domingo, 3 de agosto de 2014

Opinião do dia: Roberto Freire

A Dilma não tem competência para ser presidente da República. Em 2010, todo mundo achava que o Brasil era uma maravilha. Só que o governo tinha que cuidar para que o consumo da população fosse permanente, e o crescimento econômico não fosse um mero voo de galinha. Mas não houve investimento em infraestrutura. Hoje, há um descontrole na economia.

Vivemos uma crise que mostra que um ciclo está se esgotando. Nós perdemos grandes oportunidades. Os dados indicam que houve um momento de euforia da compra, mas agora começa a preocupação sobre como vai se pagar essa conta.

Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente nacional do PPS. Portal do PPS, 02 de agosto de 2014.

Aécio diz que PT ‘não tem limites nas armas que usam para se manter no poder’

• Tucano afirmou que não fará ‘ataques covardes’ contra seus adversários

Flávio Ilha – O Globo

PORTO ALEGRE - Em comício da candidata do PP ao governo do Rio Grande do Sul, Ana Amélia Lemos, o senador Aécio Neves disse que fará a campanha da "decência e da eficiência". Aécio afirmou que não fará "ataques covardes" contra seus adversários, mas prometeu "falar a verdade sobre eles" a cada ataque que receber.

- Nossos adversários não têm limites nas armas que usam para se manter no poder. Mas a cada ataque e mentira que lançarem contra nós, vamos falar a verdade sobre eles - discursou.

O comício foi realizado no ginásio Gugantinho, que tem capacidade para 12 mil pessoas. O local não estava lotado e havia vários clarões nas arquibancadas. Os organizadores estimaram o público em 8 mil pessoas.

Aécio e Ana Amélia participaram da parte final de yma caminhada entre o Anfiteatro Por do.Sol e o ginásio. O presidenciável tucano fez o trajeto final num caminhão de som.

Antes de sua fala, Aécio e Ana Amélia dançaram o forró que é a música tema da campanha tucana.

Aécio se emocionou quando Ana Amélia se referiu ao filho mais novo do senador, Bernardo, que nasceu prematuro no dia 8 de junho e ainda está em uma incubadora.

- Quero que recebas como presente do Dia dos Pais a volta do Bernardo para casa. Deus vai te dar esse presente - disse.

No RS, Aécio pede fim de 'desgoverno'

Gabriela Lara e Lucas Azevedo – O Estado de S. Paulo

O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, fez críticas ao PT e à campanha da presidente Dilma Rousseff em comício na tarde deste sábado na capital gaúcha, ao lado da senadora Ana Amélia Lemos, que concorre ao governo do Rio Grande do Sul pelo PP, aliado dos tucanos no Estado. "Foi dada a largada para a campanha da decência e da dignidade", disse o senador aos militantes no ginásio Gigantinho. "Basta desse desgoverno, chega de tanta irresponsabilidade."

Em outro momento, Aécio afirmou que o PSDB não fará campanha com ataques covardes a quem quer que seja, mas sim "com propostas para mudar o Brasil".

Em um discurso inflamado, o mineiro falou que seus adversários não têm limites nas armas que usam para ficar no poder. "A cada ataque e mentira que contarem sobre nós, vamos falar a verdade sobre eles", falou.

Na coletiva de imprensa concedida antes do comício em Porto Alegre, Aécio havia concentrado as críticas à política econômica do governo da presidente Dilma Rousseff.

De acordo com a organização do evento, estavam presentes cerca de 8 mil pessoas. O ginásio, no entanto, tinha diversos espaços vazios.

Depois de Aécio foi a vez de Ana Amélia discursar no comício. De acordo com as pesquisas de intenção de voto, ela lidera a disputa no Rio Grande do Sul, na frente do atual governador, Tarso Genro (PT), que tenta a reeleição. "Daqui até a eleição temos a missão de levar o nome de Aécio para todos os rincões", afirmou Ana Amélia.

No final de sua intervenção, ela fez Aécio se emocionar ao dizer que desejava que, no Dia dos Pais, no próximo domingo, o tucano fosse presenteado com a saída de seu filho Bernardo do hospital. O bebê nasceu no dia 8 de junho, prematuro, no Rio de Janeiro, e permanece na incubadora. Sua irmã gêmea, Júlia, já está em casa.

Aécio chama eleitor gaúcho para 'campanha da decência'

Lucas Azevedo e Gabriela Lara – O Estado de S. Paulo

O candidato à Presidência da República pelo PSDB, Aécio Neves, participou de um comício, na tarde deste sábado, 02, em Porto Alegre. Reunidos no ginásio Gigantinho, aproximadamente 5 mil cabos eleitorais receberam o mineiro, que em um discurso breve conclamou os eleitores a elegerem a candidata da coligação ao governo do RS, Ana Amélia Lemos, do PP. "Está dada a largada para a campanha da decência, da dignidade, da verdadeira mudança", afirmou. "Farei minha campanha olhando no olho das pessoas. Mas nossa adversária não pode mais caminhar no meio do povo, porque não tem mais a confiança dos brasileiros", disse Aécio, citando Dilma Rousseff.

Frisando a proximidade com o público, a campanha de Aécio fez com que ele subisse no palanque passando pelo meio dos presentes, o que causou muito alvoroço. Durante o discurso de Ana Amélia, Aécio se emocionou quando a candidata ao governo do Estado lembrou seu filho mais novo, que nasceu dia 8 de junho. "Eu queria que no dia dos pais você recebesse um presente. Que o Bernardo saia da incubadora e volte para casa." Prematuro, o menino continua internado. Sua irmã gêmea, Júlia, já recebeu alta.

Mais cedo, Aécio participou de uma coletiva de imprensa na qual comentou denúncias da revista Veja, publicadas neste final de semana, sobre uma suposta fraude na CPI da Petrobras. Segundo ele, as lideranças do PSDB se reúnem neste fim de semana para "desenhar" quais medidas serão tomadas a respeito. Entretanto, garantiu que entrarão com representação nas comissões de ética do Senado e da Presidência, nesta segunda-feira, 04, para apurar as supostas irregularidades.

"Se comprovadas as denúncias publicadas, mostra-se que houve uma farsa. Servidores da Petrobras, servidores públicos, enganando a sociedade brasileira, mandando perguntas que previamente já tinham suas respostas definidas, fazendo uma grande encenação", afirmou.

