Folha de S. Paulo
Governo se empenhou para evitar instalação
da comissão e fracassou
Lula costuma
ter sorte —mais sorte que competência, dizem seus críticos. No caso específico
da CPI dos
ataques de 8/1, porém, ele teve azar. Não acho que essa comissão
definirá ou criará grande embaraço para seu governo, mas me parece difícil
classificar sua instalação como algo diverso de uma derrota.
O problema não está tanto no que as investigações possam revelar, mas no modo como a administração se comportou dos ataques para cá. Se a base lulista tivesse concordado com a CPI desde o início, os prejuízos potenciais teriam sido mínimos. Ninguém com uma percepção não distorcida da realidade acredita na teoria conspiratória de que os petistas encenaram aquilo tudo só para jogar a culpa em Bolsonaro.
O vandalismo
golpista é indubitavelmente obra da extrema direita. Dá para
discutir se Bolsonaro planejou especificamente aquelas ações ou se as inspirou
de forma mais indireta. Em ambas as hipóteses, ele tem responsabilidade por
elas. Já a nova administração pode ter cometido erros de planejamento e
gerenciamento da crise —que não chegam a ser surpreendentes quando se considera
que estava no comando havia apenas uma semana—, mas parece óbvio que ela é vítima
e não autora dos delitos democraticidas.
O governo Lula, contudo, fazendo coro à
tendência de todo governo de temer CPIs, mobilizou sua base para que a comissão
jamais ganhasse a luz do dia. CPIs, especialmente aquelas que atraem a atenção
do público, atrapalham a agenda de aprovação de medidas legislativas de
interesse do Executivo e sempre trazem o risco de produzir ruídos políticos. E
é aí que está o busílis. Se você se empenha para evitar uma situação, mas ela
acaba se materializando, você perdeu.
Pior, Lula agora depende de Arthur Lira e
outras lideranças do centrão para que os nomes indicados para integrar a CPI
não sejam hostis ao
governo —o que, obviamente, tem um preço.
Lula poderia ter passado sem essa.
2 comentários:
Sobre algumas questões não pode ficar nenhuma dúvida acima de qualquer certeza. Questões em relação à democracia é uma destas. Ainda mais aqui no nosso Brasil, que tem uma história democrática tão melindrada.
Pairam afirmações de que nos atos que culminaram no "08deJaneiro" a nossa democracia foi ameaçada. Estas são acusações políticas e que envolveram atos políticos e por isso não poderia ter havido nenhum vacilo no pedido de instalação de uma apuração pelo Congresso. É no Congresso que ameaças políticas à democracia devem ser apuradas!
E o que deve ser apurado?
Tudo deve ser apurado pela CPMI!
Há acusação de terrorismo; há acusação de tentativa de golpe; há acusação de facilitação para que vândalos invadissem as instituições e há o vandalismo concretamente causado.
Tudo deve ser apurado! E tudo deve ser punido proporcionalmente à gravidade de cada caso que for comprovado.
Claro que Terrorismo e Golpismo é muito mais grave que eventuais erros e omissões no impedimento destes atos e, obviamente, o menos grave nisso tudo é o vandalismo propriamente.
No Fla X Flu político em que estamos, há um imenso risco de as apurações na CPMI descambarem para gritaria, acusação e bate-boca improdutivo.
Eu acho que o melhor para o Brasil seria que dos trabalhos da CPMI não participasse nenhum lulista e nenhum bolsonarista. Não penso isto por nenhum preconceito à priore que eu possa ter com um ou com outro, mas a pauta que está na Câmara e no Senado para caminhar é tão importante quanto a CPMI, e eu, mesmo achando a Instalação da CPMI incontornável, temo que confusões na Comissão atrapalhem os demais trabalhos e votações que também são importantes.
Penso que uma apuração só com membros da Comissão que não estejam identificados em nenhum dos polos políticos tende a ser mais produtiva, justa e causar menos os transtornos que uma CPMI sempre causam.
Sei.
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