sábado, 11 de dezembro de 2010

PPS: O partido do mundo que acabou?:: Raul Jungmann

DEU NO PORTAL DO PPS

Jungmann diz que debate sobre a questão ambiental deixou de ser relevante para o partido

Durante essa semana, o mundo se reuniu aqui em Cancún para decidir o futuro do planeta. Verdade que sem a expectativa, o estardalhaço e a frustração de Copenhagen. Menos mal. Precisamos de mais luz e menos energia para resolver os complexos problemas das mudanças climáticas e do aquecimento global.

Dessas enfadonhas negociações que envolvem quase 200 nações, da pequenina Tuvalu à China, do minúsculo Butão ao poderoso EUA, sairá, ou não, uma nova era e mecanismos de governança global, toda uma inédita reforma da matriz de produção e consumo, e o mais importante: o mundo em que vão viver as futuras gerações.

Difícil, se é que possível, imaginar mandato político mais ou mais importante que a questão das mudanças climáticas hoje em dia. Afinal, não se pode falar em segurança, paz, fome ou emprego se não existir um planeta habitável, onde a espécie humana possa continuar a sua saga. E é exatamente o que está em jogo, nossa existência comum.

Mas isso, pasmém, não é relevante, sequer importante para o PPS.

E se deduz facilmente pelo fato de que sua bancada federal, ao longo de toda Cancún, em momento algum foi à tribuna abordar a conferência. Como também não vimos uma só nota da executiva ou do diretório nacional exortando ao encaminhamento de soluções. Sequer nosso sempre ágil portal esteve aí para a COP 16. Exceção feita aos meus artigos, com baixo número de acessos, salvo engano nenhuma notícia, nada.

E se estou aqui, em que pese ter informado ao Secretariado Nacional, é por hoby ou preocupação política e pessoal minha.

Assim como não creio que existe um lugar no amanhã para uma nação, e mesmo o mundo sem que se encare e resolva a questão climática, também inexiste lugar na política para um partido que desdenhe o meio ambiente e, em especial, o aquecimento do planeta, em particular se for de esquerda.

Quando do nosso nascimento histórico como corrente, movimento e ideologia política, no século XIX, era nosso papel, segundo Marx, sermos os parteiros de uma nova era, o socialismo, etapa superior do capitalismo. Acreditávamos firmemente no progresso, na técnica e na ciência que libertaria o homem.

Técnica e ciência nos trouxeram liberdade e progresso. Mas também, sob o capitalismo e socialismo de Estado, destruição em escala tal que ameaçam a vida e o planeta. Donde a saída agora passa pelo progresso com sustentabilidade ambiental.

Portanto, ser revolucionário, nos dias de hoje, é ser necessariamente “verde”. E nós não somos ou somos apenas epidermicamente.

Nossas cabeças são industrializantes e desenvolvimentistas a outrance. Temos a questão ambiental como um penduricalho chique, uma grife, a atestar nossa modernidade de pós-socialistas. E não como o cerne mesmo do nosso pensamento contemporâneo. O olhar, a partir da qual deveríamos orientar nossas decisões e programa.

Temos tempo e massa crítica para estar de volta ao futuro. Falta sacudir, dar um choque de sustentabilidade no PPS, antes que seja tarde e ele se torne insustentável.

Sustentabilidade ou morte!

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