Campanhas
de vacinação são nacionais, mas vá dizer isso aos moradores de São Paulo
O
país se aproxima de um momento delicado e com expectativas contraditórias. De
um lado, a pandemia está em clara aceleração, e isso pode piorar com as
aglomerações de Natal e fim de ano. De outro, há a esperança da vacina, a
solução universal.
Essa
situação se repete em diversos outros países, especialmente na Europa e nos
Estados Unidos. E dificulta a tomada de decisões políticas e econômicas.
A
segunda onda exige medidas restritivas — isolamento social — que alguns
governos estão aplicando. Essas medidas, porém, são politicamente delicadas,
neste momento que deveria ser de confraternização, e atrasam a recuperação
econômica.
Por isso, bancos centrais pelo mundo afora e instituições como o FMI alertam os governos: que tenham cuidado na retirada dos estímulos monetários e fiscais. Tradução: que mantenham os juros a zero e, na medida do possível, mantenham os pacotes de apoio às empresas e pessoas, isso incluindo gastos públicos.
A
ideia é manter a sociedade organizada e funcionando enquanto se aplica a
vacinação. Faz sentido, não é mesmo?
Como
isso está no Brasil?
O
Banco Central está fazendo sua parte: juros no chão, zero. Já o governo federal
não é confiável.
No
nosso caso, o principal estímulo é o auxílio emergencial, que tem data marcada
para terminar, no final deste mês. É óbvio que, em janeiro, nem a pandemia
estará controlada, nem a economia estará funcionando bem. Nem em janeiro, nem
nos meses seguintes.
E
também, pelo jeito, não teremos tão já a vacinação em massa.
O
presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que é mais barato e
mais eficiente investir na vacina do que no auxílio emergencial.
Verdade.
Ocorre
que só o governador João Dória investiu efetivamente na vacina. Outros governos
pelo mundo afora se movimentam há meses para pegar um bom lugar na fila das
vacinas. O presidente Bolsonaro não apenas despreza a vacina — ao dizer que não
vai tomá-la. Seu ministro da Saúde simplesmente não sabe o que está fazendo.
Ora uma vacina não serve, ora serve, não vai comprar a vacina do Doria, depois
ameaça confiscar.
Isso
nos deixa num dilema. Se sua eficácia for aprovada, a CoronaVac pode ser
aplicada numa parte pequena da população. Doria diz que vai começar a aplicação
por São Paulo e distribuir doses (que sobrarem) para outros estados e
prefeituras. O ministro da Saúde diz que só o SUS pode vacinar — mas o SUS não
tem as vacinas.
É
verdade que campanhas de vacinação são nacionais, mas vá dizer isso aos
moradores de São Paulo. Se o governo paulista e seu renomado Instituto Butantan
alcançarem a vacina, registrada e aprovada, quem convencerá a sociedade
paulista de que deve entregar tudo a um governo federal sabidamente
ineficiente?
Por
isso, a Anvisa, controlada por Bolsonaro, pode tentar atrasar a liberação da
CoronaVac, o que será um escândalo mundial. As pessoas morrendo aos milhares, e
a agência segura a vacina?
Ou
seja, o Supremo Tribunal Federal que se prepare, Suas Excelências fariam bem se
cancelassem férias.
De
outro lado, com as contas públicas destruídas e com a necessidade de começar a
colocá-las em ordem, o problema que se apresenta, lembrando o comentário do
presidente do BC, é dramático: não temos vacina em escala nacional, nem o
governo tem o dinheiro para manter o auxílio emergencial.
Claro
que a culpa não é só de Bolsonaro. O estrago nas contas públicas foi
cuidadosamente aplicado pelos governos do PT, especialmente o Lula 2 e Dilma 1
e 2.
Mas
também está evidente que o governo Bolsonaro foi desastroso na questão da
pandemia, pouco produtivo na política econômica e simplesmente trapaceiro ao
demitir Moro e abandonar o programa de campanha de combate à corrupção e à
velha política. Não apenas abandonou, como se juntou à turma da corrupção. E,
mais ainda, promoveu o aparelhamento do Estado para proteger os malfeitos de
sua família.
A realidade social e política sempre se impõe. Ou seja, o governo federal vai correr atrás da vacina, vai acabar vacinando, mas no fim da fila mundial. Ou seja, a sociedade, as instituições têm que colocar mais pressão, pois a situação já seria difícil de ser conduzida por boas lideranças. Com a turma de Bolsonaro, então...
Nenhum comentário:
Postar um comentário