Um vídeo a que a Revista Veja teve acesso revela que pode ter sido uma farsa a criação da CPI da Petrobras. Segundo a denúncia, a CPI foi criada com o objetivo de não pegar os corruptos. Ainda assim, o governo e a liderança do PT teriam decidido não correr riscos e montado uma fraude que consistia em passar antes aos investigados as perguntas que lhes seriam feitas pelos senadores. Com vinte minutos de duração, segundo a revista, o vídeo mostra uma reunião entre o chefe do escritório da Petrobras em Brasília, José Eduardo Sobral Barrocas, o advogado da empresa Bruno Ferreira e um terceiro personagem ainda desconhecido.

"Estou um pouco cauteloso, vi matéria no avião hoje cedo. Me surpreendi com a densidade daquilo e com o envolvimento de senadores", disse Aécio, referindo-se ao suposto envolvimento de Vanessa Graziottin (PCdoB), José Eduardo Dutra (PT) e Delcidio Amaral (PT).

Perguntado sobre o pedido de abertura de inquérito criminal por parte da campanha de Dilma para investigá-lo por supostos "atentados à segurança aérea" pelo uso dos aeroportos de Cláudio e Montezuma, em Minas Gerais, ele disse que a denúncia deve ser desconsiderada. "Todas as denúncias ou ações que o PT quiser impetrar serão respondidas por nós (PSDB) judicialmente. Essa não merece nem consideração de tão ridícula que é", avaliou.

Aécio defende transparência de ações de homens públicos

Gabriela Lara e Lucas Azevedo – O Estado de S. Paulo

O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, afirmou neste sábado, 02, que os homens públicos têm o dever de responder a questionamentos a seu respeito, sejam eles denúncias ou insinuações.

"Devemos fazer isso com absoluta naturalidade", disse em entrevista coletiva na capital gaúcha, antes de participar de comício ao lado da aspirante do PP ao governo do Rio Grande do Sul, Ana Amélia Lemos. "É o dever de quem está na política. Como também é dever trabalhar e lutar para que os esclarecimentos que são feitos sobre eles cheguem à população brasileira. É isso que eu tenho buscado fazer."

Aécio não quis comentar o caso envolvendo o candidato do PSB ao governo de Pernambuco, Paulo Câmara - afilhado político de Eduardo Campos, candidato do PSB à Presidência. Por determinação da Justiça Eleitoral, o jornal Folha de S. Paulo publicou direito de resposta de Câmara sobre reportagem que mostrou suspeita de pagamento de propina em troca de apoio político ao PSB nas eleições pernambucanas. "Sou de uma tradição mineira que diz que determinação da Justiça se cumpre", limitou-se a dizer.

Aécio afirmou que as tensões eleitorais existentes em um ambiente de campanha dão "uma dimensão maior aos fatos". Perguntado sobre o pedido de abertura de inquérito criminal por parte da campanha de Dilma, para investigá-lo por supostos "atentados à segurança aérea" pelo uso dos aeroportos de Cláudio e Montezuma, em Minas Gerais, ele disse que a denúncia deve ser desconsiderada.

"Todas as denúncias ou ações que o PT quiser impetrar serão respondidas por nós (PSDB) judicialmente. Essa não merece nem consideração de tão ridícula que é", avaliou.

As pistas para aeronaves dos dois municípios mineiros foram usadas pelo presidenciável sem que elas tivessem autorização para pouso e decolagem homologada pela Agência Nacional Aviação Civil (Anac). A representação do PT pede apuração por suposto crime de atentado contra a segurança do transporte aéreo. Os dois aeroportos ficam próximos de fazendas de familiares de Aécio. Esta semana, ele reconheceu que foi um "equívoco" ter usado os aeroportos sem a devida homologação por parte da Anac, mas garantiu a legalidade das obras.

Em Porto Alegre, o tucano voltou a defender a necessidade de melhorar a eficiência de órgãos como a Anac. "O que nós precisávamos é ter as agências reguladoras resgatadas em sua capacidade de gestão, para que obras ou processos de homologação, por exemplo, não demorem 3 anos ou outros 10 anos como demoram hoje", afirmou. "Isso é resultado em parte da incapacidade de gestão do PT em todas as áreas."

Pesquisas
Questionado sobre sua preocupação com os resultados das últimas pesquisas no RS, que mostraram que sua candidatura ainda não deslanchou - o Ibope aponta Dilma com 43% e Aécio com 23% -, o tucano minimizou a preocupação, dizendo que seu nome ainda é pouco conhecido.

"Há um grande nível de desconhecimento do candidato Aécio e suas propostas. Só quando começar a campanha na TV as pessoas vão conhecer", disse. "Estamos crescendo em todas as cidades brasileiras, e a presidente (Dilma) ou está em estagnação ou em queda."

Aécio afirmou que fará campanha nas ruas, "olhando para as pessoas", ao contrário da presidente, que, segundo ele, está sitiada. "(Dilma) Não consegue fazer qualquer evento sem segurança." A agenda de Aécio em Porto Alegre segue na tarde deste sábado. No ginásio Gigantinho, do Internacional, ele faz um comício a militantes na companhia de Ana Amélia Lemos.

Aécio e Campos partem para o ataque pós-notícia de vídeo

Erich Decat – O Estado de S. Paulo

Os dois principais candidatos de oposição à presidente Dilma Rousseff aproveitaram a denúncia da revista Veja em sua edição deste final de semana na qual fala de um vídeo que mostra assessores da Petrobras relatando haver um jogo de cena na CPI do Senado que investiga irregularidades na estatal para retomar as críticas sobre a gestão da empresa durante o governo da petista. Os ataques haviam perdido força após decisão do Tribunal de Contas União (TCU) isentar Dilma de responsabilidade na compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.

Em visita a Porto Alegre, o candidato à Presidência da República pelo PSDB, Aécio Neves, disse que se trata de uma grave denúncia. "São denúncias de extrema gravidade, que envolvem senadores, servidores da Petrobras e da presidência. Se isso ocorreu é um enorme desrespeito", afirmou. O coordenador jurídico da campanha tucana, deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), declarou em nota que o partido irá nesta segunda-feira, 04, apresentar no Ministério Público, no Conselho de Ética do Senado Federal e nos departamentos disciplinares do Ministério das Relações Institucionais, da Petrobras e do Senado Federal, as representações necessárias para a responsabilização daqueles que estão envolvidos nessa farsa denunciada e comprovada pela imprensa nacional.

