Correio Braziliense / Estado de Minas
De agosto de 2020 a junho deste
ano, registramos os maiores índices de desmatamento. São Paulo, Goiás, Minas
Gerais e Mato Grosso registraram mudanças impressionantes
Houve uma mudança muito significativa na
conjuntura política. Em primeiro lugar, a ameaça de um golpe de Estado, que
deixou o país à beira de um ataque de nervos, desapareceu do horizonte próximo
após o 7 de Setembro. Não houve a adesão militar contra o Supremo Tribunal
Federal (STF) que o presidente Jair Bolsonaro esperava, as reações das
instituições políticas e da sociedade esvaziaram a mobilização golpista. Desde
então, o eixo da vida política nacional se deslocou da crise sanitária, cuja
crônica política e criminal está no relatório da Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) do Senado sobre a pandemia da covid-19, para a crise da nossa
economia, tendo por pano de fundo a antecipação da disputa eleitoral de 2022.
Especialistas em planejamento sabem que um erro de conceito pode ser fatal. Muitas vezes, o erro decorre de um falso diagnóstico; outras, de um conceito errado. A tempestade perfeita pode ser fabricada quando as duas coisas coincidem com uma concepção equivocada, por exemplo, o negativismo em relação à ciência. No caso da pandemia, o erro de diagnóstico foi considerar a covid-19 uma “gripezinha”; o de conceito, apostar na “imunização de rebanho” para manter a economia aquecida. Com isso, buscou-se toda sorte de atalhos para evitar a recessão, que passou a ser o objetivo do governo, em vez de salvar a vida das pessoas. A cloroquina entra nessa história como uma poção mágica. Havia outra solução simples para um problema tão complexo (acreditem, elas também existem) — a vacinação em massa.
Vejam bem, não estamos falando que a
produção da vacina não é simples. Sua fabricação é um processo complexo, mas a
pesquisa científica intensa resolveu o problema em pouco mais de um ano após a
identificação do vírus e seu sequenciamento genético. Estamos falando do
conceito — a imunização em massa — já consagrado mundialmente pelas autoridades
sanitárias. A erradicação da poliomielite, que foi a doença infantil mais
devastadora do século passado, é um excelente exemplo. A pólio era misteriosa e
se expandia no verão, com causas desconhecidas. Nos Estados Unidos, a
ignorância levou as pessoas a pôr a culpa nos sorvetes; e o preconceito, nos
negros pobres e nos imigrantes, principalmente asiáticos.
Mesmo adultos corriam grande risco. O
presidente Franklin Delano Roosevelt foi para a cadeira de rodas aos 39 anos,
quando contraiu a doença. Cada surto de pólio deflagrava uma quarentena, como
acontece agora com a covid-19. Em 2016, em Nova York, houve 8.990 casos, com
2.400 óbitos; em 1952, 57 mil casos, 3 mil mortes e 21 mil crianças com
paralisia permanente. Um paciente com pólio no hospital custava US$ 900, quando
o salário médio era de R$ 875.
Sem a vacina criada por Jonas Salk e Albert
Sabin, estima-se que os Estados Unidos teriam 250 mil pessoas com paralisia, a
um custo de US$ 30 bilhões. Não temos projeções de quanto já estamos
economizando com a vacinação em massa da população, mas estima-se que o custo
da pandemia no Brasil chegue a R$ 700 bilhões, cerca de 10% do nosso PIB, ou o
equivalente a 20 anos de Bolsa Família. Ou seja, dá para ter uma noção do
prejuízo causado pelo negativismo do presidente Jair Bolsonaro, que até hoje
não tomou a vacina.
Aquecimento
Mais difícil de calcular é o prejuízo do
negativismo em relação ao aquecimento global. Alguns números podem ser
ilustrativos. Até o fim de setembro, somente 22% das verbas destinadas para o
combate ao desmatamento e às queimadas foram utilizados pelo governo federal. O
governo resolveu economizar o dinheiro do combate ao desmatamento e às
queimadas: de R$ 384,9 milhões em caixa para isso, somente foram gastos R$ 83,5
milhões. De agosto do ano passado a junho deste ano, registramos os maiores
índices de desmatamento. São Paulo, Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso
registraram mudanças climáticas impressionantes. As mais espetaculares foram as
tempestades de poeira. Quanto estamos perdendo de investimentos ao “passar a
boiada”?
O Brasil já foi muito respeitado por sua
política ambiental, agora é pária internacional. Bolsonaro não vai à
Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), que começa
hoje, em Glasgow, na Escócia, embora tenha participado da reunião do G-20 em
Roma, na Itália, ontem. Não teria condições de participar de um fórum como esse
sem passar constrangimentos.
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