A
independência do BC agrada ao mercado, porque garante mais previsibilidade na
economia, mas não desenrola a política econômica
A
independência do Banco Central (BC) foi aprovada, ontem, na Câmara, por 339
votos a 114, depois de 30 anos de discussão. O presidente da Casa, Arthur Lira
(PP-AL), fez da votação uma demonstração de força e uma sinalização para o
mercado de que vai retornar à agenda das reformas. A aprovação também é um
contraponto à gestão do antecessor, deputado Rodrigo Maia(DEM-RJ), que está
sendo responsabilizado por Lira e pelo Planalto pelo atraso na votação das
medidas econômicas necessárias para enfrentar a crise. Não é bem assim, a
matéria já estava pronta para ser aprovada e contava com ampla maioria.
Provavelmente, seria a primeira medida a ser votada caso o deputado Baleia
Rossi (MDB-SP) fosse o eleito.
Na verdade, o que está atrasando a votação das medidas econômicas é a falta de entendimento político entre a turma do Centrão, os militares do Planalto e a equipe econômica em relação à maioria dos assuntos, sem que Bolsonaro tome uma decisão. Por exemplo, a criação do auxílio emergencial, desejo da ampla maioria dos parlamentares, não vai adiante porque toda a Esplanada dos Ministérios se recusa a cortar na própria carne, e a equipe econômica também não quer criar um imposto.
A
independência do BC agrada ao mercado, porque garante mais previsibilidade na
economia, mas não desenrola a política econômica. Diretores do banco terão
mandato de quatro anos, com direito a uma reeleição. Os mandatos não
coincidirão com o do presidente da República, que indicará o presidente e
demais diretores do BC. Caberá ao Congresso aprovar a indicação e, se for
necessário, destituir os diretores do banco.
Em
tese, a independência do BC acaba com interferências do Executivo na política
monetária. Num regime de metas de inflação, isso garante que a política de
juros seja administrada com foco exclusivo na estabilidade da moeda. Alguns
analistas acreditam que os juros do mercado futuro, que servem para a rolagem
da dívida pública, tenderão a cair com a decisão. A medida é muito criticada
pela esquerda e economistas desenvolvimentistas, mas há muitos países
governados por partidos de esquerda que têm bancos centrais independentes.
Outro
passo importante foi a instalação da Comissão Mista de Orçamento, que estava
sendo adiada por causa de uma disputa pelo seu comando entre o ex-presidente da
Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o Centrão. A presidente da CMO é a deputada
Flávia Arruda (PL-DF), indicada por Arthur Lira. Com 31 deputados e 11
senadores, a comissão instalada, ontem, vai examinar o Orçamento de 2021; em
abril, outra composição será feita, para discutir o Orçamento de 2022. O
presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), ao instalar a comissão,
descartou a criação de um novo imposto para financiar a prorrogação do abono
emergencial.
É impressionante como a disputa pela presidência da Câmara desagregou a legenda. Mostrou para Doria que uma parte considerável da bancada pode ter derivado para a base do presidente Jair Bolsonaro, comprometendo seu projeto eleitoral. A forma como o governador paulista pretende resolver o problema não está clara. Há três hipóteses: (1) forçar os pares a lhe entregar o comando da legenda; (2) sair do partido para ser candidato por outra legenda; (3) desistir da candidatura, tendo Aécio como pivô da tragédia.
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