"Assistimos atônitos ao governo da Presidente Dilma fazendo uso de um dos mais importantes mecanismos de combate à corrupção no Brasil, as Comissões Parlamentares de Inquérito - CPIs, para tentar encobrir e esconder da Nação brasileira as irregularidades no governo e os prejuízos e atrasos causados ao país e aos brasileiros nos últimos onze anos e meio", diz o texto. O partido vai também pedir mudança da Mesa Diretora da CPI.

No vídeo, o chefe do escritório da Petrobras em Brasília, José Eduardo Sobral Barrocas, ligado a Graça Foster; o advogado da empresa Bruno Ferreira; e um terceiro personagem, ainda desconhecido, dizem que um assessor especial do Palácio do Planalto e assessores das lideranças do governo e do PT na Casa elaboraram perguntas para serem encaminhadas a parlamentares da base aliada na comissão. As questões teriam sido dirigidas à atual presidente da Petrobras, Graça Foster e ex-diretores da estatal.

Em campanha em Brotas (SP), Eduardo Campos (PSB) também tratou do assunto. "Pode fazer o media training que for, mas os resultados da Petrobras estão lá. A Petrobras perdeu metade do valor que tinha, está quatro vezes mais endividada, as encomendas sempre ficando para depois", disse.

Em seguida, disse que a má gestão na Petrobras chega a gerar desemprego. "Vim agora de Rio
Grande, no Rio Grande do Sul, onde o estaleiro mandou para fora 12 mil pessoas porque atrasaram a encomenda para a Petrobras. Se (a empresa) estivesse sendo bem governada e bem dirigida será que estariam agora desempregadas? Então como é que um marketing, um treinamento, vai resolver isso?" (Colaborou Lucas Azevedo, de Porto Alegre)

Coligação de Aécio quer investigação sobre vídeo

Erich Decat – O Estado de S. Paulo

A Coordenação Jurídica Nacional da Coligação Muda Brasil, que tem como candidato à Presidência da República o tucano Aécio Neves, divulgou na tarde deste sábado, 02, nota em que classifica de "gravíssimos" os fatos revelados hoje em reportagem da Revista Veja que denuncia suposto esquema de antecipação de perguntas a depoentes da CPI da Petrobras no Senado. A nota ainda destaca que a denúncia merece "uma investigação profunda" e informa que, na segunda-feira, 04, o PSDB apresentará ao Ministério Público, ao conselho de ética do Senado e a outros órgãos representações contra os supostos responsáveis pelo esquema. No documento, o PSDB também avisa que reivindicará a mudança da Mesa Diretora da CPI da Petrobras no Senado.

Veja a íntegra da nota:

NOTA À IMPRENSA
Os fatos revelados pela Revista Veja, neste final de semana, que comprovam a farsa montada pelo governo e pelo PT na CPI da Petrobras, são gravíssimos e merecem uma investigação profunda. À época do mensalão, a suposta moralidade dos membros do PT já havia sido desmascarada, revelando que a corrupção, durante o período Lula, foi elemento integrante de seu Governo.

Agora, assistimos atônitos ao Governo da Presidente Dilma fazendo uso de um dos mais importantes mecanismos de combate à corrupção no Brasil, as Comissões Parlamentares de Inquérito - CPIs, para tentar encobrir e esconder da Nação brasileira as irregularidades no Governo e os prejuízos e atrasos causados ao país e aos brasileiros nos últimos onze anos e meio.

Não nos omitiremos diante destes fatos gravíssimos e, já nesta segunda-feira, apresentaremos no Ministério Publico, no Conselho de Ética do Senado Federal e nos departamentos disciplinares do Ministério das Relações Institucionais, da Petrobras e do Senado Federal, as representações necessárias para a responsabilização daqueles que estão envolvidos nessa farsa denunciada e comprovada pela imprensa nacional.

Os parlamentares dos partidos que compõem a Coligação Muda Brasil também reivindicarão, desde já, a mudança da Mesa Diretora da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Petrobras para que possamos, minimamente, tentar recuperar a legitimidade das ações de investigação levadas a cabo pelo Congresso Nacional.

Carlos Sampaio
Coordenador Jurídico Nacional da Coligação Muda Brasil

Revista diz que dirigentes da Petrobras tiveram acesso prévio a perguntas de CPI

• Segundo ‘Veja’, servidores da estatal redigiram respostas às perguntas que seriam feitas e repassaram o material a Graça Foster

O Globo

BRASÍLIA — Reportagem publicada na edição da revista Veja deste sábado diz que a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, e ex-dirigentes da estatal ouvidos na CPI do Senado que investiga a empresa tiveram acesso prévio a perguntas - e respostas - que seriam feitas por parlamentares governistas durante as sessões. A revista informa que teve acesso a um vídeo de uma reunião em que o chefe do escritório da Petrobras em Brasília, José Eduardo Sobral Barrocas, e um advogado da empresa, Bruno Ferreira, teriam tratado do assunto. Segundo a revista, servidores da estatal redigiram respostas às perguntas que seriam feitas e repassaram o material a Foster, ao ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli e ao ex-diretor da Área Internacional Nestor Cerveró.

De acordo com a reportagem, Barrocas aparece no vídeo dizendo que as perguntas recebidas antecipadamente teriam sido formuladas pelo assessor especial da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República Paulo Argenta; pelo assessor Marcos Rogério de Souza, da liderança do governo no Senado; e Carlos Hetzel, assessor da liderança do PT na Casa.

A reportagem relata que a operação para preparar os depoimentos teria tido a participação do senador Delcídio Amaral (PT-MS), que é próximo a Cerveró e teria entrado em contato com o ex-diretor. A revista cita também o relator da CPI da Petrobras no Senado, senador José Pimentel (PT-CE), que teria recorrido ao ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra e a Foster para fazer chegar às mãos de Gabrielli as perguntas e respostas do depoimento dado pelo ex-presidente da estatal em 20 de maio deste ano.

Ainda segundo a revista, o vídeo foi gravado em 21 de maio, na véspera do depoimento prestado por Cerveró à comissão. A revista informa que o vídeo foi gravado com uma caneta espiã por alguém que participava da reunião ou estava presente na sala.

