Fora do palanque, Milei tem de se provar viável
O Globo
Vitória avassaladora nas urnas traduz desejo
de se livrar do peronismo, que há décadas leva o país ao precipício
A vitória de Javier Milei nas
eleições presidenciais da Argentina foi
acachapante. A vantagem foi de mais de 11 pontos sobre o peronista Sergio Massa —
55,7% dos votos, ante 44,3%. A mensagem das urnas não poderia ter sido mais
clara: a sociedade decidiu se livrar do peronismo, que tem levado o país ao
precipício há décadas, e acreditar nas promessas do ultraliberal populista. Tal
voto de protesto, mesmo que compreensível, mergulha o país na incerteza, pois o
novo líder é inexperiente e, até o momento, deu repetidas mostras de
instabilidade. Cabe a Milei demonstrar rapidamente o que fará e como reunirá
equipe e apoio político para implementar uma reforma realista do Estado
argentino.
Do ponto de vista do Brasil, todas as medidas para estabilizar a economia serão bem-vindas. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não escondeu a preferência por Massa e as críticas a Milei. Passada a eleição, Lula parabenizou os argentinos e, mesmo sem citar Milei, deixou claro que os interesses dos dois Estados precisam prevalecer. Milei tem mais a perder que a ganhar se entrar em disputas estéreis com o Brasil, em particular sobre o Mercosul. Ele já tem problemas demais a enfrentar.