domingo, 22 de outubro de 2023

Renata Cafardo - As crianças e o conflito na Faixa de Gaza

O Estado de S. Paulo

Estudos mostram a dificuldade de crianças aprenderem em regiões de conflitos

Em todas as guerras, são as crianças que sofrem primeiro e sofrem mais. A mensagem está em destaque no site do Unicef, o fundo das Nações Unidas para a infância, ao lado de fotos de meninos e meninas em meio aos destroços dos conflitos no Oriente Médio. Desde o dia 7, mais de 1,5 mil crianças morreram na Faixa da Gaza e 4 mil foram feridas.

Mas antes do horrendo ataque do Hamas a Israel e da resposta a ele, as cerca de 1 milhão de crianças da região já viviam uma crise humanitária. Relatório do Unicef do primeiro semestre de 2023 dizia que o aumento da violência na região tinha limitado o acesso a água, alimentos, eletricidade e higiene, impactando a “sobrevivência e o desenvolvimento” das crianças.

Fala ainda do fechamento de escolas e suspensão de aulas por longas greves, combinadas com a pobreza extrema e mortes de estudantes. Dados da Unesco também mostram a Palestina como um dos sete Estados com mais escolas atacadas do mundo, entre 2013 e 2021. E que 21% dos alunos do que seria o fundamental 2 no Brasil (6º ou 9º ano) já abandonaram os estudos.

Além de desnutrição infantil, traumas psicológicos e doenças, o Unicef relata questões graves de aprendizagem em Gaza e o recrutamento de professores para aulas de reforço de língua árabe e Matemática. Estudos mostram a imensa dificuldade de crianças aprenderem em regiões de conflitos.

E é neste cenário que estamos assistindo há quinze dias a uma das guerras mais sangrentas dos últimos anos. Os bombardeios já atingiram 170 instituições de ensino, além de um hospital cujas imagens de mortos e feridos entre as cinzas horrorizaram o mundo. Todas as escolas estão fechadas.

Segundo o Unicef, entre os 1.300 mortos em Israel, não há ainda informações precisas de quantos eram crianças, mas autoridades afirmam que há muitas entre os capturados pelo Hamas. Mesmo vivas ou em belas escolas, o trauma não é menor entre crianças israelenses que compartilham o desespero de seus familiares diante de mortes e uma guerra sem fim.

Ao apelar por um “cessar-fogo humanitário imediato”, o secretário geral a ONU, Antonio

Guterres, lembrou que “qualquer ataque a um hospital ou escola é proibido pelo direito internacional”.

Não deveria ser preciso alertar que matar crianças de fome ou com bombas e tirar delas o direito de ir à escola, brincar e se desenvolver são crimes contra a humanidade. Não contra um lado ou outro. É o mundo todo que destrói o presente – e o futuro – de uma sociedade já com tão poucas esperanças de conviver pacificamente e de ensinar compaixão e solidariedade para as próximas gerações.

 

 

Um comentário:

Daniel disse...

Texto duro mas verdadeiro e necessário!
Os pais das 1.500 crianças palestinas mortas pelos ataques israelenses neste mês vão considerar os judeus como "irmãos" ou vão, pelo menos uma parte, se filiar ao Hamas em busca de vingança em breve ou futura?