Em nota, o líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), que integra a CPI mista da Petrobras no Congresso, acusou o governo Dilma Rousseff e o PT de promoverem uma farsa para obstruir os trabalhos da comissão. Ele anunciou que, na segunda-feira, encaminhará requerimento ao presidente da comissão mista, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), solicitando a investigação da denúncia.

Ele também defende que seja feita uma "apuração rigorosa sobre o envolvimento de integrantes das comissões de inquérito na farsa":

— De imediato vou pedir que o presidente da CPMI determine o afastamento dos parlamentares que tiverem envolvimento com o esquema. Não é possível que alguém escolhido para investigar atue descaradamente para beneficiar os suspeitos. Isso é inadmissível e não resta outro caminho que não seja a substituição deles em face da suspeição de conluio.

Bueno quer também que Barrocas e Ferreira sejam ouvidos no Congresso.

— Vamos exigir que a presidência da CPI e da CPMI da Petrobras determine a abertura imediata de investigação e adote providências para punir os responsáveis por mais essa farsa armada pelo PT e pelo governo da presidente Dilma Rousseff. Isso é clara obstrução da investigação, que em processos judiciais costuma render decretação de prisão preventiva - diz o líder do PPS, na nota.

Bueno defendeu ainda a anulação dos depoimentos ensaiados.

— Também vamos pedir ao presidente da CPI que anule esses depoimentos e convoque novamente os investigados — diz o deputado.

O GLOBO entrou em contato com a Petrobras, mas ainda não recebeu retorno.

Oposição reage e pede anulação dos depoimentos da CPI da Petrobras

• Aécio anunciou que PSDB acionará conselhos de ética. Líder do DEM na Câmara defendeu a anulação dos depoimentos à CPI do Senado

Isabel Braga e Flávio Ilha – O Globo

BRASÍLIA e PORTO ALEGRE — O senador Aécio Neves, candidato do PSDB à presidência, anunciou neste sábado, em Porto Alegre, que o partido irá ingressar na segunda-feira com representações junto aos conselhos de ética do Senado, da Presidência da República e da Petrobras para investigar as denúncias de que houve farsa nos depoimentos da CPI da Petrobras.

As denúncias foram reveladas pela revista Veja que começou a circular no sábado. A publicação teve acesso a uma gravação apócrifa (sem fonte) em que o chefe do escritório da Petrobras em Brasília, José Eduardo Sobral Barrocas, conversa com Bruno Ferreira, advogado da estatal, sobre a combinação de depoimentos de servidores públicos e diretores da empresa nas sessões da Comissão.

No vídeo, Barrocas revela que houve combinação entre perguntas e respostas e treinamento para os depoentes. A conversa envolve os senadores Delcídio do Amaral (PT/MS), Vanessa Graziotin (PCdoB-AM) e José Eduardo Dutra (PT-SE).

Segundo Aécio, as denúncias, se comprovadas, são de “extrema gravidade”.

— A reportagem mostra servidores públicos da Presidência, senadores e funcionários da Petrobras enganando a sociedade brasileira. Se de fato isso ocorreu, é um enorme desrespeito. Uma verdadeira farsa. O PSDB irá tomar as medidas judiciais necessárias — disse.

O candidato informou que a direção do PSDB vai se reunir durante o final de semana para preparar os recursos. Outras medidas poderão ser sugeridas, como representar denúncia contra os citados junto à Procuradoria-Geral da República. Aécio lamentou a “judicialização” da campanha e atribuiu a proliferação dos recursos à dificuldade do PT em “separar público e privado”.

Na quinta-feira, a Executiva do PSDB acionou a Justiça contra a presença de ministros na sabatina da presidente Dilma Rousseff na CNI, ocorrida um dia antes. Na sexta, o PT respondeu acionando Aécio pela suposta utilização irregular de pistas de pouso nos municípios de Claudio e Montezuma, em Minas Gerais. A acusação é de que houve “atentado contra a segurança aérea”.

— Todas as denúncias contra nós serão devidamente respondidas. Essa representação (do PT) não merece nem reposta de tão ridícula. As agências reguladoras é que deveriam ser investigadas pela demora em conceder licenças, que podem levar até dez anos. Isso mostra a incapacidade de gestão do PT e o esfacelamento das agências reguladoras. Iremos à Justiça sempre que acharmos necessário — afirmou.

Depois do encontro com a imprensa, Aécio e Ana Amélia participaram de um comício no Gigantinho. Os dois candidatos não participaram da caminhada dos militantes do PP que participaram do ato.


LÍDERES DA CÂMARA DEFENDEM ANULAÇÃO DE DEPOIMENTOS
O líder do DEM na Câmara dos Deputados, Mendonça Filho (PE), defendeu a anulação dos depoimentos de Foster e dos ex-dirigentes da estatal à CPI do Senado e a apuração se esse tipo de prática por parte de parlamentares governistas também ocorreu na CPI Mista da Petrobras. O DEM quer ainda a convocação, na CPI mista da Petrobras, dos assessores da Petrobras e do governo, citados na reportagem da Veja, além do ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini.

— Temos que apurar essa denúncia de armação na CPI do Senado e apurar a extensão na CPI mista, saber se ela também está envolta neste tipo de prática nefasta. Anular os depoimentos dados à CPI do Senado, que sempre foi uma farsa para encobrir as irregularidades e por isso a oposição, publicamente não compactuou com essa CPI —disse Mendonça Filho, acrescentando:

— Vou falar com o senador Vital do rego, que é presidente das duas CPIs e pedir apuração. O fato da oposição não compactuar com o teatro da CPI do Senado não significa transformar o instrumento da CPI — instrumento importante do Legislativo — em departamento de manobra do Planalto. Isso fere a imagem do Legislativo. Uma atitude que não pode ser tolerada.

A oposição questionou a CPI da Petrobras exclusiva do Senado e não participou dos depoimentos. Segundo a revista Veja, as perguntas e respostas de senadores da base aliada foram enviadas à Foster e aos dirigentes da estatal (Sérgio Gabrielli e Nestor Cerveró) para participar de depoimentos na CPI exclusiva do Senado.

