Folha de S. Paulo
O escândalo da Covaxin está dentro do
Palácio do Planalto, Bolsonaro sabe e isso explica seu descontrole
A veloz evolução dos acontecimentos na CPI
da Covid abalou os nervos do contaminador-geral da República. Suas explosões
perante repórteres são o que lhe restam diante dos questionamentos sobre o que
já pode ser chamado de escândalo da Covaxin ou o “vacinagate” de Bolsonaro.
O fio da meada foi puxado por esta Folha, que revelou o depoimento do servidor do Ministério da Saúde Luís Ricardo Miranda ao Ministério Público Federal, sobre pressões para compra da Covaxin, do laboratório indiano Bharat Biotech. As tratativas ocorreram na gestão catastrófica do general Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde e envolvem dirigentes da pasta indicados por ele. O irmão do servidor, deputado Luís Miranda (DEM-DF), disse que alertou Bolsonaro sobre o caso suspeito.
Neste enredo, tudo cheira mal: a rapidez da
negociação, o preço da vacina, as condições do contrato, a triangulação de
empresas e os personagens da trama. O dono das empresas envolvidas, Francisco
Maximiano, tem antecedente de negócios nebulosos com o Ministério da Saúde, na
época em que o titular da pasta era Ricardo Barros, no governo Michel Temer. O
mesmo Ricardo Barros (PP-PR), agora líder do governo na Câmara, foi autor de
uma alteração na medida provisória que facilitou o contrato com as empresas de
Maximiano.
Sabe-se agora também, conforme a revista
Veja, que o senador e filho 01, Flávio Bolsonaro, franqueou a Maximiano o
acesso ao gabinete do presidente do BNDES, Gustavo Montezano, para tratar de
outros negócios. O “vacinagate” está dentro do Palácio do Planalto. Bolsonaro
sabe disso, daí seu descontrole.
Ficou famoso o conselho de Mark Felt, fonte dos repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein, do jornal The Washington Post, na cobertura do caso Watergate: “Follow the money (siga o dinheiro)”. A orientação foi certeira. Como se sabe, o escândalo levou à renúncia do presidente Richard Nixon.
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