônica do Brasil para construir uma rodovia para ambientalistas. Um grande escândalo!”. Ele não veio nem mandou delegação para a COP, defende estradas tanto quanto petróleo e não está nem aí para florestas.

Logo, não foi um arroubo preservacionista, foi um contraataque. E o tarifaço, como fica?

Outra batalha é com o presidente da Câmara, Hugo Motta, que botou as garras de fora ao indicar Guilherme Derrite para relatar o projeto Antifacção do governo. Além de ser o mais radical na área, aplaudido pela direita e próximo das posições de Trump, Derrite é secretário de Segurança de Tarcísio de Freitas, maior adversário de Lula em 2026.

No centro do triângulo Lula, Motta e Derrite, está a proposta da oposição de classificar PCC e CV como terroristas, o que os EUA e Trump defendem há tempos e pode acarretar sérias consequências para o Brasil, inclusive como pretexto para ingerência externa. Trump adoraria.

E a COP entra na fase de números, metas e cronogramas. Lula empurra o Fundo das Florestas para o centro do debate, mas a polêmica tão quente quanto Belém é sobre o fim dos combustíveis fósseis. Os pragmáticos dizem que é um falso debate. Não é nada falsa, porém, a guerra entre ambientalistas e os pró-petróleo a qualquer custo. Nesse ponto, Lula é contra Trump na retórica. Talvez não tanto na prática. 

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