O líder do Solidariedade na Câmara, Fernando Francischini (PR), também condenou, por meio de sua assessoria, "a encenação orquestrada por pessoas ligadas" à Petrobras e ao governo:

— Agora entendemos porque a senadora Gleisi Hoffmann dizia que o governo e a presidente Dilma não tinham medo da CPI. Porque estava tudo vergonhosamente ensaiado! Um teatro que o governo Dilma fez para enganar o Brasil. O PT faz de tudo para esconder a roubalheira. Transforma políticos em atores para repetir o mantra do PT de que não existe roubalheira — diz Francischini.

O líder do Solidariedade diz que a oposição ficará atenta à CPI mista, onde eles estão presentes, mas o governo tem maioria:

— Agora temos que ficar atentos para a CPMI da Petrobras porque lá o governo tem maioria. É provável que este teatro esteja acontecendo também na CPMI. Com perguntas e respostas já previamente combinadas. O PT debocha do povo brasileiro ao ser conivente com a corrupção.

O lider do DEM pedirá a convocação de Ricardo Berzoni à CPI mista e também ao plenário da Câmara e em duas comissões da Câmara (Fiscalização Financeira e Segurança Pública). De acordo com a reportagem da Veja, um dos envolvidos na denúncia de envio de perguntas dos senadores governistas aos que iriam depor da CPI é o assessor especial da SRI, Paulo Argenta.

Mendonça Filho também pedirá a convocação de Argenta à CPI, além do chefe do escritório da Petrobras em Brasília, José Eduardo Sobral Barrocas; do advogado da estatal, Bruno Ferreira; do assessor da Liderança do Governo no Senado, Marcos Rogério de Souza; do assessor da Liderança do PT na Casa, Carlos Hetzel; e dos senadores Delcídio Amaral (PT-MS) e José Pimentel (PT-CE), todos citados na denúncia da revista Veja.

Procurada, a Secretaria de Relações Institucionais disse que não irá se pronunciar neste sábado. O senador Pimentel, por meio de sua assessoria, também não falará hoje. Irá analisar as denúncias na segunda-feira, quando retornar a Brasília.

A grande farsa

• A CPI da Petrobras foi criada com o objetivo de não pegar os corruptos. Ainda assim, o governo e a liderança do PT no Senado decidiram não correr riscos e montaram uma fraude que consistia em passar antes aos investigados as perguntas que lhes seriam feitas pelos senadores. A trama foi gravada em vídeo

Hugo Marques – Veja

Era tudo farsa. Mas começou parecendo que, dessa vez, seria mesmo para valer. Em março deste ano, os parlamentares tiveram um surto de grandeza institucional. Acostumados a uma posição de subserviência em relação ao Palácio do Planalto, eles aprovaram convites e convocações para que dez ministros prestassem esclarecimentos sobre programas oficiais e denúncias de irregularidades.

Além disso, começaram a colher as assinaturas necessárias para a instalação de uma CPI destinada a investigar os contratos da Petrobras. Ventos tardios, mas benfazejos, finalmente sopravam na Praça dos Três Poderes, com deputados e senadores dispostos a exercer uma de suas prerrogativas mais nobres: fiscalizar o governo. O ponto alto dessa agenda renovadora era a promessa de escrutinar contratos firmados pela Petrobras, que desempenha o papel de carro-chefe dos investimentos públicos no país. Na pauta, estavam a suspeita de pagamento de propina a servidores da empresa e o prejuízo bilionário decorrente da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, operação que jogou a presidente Dilma Rousseff numa crise política sem precedentes em seu mandato. O embate estava desenhado. O Legislativo, quem diria, esquadrinharia o Executivo. Pena que tudo não passou de encenação.

O caso de Pasadena parecia ter potencial para desconstruir a imagem de gestora da presidente e atrapalhar sua candidatura à reeleição. Ele ganhou fôlego depois de uma troca de acusações entre os próprios governistas. Primeiro, Dilma disse que votou a favor da aquisição da refinaria, em 2006, quando comandava o Conselho de Administração da Petrobras, com base num parecer "falho" elaborado por Nestor Cerveró, então diretor da área internacional da Petrobras. O parecer teria omitido a existência de duas cláusulas contratuais capitais, o que teria induzido os conselheiros a erro. Integrantes da antiga cúpula da Petrobras reagiram. Ex-presidente da companhia, José Sergio Gabrielli afirmou que Dilma queria se eximir de uma "responsabilidade" que também era dela. Já Cerveró ameaçou desmentir a presidente se fosse convocado a depor no Congresso, declarando que ela dispunha, sim, de todas as informações necessárias para a tomada de decisão. A mera perspectiva de investigação provocava uma disputa fra-tricida e desgastava a presidente-candidata a seis meses da eleição. Foi justamente por isso que parlamentares governistas selaram um armistício e, longe dos holofotes, fecharam um acordo espúrio para neutralizar a CPI, proteger-se uns aos outros e, principalmente, salvaguardar a campanha de reeleição de Dilma Rousseff.

VEJA teve acesso a um vídeo que revela a extensão da fraude. O que se vê e ouve na gravação é uma conjuração do tipo que, nunca se sabe, pode ter existido em outros momentos de nossa castigada história republicana. Mas é a primeira vez que uma delas vem a público com tudo o que representa de desprezo pela opinião pública, menosprezo dos representantes do povo no Parlamento e frontal atentado à verdade. Com vinte minutos de duração, o vídeo mostra uma reunião entre o chefe do escritório da Petrobras em Brasília, José Eduardo Sobral Barrocas, o advogado da empresa Bruno Ferreira e um terceiro personagem ainda desconhecido.

A decupagem do vídeo mostra que, espantosamente, o encontro foi registrado por alguém que participava da reunião ou estava na sala enquanto ela ocorria. VEJA descobriu que a gravação foi feita com uma caneta dotada de uma microcâ-mera. A existência da reunião e seus participantes foram confirmados pelos repórteres da revista por outros meios — mas a intenção da pessoa que fez a gravação e a razão pela qual tomou público seu conteúdo permanecem um mistério. Quem assiste ao vídeo do começo ao fim — ele acaba abruptamente, como se a bateria do aparelho tivesse se esgotado — percebe claramente o que está sendo tramado naquela sala. E o que está sendo tramado é, simplesmente, uma fraude caracterizada pela ousadia de obter dos parlamentares da CPI da Petrobras as perguntas que eles fariam aos investigados e, de posse delas, treiná-los para responder a elas. Isso eqüivale a entregar por debaixo do pano a candidatos de um concurso o gabarito das respostas das provas — e ainda ajudá-los a resolver os problemas propostos. Muita gente desonesta conseguiu entrar na universidade por esse caminho torto. Aqui não se trata de obter fraudulentamente uma vaga no ensino superior. O que o vídeo mostra é a armação de uma fraude para tentar impedir que o povo brasileiro viesse a saber os caminhos e descaminhos de um negócio de centenas de milhões de dólares que, de tão contestado, demandou a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), um dos poucos instrumentos com punir os que malversam seu dinheiro.

