Folha de S. Paulo
Presidente opera nessa frequência para
conseguir dividendos políticos sem muito trabalho
Quando caminhoneiros ameaçavam bloquear
estradas em protesto contra a disparada do preço do diesel, em 2018, Jair
Bolsonaro assumiu
o papel de padrinho político do movimento. Então pré-candidato ao Palácio
do Planalto, ele disse que só uma paralisação poderia "forçar o presidente
da República" a dar uma resposta aos motoristas.
Bolsonaro enxerga as questões econômicas pela lente do caos e das soluções mágicas. Naquela época, ele incentivou um ato que provocaria desabastecimento, acreditando que o governo seria obrigado a baixar o preço dos combustíveis numa canetada. Depois de chegar ao poder, o presidente mostrou que não tem outra doutrina para encarar os problemas que surgem pela frente.
O diesel voltou a incomodar os
caminhoneiros, e Bolsonaro recorreu mais uma vez ao tumulto. Primeiro, inventou
uma briga com governadores pelos impostos cobrados sobre o combustível. Depois,
ameaçou intervir na Petrobras, defendeu
privatizar a companhia e, no fim, voltou atrás. Para completar, prometeu
aos motoristas um subsídio que o governo ainda não tem como pagar.
O presidente também apostou no caos quando
a fome deu as caras, no início da pandemia. Bolsonaro disse que as medidas de
distanciamento levariam a saques em supermercados e divulgou um vídeo
falso de desabastecimento numa central de distribuição de alimentos.
Uma baderna generalizada durante a crise
era o sonho de um presidente que anseia por manobras autoritárias no lugar de
planos para atenuar a miséria da população. Bolsonaro, afinal, sempre tratou
programas sociais como medidas eleitoreiras e só decidiu recorrer a elas quando
sua própria reeleição entrou em perigo.
O programa econômico e social do governo
não é uma bagunça por acaso. Bolsonaro opera nessa frequência porque percebeu
que consegue extrair dividendos políticos sem muito trabalho. Não há como
esperar resultados diferentes –com ou sem uma versão improvisada do Bolsa
Família, com ou sem Paulo Guedes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário