Desemprego castiga mais os jovens
• Queda na renda das famílias e restrição do Fies levam um contingente maior a buscar vaga
Lucianne Carneiro, Clarice Spitz, Marcello Corrêa e Fabio Teixeira – O Globo
A piora no mercado de trabalho está castigando de forma mais intensa os brasileiros que têm entre 18 e 24 anos. Em abril, quarto mês seguido de aumento do desemprego e de queda na renda, a taxa média de desemprego nas seis regiões metropolitanas do país (Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Porto Alegre) ficou em 6,4%, a maior desde maio de 2011.
Na comparação com abril do ano passado - quando o desemprego foi de 4,9% -houve um salto de 1,5 ponto percentual, maior aumento no período de um ano de toda a série histórica da Pesquisa Mensal de Empregos (PME) do IBGE, inciada em 2002. Entre os jovens, o aumento do desemprego foi ainda maior, passou de 12% em 2014 para 16,2% no mês passado.
Efeito da queda na renda
Segundo especialistas, a queda na renda das famílias está empurrando um número cada vez maior de jovens para o mercado de trabalho. Em abril, o rendimento real foi de R$ 2.138,50, 0,5% menor do que em março. Foi o terceiro mês consecutivo de queda no salário real frente ao mês anterior. Na comparação com abril de 2014, o recuo da renda, quarto seguido, foi mais expressivo, de 2,9%. Com isso, muitos jovens que estavam adiando a busca de trabalho para se dedicar aos estudos passaram a procurar uma vaga - e pressionaram a taxa de desemprego do grupo.
Entre os trabalhadores com idade entre 25 e 49 anos, o desemprego ficou em de 5,3% em abril deste ano, 1,3 ponto percentual acima dos 4% de abril do ano passado e 0,2 ponto percentual superior ao 5,1% de março. Para quem tem mais 50 anos, a taxa ficou ainda menor, 2,6%.
- Nos últimos anos, muitos jovens postergaram a entrada no mercado de trabalho para estudar mais. Agora, parte desses jovens está voltando a buscar vagas. É uma forma de compensar a perda da renda familiar - afirma o economista da LCA Consultores Fabio Romão.
Os números do IBGE também mostram que a população não economicamente ativa - formada por aqueles que têm idade para trabalhar, mas não buscam emprego - caiu 3,01% entre abril de 2014 e abril de 2015 na faixa entre 18 e 24 anos. Foi a quarta queda seguida nesse tipo de comparação. Na média geral, o indicador subiu 0,4%.
Além disso, a taxa de participação dos jovens no mercado - percentual dos que estão no mercado em relação ao total da população naquela faixa etária - parou de cair. O percentual era de 64,2% em abril de 2015, mesma taxa de abril de 2014.
- É o reflexo da dificuldade que as famílias estão tendo, com inflação mais alta neste início de ano. Quando o núcleo familiar está sofrendo, o jovem volta ao mercado para compor renda - diz o economista e professor do Instituto de Economia da UFRJ João Saboia.
Sem dinheiro para a faculdade
Saboia considera ainda que o aumento do desemprego entre os jovens de 18 a 24 anos pode estar ligado também à mudança nas condições do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), já que muitos não conseguiram renovar esse financiamento, destinado às mensalidades das faculdades particulares.
- No momento em que o mercado está bom, os jovens param para estudar. Quando ele fica ruim, o jovem mais pobre é obrigado até a parar de estudar e procurar emprego. São dados negativos que refletem a situação do mercado de trabalho - afirma Saboia.
A economista da GO Associados Mariana Orsini também vê a redução de recursos do Fies como uma razão para a volta dos jovens ao mercado de trabalho, seja para ter renda para pagar a escola, seja simplesmente trocando a faculdade pelo emprego:
- É uma perda grande. A longo prazo, a educação é fundamental para aumentar a produtividade da economia.
Já o professor e pesquisador do Ibre/FGV Rodrigo Leandro de Moura acredita que a volta dos jovens à busca por vagas ainda não começou, embora acredite que isso deva ocorrer nos próximos meses. O que já acontece, explica ele, é um aumento de desemprego motivado pelas demissões.
- Os trabalhadores mais jovens tendem a ser mais afetados em momentos de crise. Como têm menos experiência, tendem a ser os primeiros a serem demitidos pelas empresas - aponta Moura.
Que o diga Krystal Lopes, de 27 anos, demitida em fevereiro após trabalhar por sete anos como assistente bilíngue em uma siderúrgica. Formada em logística e com inglês fluente, ela cursa pós-graduação em Planejamento e Finanças na Uerj e afirma que está mais complicado conseguir uma nova vaga.
- Nos dois primeiros meses, fiquei mais tranquila para me dedicar ao estudo. Agora, vi que não está tão fácil. Trabalho desde os 18 anos e não tinha noção de como estava a situação do mercado de trabalho - conta Krystal.
Com uma formação escolar mais modesta, Brayan de Matos, de 21 anos, também está sofrendo desde que foi demitido, há três meses. Ele trabalhava como entregador de uma farmácia em Vila Valqueire, na Zona Norte do Rio, e recebia R$ 922 por mês. Sem o ensino médio completo, ele afirma que está difícil se recolocar no mercado.
- Não tenho grande escolaridade. Comecei a trabalhar cedo, larguei o estudo, e a sociedade é preconceituosa. Também tenho amigos desempregados. A situação está crítica - diz.
Quase 400 mil a mais
Recém-formado em História, Renan Faria, de 25 anos, também procura emprego desde o início do ano e aceita até vagas fora de sua área. Mas as oportunidades não aparecem:
- Tenho enviado muitos e-mails, deixo meu currículo nas empresas, mas não fui chamado para nada.
O salto do desemprego em um ano é explicado pelo aumento da população desocupada e pela menor geração de vagas. De um lado, são 384 mil pessoas a mais no contingente de desocupados, alta de 32,7%, a maior taxa da série histórica. Enquanto isso, a população ocupada caiu em 171 mil pessoas, ou 0,7%.
Ao mesmo tempo, a população não economicamente ativa - que tem idade para trabalhar, mas não procura trabalho - teve um crescimento menor, de 0,4%.
- Esse aumento da população desocupada está sendo abastecido tanto por aqueles que perdem trabalho, mas também por pessoas que não estavam procurando trabalho e agora estão - explica a técnica da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE, Adriana Beringuy.
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