A montagem do alçapão destinado a tragar a CPI no Senado teve a participação de servidores graduados do Palácio do Planalto, da Petrobras, do PT e até do presidente de uma das mais combativas comissões parlamentares da história recente, o senador Delcídio Amaral (PT-MS), que comandou a CPI dos Correios, a investigação que resultou na cassação e prisão de mensaleiros ilustres, como o petista José Dirceu. Barrocas revela no vídeo que até um "gabarito" foi distribuído para impedir que houvesse contradições nos depoimentos. Um escárnio. Um teatro.

O Brasil inteiro foi enganado nas transmissões de televisão que mostravam os convocados sendo bombardeados por questionamentos durante horas, no que parecia uma legítima apuração da verdade dos fatos. No dia seguinte, os jornais registravam fielmente em manchetes o desenrolar da CPI. Colunistas e analistas políticos e econômicos faziam suas avaliações, reproduziam entre aspas solenes declarações dos integrantes da comissão. Um trabalho sério, bem-intencionado, mas feito sobre um fundo falso, sobre um jogo combinado entre investigados e investigadores. O momento mais cínico da farsa, descobre-se agora, se deu no depoimento de Cerveró. Depois que o ex-presidente Lula mandou Gabrielli parar de confrontar Dilma, Cerveró se tornou o principal motivo de apreensão do governo porque ameaçara desmentir a presidente diante dos parlamentares. Essa ameaça jamais se consumou. No vídeo, uma das falas de Barrocas desfaz o mistério: ele insistia em saber se estava tudo certo para que chegassem às mãos de Cerveró as perguntas que lhe seriam feitas na CPI.

Paulo Argenta, assessor especial da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Marcos Rogério de Souza, assessor da liderança do governo no Senado, e Carlos Hetzel, assessor da liderança do PT na Casa, são citados como peças-chave da tenebrosa transação. A eles coube fazer muitas das perguntas que alimentariam a cadeia de ilegalidades entre investigados e investigadores. Diz Barrocas: "Eu perguntei quem é o autor dessas perguntas. Oitenta por cento é do Marcos Rogério. O Carlos Hetzel fez alguma coisa. O Argenta fez outras". Barrocas conta também que o senador Delcídio Amaral era peça-chave da operação para manter Cerveró sob o cabresto governista. Nada mais natural. Delcídio foi padrinho político do ex-diretor na Petrobras. Quando a crise estourou, o senador fez a ponte entre Cerveró e os bombeiros do governo. Tamanha era a sua ascendência sobre o afilhado que até combinava com ele o que e quando falar com os jornalistas. "Falei: "Ó Delcídio, compacta aí". Chamaram ele (Cerveró), deram um curso a ele, media training", declarou Barrocas. Em resposta, o participante da reunião não identificado pela reportagem lembrou que funcionários do departamento jurídico da Petrobras acompanharam o treinamento de Cerveró na véspera do depoimento.

Nessa altura do vídeo, em uma alma mais crédula pode surgir a dúvida de que talvez se tratasse de um tumor institucional, mas do tipo benigno. Ou seja, quem sabe os prestimosos funcionários da Petrobras em Brasília não estariam apenas e tão somente fornecendo informações básicas e públicas aos investigados de modo a poupá-los do constrangimento de fornecer dados inexatos sobre a empresa. Essa impressão benigna se dissipa logo. O tumor é maligno. O objetivo era mesmo montar uma farsa com diálogos combinados entre os suspeitos e seus investigadores na CPI. Barrocas diz em alto e bom som no vídeo que a estratégia de combinar as perguntas e as respostas já havia sido usada em 20 de maio, quando Gabrielli depôs na CPI da Petrobras no Senado. O relator da comissão, o petista José Pimentel (CE), a quem respondem Marcos Rogério e Carlos Hetzel, deu o gabarito a Gabrielli — isso mesmo, gabarito, o termo clássico que define um conjunto de respostas corretas a um conjunto de perguntas. Para um candidato ao vestibular, obter o gabarito antes da prova é garantia de aprovação. Pimentel recorre ao ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra, que hoje ocupa um cargo de direção na empresa, e à atual comandante da companhia, Maria das Graças Foster, para fazer o gabarito da CPI chegar a Gabrielli. "Eu digitalizei e passei para a Graça. Por quê? Porque eu não sabia que era o "gabarito". Achei que o Dutra tinha trazido para ele e: "estuda aí". Depois que fui lá vi que era o "gabarito". De posse das perguntas e respostas, Gabrielli, Foster e Cerveró passaram com louvor no teatro da CPI. Todos eles "estudaram aí"!

Cerveró ouviu 157 perguntas, das quais 138 do relator Pimentel, dezoito da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e uma do presidente da CPI, Vital do Rêgo (PMDB-PB). Os três são da base de apoio a Dilma. Vanessa estava se sentindo dona da situação e tripudiou sobre a oposição: "Lutaram muito para que a CPI tosse instalada, mas agora, em vez de participar, preferem ficar nominando a CPI de "CPI amiga", de "CPI chapa-branca". Com todo esse conjunto de questionamentos? Imagina!". Pois é, senadora Vanessa, com todo esse conjunto de questionamentos conhecidos previamente pelos dois lados da mesa, não foi mesmo uma CPI amiga ou chapa-branca, foi uma CPI que vai demandar uma outra CPI para desvendai- até onde foi a ousadia dos fraudadores, para descobrir que outros crimes foram cometidos além daqueles flagrantemente capitulados nos vinte minutos do vídeo.

