O Estado de S. Paulo
Na crise hídrica, a única política do
governo é a tentativa de negar a gravidade da crise
Afinal, qual é a política do governo para
enfrentar a pior crise hídrica dos últimos 91 anos? A julgar pelos fatos, o
governo não sabe o que quer. A primeira providência foram apelos, e não mais
que apelos, para evitar o desperdício de energia. Foi a linha adotada em junho
pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que convocou uma cadeia
nacional de rádio e TV, prometeu declarações graves que, no entanto, não
passaram de lero-lero. Em seguida, veio a sobretarifa da bandeira vermelha,
sugerindo que a redução de consumo de quilowatts se faria por aumento de
preços. Agora, o ministro avisa que vai fazer o contrário, vai cobrar menos de
quem consumir menos energia, sem informar que economia espera desse
procedimento.
A única política que se conclui das omissões do governo é a abordagem negacionista, são as tentativas de negar a gravidade da crise. Assim como a pandemia não passava de “uma gripezinha”, essa crise, além de passageira, é pouco importante. Não impõe nenhuma ação mais radical, como o racionamento de energia elétrica e de água tratada. E, no entanto, os meteorologistas têm avisado que, além do grau de secura que não se previa em junho, julho e agosto, as perspectivas continuam ruins para a temporada de chuvas que deve iniciar-se em meados de setembro ou começo de outubro.
Inesperadas declarações feitas nesta
quinta-feira pelo ministro Paulo Guedes, de que a crise é séria, vão na
contramão do que tem dito Bento Albuquerque e o governo. E não alteram o jogo,
porque não há ação correspondente.
Ou seja, a prometida recuperação da
economia não está sendo comprometida apenas pelo aumento do rombo fiscal e da
dívida; pelo desemprego e perda de renda; e pela escalada da inflação e dos
juros. Está sendo comprometida também pela escassez de energia elétrica, sem
que a população seja devidamente informada sobre as consequências. “Não haverá
racionamento”, limita-se a repetir o ministro Bento Albuquerque.
Este não é apenas o governo que esconde ou
nega o tamanho dos problemas. É também o governo que sempre está sendo
surpreendido pelas adversidades. Cantada pelos especialistas, não previu o
fogaréu na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal. E tem se mostrado pífio no
combate às chamas e à ação dos responsáveis. Foi assim com a pandemia, foi
assim com a recuperação econômica que deveria ter sido em “V” e não foi. Foi
assim com as reiteradas rejeições dos pacotes caóticos de reforma tributária,
que deveriam ter sido aprovados rapidamente, e não foram. E está sendo assim
com o “meteoro” dos R$ 90 bilhões em precatórios que desabou sobre o colo do
ministro Paulo Guedes, com informações de que vêm mais.
Ainda em 2020, ele havia prometido um “big
bang” na área econômica, mas até agora ninguém não o viu nem entendeu o que
deveria ter sido. Das propaladas reformas política e administrativa, que deveriam
ter avançado, só se sabe que estão entaladas em alguma repartição de Brasília.
E como o projeto da reeleição vai
afundando, melhor tirar todos os problemas do foco, atacar o Supremo e pregar
que o sistema de voto eletrônico não presta...
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