Folha de S. Paulo
É preciso desarticular o suposto esquema
criminoso em operação na Amazônia
Os detalhes relacionados ao desaparecimento
do indigenista Bruno Pereira
e do jornalista Dom Phillips escancararam o quanto a opressão
sobre os povos originários e a negligência com a preservação do meio ambiente
estão naturalizadas no Brasil.
Foram necessárias 48 horas de pressão
internacional para que o Estado resolvesse se fazer presente no Vale do Javari
e assumisse a dianteira das buscas, que, desde o primeiro momento, foram
empreendidas pelos povos indígenas.
Quando entrou no caso, a Polícia Federal agiu com a eficiência esperada dos órgãos de investigação e indícios levaram à decretação da prisão temporária dos irmãos pescadores Amarildo e Oseney da Costa Oliveira, à época suspeitos do duplo homicídio (hoje um é réu confesso). As prisões, que já envolvem uma terceira pessoa, Jeferson da Silva Lima, são um alento, mas estão longe de representar uma solução.
A julgar pelas denúncias feitas pelo
próprio Bruno Pereira e pela Univaja, há uma corja de bandidos pilhando a
região e ceifando as vidas de quem representa algum entrave a interesses
escusos. Essa gente toda merece pagar pelos crimes.
O que se espera agora é temperança para que
as investigações sejam conduzidas com celeridade, porém sem açodamento. Não só
para que este caso seja esclarecido, mas também para que seja possível
desarticular o suposto esquema criminoso em operação na Amazônia.
A partir dos olhares que o mundo voltou
para o Brasil, há expectativa de que as investigações avancem também em direção
à elucidação de outros crimes bárbaros e vergonhosamente pendentes de desfecho
em várias regiões do país.
Enquanto isso, numa manhã de sábado, a
maior emissora de TV do país dá exemplo do que é o racismo estrutural. Com
naturalidade, a apresentadora Talitha Morete ordena
à doceira Silene, única convidada negra do programa É de Casa naquele dia:
"Vai servir todo mundo."
Nos 200 anos da Independência, é tempo de
gritar: Acorda, Brasil!
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