"O poder de fiscalização é a própria essência do Legislativo. Não é normal o depoente ou a testemunha terem acesso às perguntas previamente. Isso facilita a vida deles e atrapalha o processo de investigação", disse o senador Vital do Rêgo, presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Casa. Como é bom advogado, pego de surpresa, Vital deu uma resposta política. Procurados por VEJA, Gabrielli, Dutra, Barrocas e Bruno não quiseram comentar o caso. Paulo Argenta disse que não tem nada a ver com isso. A Petrobras declarou, protocolarmente, que colabora com as investigações em andamento. Delcídio Amaral disse que deu apenas sugestões a Cerveró quando o ex-diretor participou de uma audiência pública na Câmara, em abril, antes da instalação da CPI da Petrobras. "Eu sugeri que ele fosse técnico, tivesse um viés empresarial e não titubeasse em relação ao assunto." O senador reconheceu que manteve contato com Barrocas, mas negou que tenha participado da orquestração para vazar as perguntas e combinar as respostas. Carlos Hetzel admitiu que fez perguntas direcionadas aos ex-diretores e disse que entregou o material ao relator Pimentel. "Se eu souber que as perguntas chegaram às mãos dos investigados, denuncio à Polícia Federal." Marcos Rogério também se mostrou assustado com a possibilidade de as perguntas que formulou terem sido passadas aos investigados. Como diria o Ricardo III de Shakespeare: "Agora que as feridas fecharam / e a paz voltou / que ela tenha longa vida entre nós / Amém!". Pena que não é teatro.

Com reportagem de Adriano Ceolin

A tropa petista vai ao ataque: O Estado de S. Paulo - Editorial

A presidente Dilma Rousseff, seu estafe e grão-petistas em geral têm reagido de forma agressiva e autoritária a todo tipo de reparo sobre o modo como o País vem sendo governado. Relatórios e análises que desmintam o cenário róseo descrito pela propaganda oficial logo são desqualificados pelas autoridades federais, como se os críticos - ainda que pertencentes a instituições internacionais importantes - fossem despreparados ou estivessem apenas movidos por má-fé.

É óbvio que os nervos afloram em época de campanha eleitoral, mas o que se espera da presidente é serenidade, pois ela ainda é a responsável pela administração do País. O que se tem notado, no entanto, é um crescente destempero.

O caso mais recente envolveu um relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) que colocou o Brasil entre as cinco economias emergentes mais suscetíveis de sofrer os efeitos de outra crise financeira global. As demais seriam Índia, Turquia, Indonésia e África do Sul. Segundo o relatório, esses países estariam vulneráveis em razão de inflação alta e rombo nas contas internas e externas, entre outros problemas. No caso específico do Brasil, a situação das contas externas é qualificada de "moderadamente frágil".

A resposta do governo a essa análise correta dos fatos foi truculenta. "Não faz sentido a conclusão desse relatório", disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Para ele, uma instituição respeitável não faria uma análise dessas e o estudo só pode ter sido elaborado "por uma equipe do FMI que eu não sei quem é".

O ímpeto petista para desqualificar os críticos já chegou às raias do ridículo. Em fevereiro, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) propôs um voto de censura contra o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) depois que este incluiu o Brasil entre as economias vulneráveis. Segundo Gleisi, o relatório do Fed usou uma metodologia inadequada "para se chegar a conclusões confiáveis". Na mesma sessão do Senado, outro petista, José Pimentel (CE), resumiu tudo ao dizer que o Fed é simplesmente incompetente.

Esse estilo arrogante é o mesmo que marcou a reação ao já famoso boletim do Santander, no qual o banco alertava os clientes que, se Dilma subir nas pesquisas, poderá haver "deterioração de nossos fundamentos macroeconômicos".

Embora apenas retratasse o ambiente carregado do mercado e dos investidores graças aos sucessivos erros cometidos pelo governo, o texto foi tratado por indignados petistas como "terrorismo eleitoral". Descontrolado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a exigir a demissão da analista que elaborou o boletim, recorrendo a palavrões para desqualificá-la.

Já a presidente Dilma, em lugar de apaziguar os ânimos, seguiu toada semelhante, ao dizer que vai tomar uma "atitude bastante clara em relação ao banco" - ameaça que ficou pairando no ar - e acusou o Santander de "interferência" no processo eleitoral. O desequilíbrio é evidente.

Outro caso recente em que o governo tratou de desmerecer informações que contradizem o alardeado sucesso de suas políticas ocorreu na divulgação, pela ONU, do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que envolve expectativa de vida, escolaridade e renda média. Segundo a organização, o Brasil aparece em 79.º lugar entre 187 países, tendo subido apenas uma posição em relação ao ano anterior. O ligeiro avanço foi encarado pelo governo como uma ofensa.

Nada menos que três ministros convocaram a imprensa para contestar os números usados pela ONU. Se os dados estivessem atualizados, disseram eles, o Brasil apareceria em 67.º lugar. Não é a primeira vez que o atual governo critica as contas do IDH - para as autoridades, se o índice não refletir os extraordinários avanços sociais patrocinados pelo lulopetismo, então ele só pode estar errado.

Diante desses casos, fica claro que o governo não pretende se limitar a rebater avaliações e números negativos. A tropa petista está de prontidão para ir além, desacreditando com agressividade todo aquele que representar o contraditório. Recordando Dilma: "Nós podemos fazer o diabo na hora da eleição".

Herança – Renúncia fiscal vai tirar R$ 40 bi do futuro governo

• Desoneração puxarão a economia para baixo entre 2015 e 2017

Uma conta de R$ 40 bilhões na arrecadação

• Medidas do governo não tiveram estímulo esperado na economia

Martha Beck – O Globo

BRASÍLIA - A estratégia da equipe econômica de turbinar o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) com desonerações nos últimos anos ainda não teve o efeito desejado na economia, mas continua a puxar a arrecadação para baixo. Embora os técnicos tenham colocado o pé no freio nas benesses em 2014, as reduções de impostos pesam mais nas receitas hoje do que em 2013. E isso continuará a ocorrer. Segundo cálculos da Receita Federal, um conjunto de desonerações terá impacto de R$ 40 bilhões sobre as contas de 2015 a 2017, no próximo governo. Em 2013, a arrecadação totalizou R$ 1,138 trilhão.

