Folha de S. Paulo
Ele sabe traçar objetivos, como a busca
pela reeleição
Jair Bolsonaro é inteligente? De quando em
quando lanço essa pergunta, sempre definindo inteligência como a capacidade de
traçar objetivos e seguir uma estratégia elaborada para alcançá-los.
O presidente passa com facilidade pela
primeira parte do teste. A meta que ele se propôs é a reeleição. Faz sentido. É
o melhor caminho para evitar a cadeia depois que ele perder as imunidades e o
foro especial. O plano B seria obter um passaporte italiano e voar para Roma no
dia 31/12/2022. A Itália, como o Brasil, não extradita nacionais.
É na segunda parte do teste que os cálculos presidenciais se tornam mais duvidosos. Até que ele começa bem. Tenta viabilizar a reeleição turbinando o Bolsa Família e o rebatizando com um nome mais facilmente identificável à sua administração. É meio simplório, mas já deu certo no passado. O próprio Bolsonaro experimentou um pico de popularidade no ano passado, enquanto o governo pagava o auxílio de R$ 600.
O presidente escancara suas limitações
cognitivas quando, no dia em que a CPI apresentaria o relatório que lhe imputa
nove crimes, anuncia que o Auxílio
Brasil será de R$
400, mas não explica como chegará a esse valor sem furar o teto de gastos.
O resultado, que até um estudante de ensino médio poderia prever, é alta do
dólar e dos juros, o que significa mais inflação, que é, hoje, um dos
principais obstáculos à recondução.
Particularmente grave é o fato de que há
mais de ano se sabia que Bolsonaro teria de equacionar uma fórmula de ajuda
—por causa da reeleição e porque os pobres precisam comer—, mas o presidente
nada fez. Quer dizer, fez, sim. Ele descartou soluções mais racionais, que
passariam pelo corte de despesas menos necessárias ou menos eficientes.
Meu diagnóstico é que Bolsonaro tem grande dificuldade para pensar algumas casas à frente e se limita a reagir às situações que se lhe apresentam. Não chamaria isso de inteligência.
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