Valéria de Oliveira
As centrais sindicais estão mais preocupadas em apoiar o governo do que em defender os trabalhadores, disse o deputado Roberto Freire (SP), presidente nacional do PPS, ao analisar as condições de trabalho nas obras das usinas de Jirau e Santo Antônio, ambas no rio Madeira, em Rondônia, que levaram os operários a promover levantes inicialmente por causa de maus tratos por parte dos seguranças.
Freire afirmou que, “voltamos ao tempo do cambão, dos senhores de engenho, quando os trabalhadores ficavam reféns de dívidas de barracão”, referindo-se ao vínculo dos operários com empresas que montaram comércio nos acampamentos.
Omissão das centrais
Na avaliação do deputado, “é um escândalo que obras tão importantes para o país tenham condições de trabalho como as desses acampamentos”. É indigno de um país como o Brasil, acrescenta. “Só poderia partir de um governo que desrespeita completamente todos os direitos, com a complacência e a omissão das centrais sindicais brasileiras, todas elas mais preocupadas em apoiar governo do que em defender trabalhadores”.
A situação dos trabalhadores das usinas do Madeira, na avaliação de Freire, está precária porque o governo menospreza a lei. “Está entranhado no governo o desrespeito às leis trabalhistas quando lhe interessa, porque é obra do PAC, obra dos empreiteiros a eles (partidos do governo) vinculados, que são os senhores de baraço e cutelo nos acampamentos”.
Trabalho escravo
Essas semelhanças com trabalho escravo, diz Freire, são inaceitáveis, ainda mais em obras do governo. É um “escárnio” que tal situação ocorra em pleno século XXI, em uma obra de um governo federal, cujo partido se diz dos trabalhadores e que surgiu no movimento sindical. “Pergunta-se: para que ter Ministério do Trabalho, Delegacia do Trabalho e centrais sindicais, se a espoliação da mão-de-obra da classe operária no Brasil tem episódios como esses como exemplo; a que ponto chegamos!”.
Os operários estão expostos, ainda, a acidentes de trabalho que, muitas vezes, terminam em morte. Em Jirau, já morreram três operários, uma por choque elétrico, outro por esmagamento em um britador e um terceiro por acidente numa grua. O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, Safady Simão, disse ao jornal O Estado de São Paulo que “o alto número de mortes é verdadeiro. Estamos intensificando os trabalhos e a atenção. As obras estão em um ritmo muito acelerado e as companhias não vêm treinando (pessoal), porque não há tempo para isso".
A taxa de mortalidade em obras do PAC está um pouco abaixo dos 19,79% por cem mil. Perde somente para o volume observado na construção civil, que é de 23,8% por cem mil trabalhadores. Os números de mortes em acidentes de trabalho fez com que o consultor para segurança e saúde da OIT (Organização Internacional do Trabalho), o médico Zaher Handar considerasse o índice altíssimo. É o dobro da registrada em outros setores da economia, 9,49% por cem mil, segundo O Estado de São Paulo.
FONTE: PORTAL DO PPS
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