Assassinaram com
requintes de barbárie, o tráfico lá na Amazônia com o mesmo requinte que
assassinaram Tim Lopes aqui. Esquartejaram corpos, incineraram, queimaram, jogaram
no forno aqui no Rio, lá jogaram no rio. Seriam os mesmos? São outros?
Meus dedos deslizam.
Na palma da mão,
na palma da mão. Foram assassinados pelo que seus olhos viram. Olhos que vêem,
que testemunham tudo e gritam suas visões ao mundo. Eu vejo tudo, da palma da
mão.
Eles o dedo. Botaram o dedo lá na ferida da floresta. Com o dedo apontaram os malfeitos, os roubos, os maltratos e destratos, os abusos, os mandos e desmandos dos desgovernados. E eu, aqui, vendo tudo. Da palma da mão, da palma da mão. Estou em casa. Estou exausta, mas em outubro eu saio. Em outubro vou apontar meu dedo. Vou usar minha chance de gritar este grito silencioso que quase queima a palma da minha mão. Nas urnas, em outubro. Por agora, vou testemunhando, na palma da mão, o grito dos inocentes, suas mortes, minha indignação, na palma da mão.
19 de junho de 2022.
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