Folha de S. Paulo
O mero bloqueio das exportações de petróleo
degrada ainda mais situação social crítica
Brasil pode ter de lidar com mais refugiados
e com ameaça dos EUA de ocupar quintal
Donald Trump levou
frota enorme para o Caribe. Junta aviões em Porto Rico e tropas na região.
Alguma guerra deve levar para a Venezuela,
como se escrevia nestas
colunas em 15 de novembro. Tendo feito tamanha ameaça, estará
derrotado se não impuser dano sério a Nicolás
Maduro. De outro modo, seria considerado um tigre de papel, para
lembrar a expressão maoísta.
Até agora, Trump declarou bloqueio aéreo meio
da boca para fora. Capturou um petroleiro; fez um navio russo dar meia volta.
Segundo os venezuelanos, os americanos estariam fazendo ataques cibernéticos.
Mais grave, Trump declarou bloqueio naval, em tese limitado a petroleiros que
estejam em listas de sanções do "Ocidente".
Ainda não é guerra. Também ainda não se entende como os EUA vão definir suas ações militares ou quais são os objetivos que definiriam uma vitória. Nos últimos dias, a direita mais extrema do governo Trump têm dito que a Venezuela deve devolver ativos americanos expropriados, de petróleo em particular.
Analistas de institutos de estudos militares
dizem que os EUA não prepararam tropas para uma invasão —nem mesmo Trump
tenderia a se aventurar em pântano desses, o que de resto revoltaria suas bases
políticas. Há hipóteses de ataques limitados a bases de traficantes e a
instalações militares, de preferência da Guarda Bolivariana (para preservar
possíveis aliados nas Forças Armadas em caso de queda do chavismo). Podem ser
ataques aéreos ou operações de forças especiais.
Segundo relatório de dezembro da
Transparência Venezuela, no exílio, cerca de 40% dos navios que transportam
combustíveis venezuelanos são "sancionados", operam sem sinais de
identificação de navegação ou são clandestinos de outra maneira. Se a Venezuela
não puder contar com a venda de quase metade do seu petróleo, estaria em
"economia de guerra", mesmo sem guerra, em país já falido e famélico.
Além do mais, a produção está perto de ser limitada, pois falta espaço para estocar
o que não será exportado.
Desde 2015, entraram no Brasil cerca de 732
mil venezuelanos, segundo a Plataforma de Coordenação Interagências para
Refugiados e Migrantes (R4V), coordenação de duas centenas de agências
(da ONU,
entidades religiosas, ONGs etc.). Segundo o Observatório das Migrações
Internacionais, parceria da Universidade de Brasília com o Ministério da
Justiça, havia quase 493 mil "registros de migrantes"
venezuelanos em outubro. Dado mais antigo, mas significativo, o Censo de 2010
registrara 2,9 mil venezuelanos no Brasil; no Censo de 2022, eram mais de 217
mil, 27% dos estrangeiros. Por mês, ainda chegam 8 mil venezuelanos. O risco de
nova emergência humanitária é óbvio. Não apenas.
O Brasil tenta arrumar as relações com os EUA
de modo a evitar novas agressões, como as estimuladas pelos Bolsonaro. Outras
ameaças podem surgir. Venezuela e, em menor grau, Colômbia serão
exemplos do que pode acontecer a quem não se comporta no "quintal".
O Brasil pode se colocar logo como mediador.
Mas, quando tentou ajudar, em 2024, foi espezinhado do modo tosco, louco e
bruto típico do chavismo. Luiz Inácio Lula da
Silva foi chamado de "agente da CIA". Por duas décadas, o PT bajulou o
chavismo. Quando o caldo engrossou, o governo petista não tinha política para
lidar com aquela psicopatia política. Vai ter de inventar uma, correndo, até
para se proteger do psicopata norte-americano.
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