O Globo
Além da CPI do Golpe,
a Câmara prepara a instalação de mais duas comissões parlamentares de
inquérito: uma sobre as Lojas Americanas, outra sobre o MST. Por motivos
diferentes, ambas já devem começar sob descrédito.
A CPI das Americanas foi proposta por André
Fufuca. O deputado de bochechas rosadas despontou como pupilo de Eduardo Cunha.
Hoje é protegido de Arthur Lira, que o alçou a líder do PP.
O objetivo declarado da CPI é investigar o
rombo contábil nas Americanas. Isso já tem sido feito pela Comissão de Valores
Mobiliários, em força-tarefa com o Ministério Público e a Polícia Federal.
Na prática, a comissão dará a seus integrantes um pretexto para convocar empresários bilionários. É aí que mora o perigo — ou a oportunidade de negócios.
Em 2016, o deputado Altineu Côrtes causou
bate-boca ao tentar arrastar o banqueiro Joseph Safra para a CPI do Carf. O
vice-presidente da comissão, Hildo Rocha, estranhou a insistência: “Será que
está sendo construída aqui uma tramoia para tirar dinheiro deste cidadão?”.
Côrtes foi investigado no Supremo sob
suspeita de usar outra CPI, a da Petrobras, para achacar o empreiteiro Milton
Schahin. O caso seria arquivado por falta de provas. Sete anos depois, o
deputado virou líder do PL e entusiasta da CPI das Americanas. Diz que a
comissão é “urgente” e precisa ser instalada “o mais breve possível”.
Outros interesses explicam o lobby pela CPI
do MST. A comissão foi proposta pelo deputado bolsonarista Tenente-Coronel
Zucco. É apoiada pela bancada ruralista, cujas posições contra a reforma
agrária são conhecidas.
Militar da reserva, Zucco já deixou claro
que não vai esperar a investigação para tirar conclusões. Nas últimas semanas,
chamou os sem-terra de “criminosos”, “terroristas” e “baderneiros”.
Os métodos do MST podem ser questionados,
mas o requerimento da CPI não aponta um fato determinado para justificar sua
criação. Limita-se a citar um “crescimento desordenado” das ocupações, sem
dados que embasem a afirmação.
Esta será a quinta CPI contra o MST em duas
décadas. As outras quatro tiveram muito circo e pouca investigação. Em 2005, ao
fim da CPI da Terra, os ruralistas chegaram a aprovar relatório que sugeria
tipificar as ocupações como crime hediondo e seus participantes como
terroristas. Não deu em nada na época, e não deve dar em nada agora.
Um comentário:
Sem terra é terrorista.
Tá.
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