Isso ocorre, em boa parte, porque o governo estendeu alguns benefícios e prorrogou outros, como o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido para o setor automotivo. Além disso, como muitos incentivos não têm prazo para acabar, eles acabam afetando as contas ao longo de vários anos.

Os R$ 40 bilhões também se referem a: corte de IPI para outro setores; reajuste da tabela do IR; isenção de IR para a venda de ações por pessoas físicas; incentivos para o mercado de capitais; benefícios à indústria de semicondutores; redução de IOF para investimentos estrangeiros com prazo mínimo de 180 dias; ampliação da lista de medicamentos com crédito presumido; volta do Reintegra (crédito a exportadores); dispensa de recolhimentos de alguns impostos nas compras governamentais de passagens aéreas; e eliminação de IOF no crédito sobre as operações contratadas pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).

Especialistas reconhecem que desonerações são importantes para ajudar a reduzir custos do setor produtivo, mas afirmam que a forma como o governo age é errática e não cria um ambiente favorável para investimentos que estimulem o crescimento da economia.

— O governo desonerou, mas os setores não estão necessariamente investindo mais por causa disso. Houve muitas mudanças de rota. Um exemplo é ter primeiro baixado muito os juros e depois subido muito — afirma o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas. — Houve também uma política de desonerações muito pontual. Você não enxerga a floresta, você só enxerga árvore.

O Reintegra é citado como um exemplo da estratégia errática. Criado em 2011 para ajudar exportadores – que já sofriam os efeitos da concorrência dos importados por causa do câmbio –, o programa foi encerrado em 2013, por falta de espaço fiscal. Agora, foi retomado, mas com alíquota diferenciada.

— O governo fez desonerações com uma perspectiva muito otimista de que o PIB iria reagir e compensar a perda das receitas. Mas isso não se confirmou — destaca o economista-chefe da corretora Gradual Investimentos, André Perfeito.

A economia brasileira, que chegou a crescer 2,7% em 2011, não terá alta maior que 1% este ano, segundo previsões do mercado financeiro. Assim, o fechamento das contas do governo, que costuma depender mais do bom desempenho das receitas que de cortes nas despesas, fica cada vez mais difícil.

— O governo foi criando uma bomba-relógio. As desonerações tinham sentido lá atrás, quando a crise internacional prejudicou todo mundo. Mas não souberam a hora de parar — argumenta Margarida Gutierrez, professora de Economia da UFRJ.

O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, afirma que o crescimento do PIB não depende apenas de desonerações e lembra que a economia sofreu os efeitos da crise no mercado internacional:

— A atividade econômica não depende só da questão tributária. Com a crise, houve moderação do crescimento mundial. O Brasil não foi exceção.

Holland destaca que 64% do total das desonerações feitas no governo Dilma Rousseff foram voltadas para reduzir custos com investimentos e produção:

— O resultado não ocorre no curtíssimo prazo.

Segundo o secretário, a retirada de encargos da folha de pagamento das empresas é um exemplo do sucesso da política tributária. Ele afirma que a medida deve acrescentar cerca de R$ 25 bilhões ao PIB nos próximos anos, além de ter contribuído para a criação e a manutenção de postos de trabalho no país.

Para as já deterioradas contas públicas, há uma repercussão negativa. Margarida Gutierrez acredita que a equipe econômica não conseguirá cumprir a meta de superávit primário (economia para o pagamento de juros da dívida pública) fixada para 2014, de 1,9% do PIB. O economista da consultoria Tendências Felipe Salto também não acredita que o governo cumprirá a meta.

— O surpreendente é que o custo dessas desonerações era previsível, mas o governo esperava uma recuperação no PIB que não veio. O governo poderia ter feito esse diagnóstico antes, vendo que a economia não cresceu dentro do esperado — diz Salto.

Márcio Holland, no entanto, defende que o impacto negativo das desonerações sobre as contas públicas é um falso problema: quando a economia reagir, as receitas também vão se recuperar.

Dilma lança PAC 3 sem concluir 30% de obras do PAC 1

• Há atrasos e projetos refeitos entre as principais ações do programa de infraestrutura; governo vê salto positivo

• Dilma relança PAC com 30% das grandes obras inacabadas

• Maioria dos projetos relevantes do programa lançado por Lula, em 2007, atrasa

• Orçamentos tiveram de ser revistos por causa do não cumprimento de prazos e em razão de mudanças nos planos

Dimmi Amora – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Às vésperas de anunciar a terceira versão do Programa de Aceleração do Crescimento, o governo federal ainda tenta concluir uma de cada quatro obras mais relevantes do PAC 1, lançado em 2007.

Levantamento feito pela Folha com base no balanço oficial dos primeiros quatros meses de execução do programa, mostra que dos 101 projetos destacados pelo Planalto como mais importantes, 27 não foram concluídos e 4 foram abandonados.

O programa inicial, lançado pelo ex-presidente Lula, previa um total de 1.646 projetos, orçados em R$ 503,9 bilhões. Já o PAC 2, lançado por Dilma em 2011, incorporou empreendimentos não realizados no PAC 1 e estimou investir R$ 955 bilhões.

Atrasos constantes e mudanças no planejamento inicial acabaram alterando orçamentos nesses sete anos.

Segundo o documento do governo, todas as obras do PAC 1 consideradas relevantes deveriam estar prontas ou em operação em 2014.

Nessa lista, estão grandes projetos, como a usina hidrelétrica de Belo Monte, a transposição do Rio São Francisco e a refinaria Abreu e Lima (em Pernambuco), todos ainda em andamento.

Das 70 obras concluídas, mais da metade estourou o prazo. Entre os casos extremos está a reforma do aeroporto de Vitória (ES), que só deve ser concluída dez anos depois.

Alguns projetos da lista do PAC 1 que o governo considera como concluídos, como duplicações de sete rodovias federais, ainda estão em andamento. Como a administração dessas estradas foi transferida à iniciativa privada em 2008, o Ministério do Planejamento considera essas obras prontas.

As duplicações deveriam ter sido terminadas em 2013, mas as empresas que administram essas estradas dizem que as obras seguem até 2018.

No grupo de 61 intervenções atrasadas, a expectativa média é que os projetos fossem concluídos 30 meses após o prazo previsto em 2007. Aeroportos e portos atrasarão, em média, quatro anos.

Os projetos mais relevantes do PAC 1 custariam aos cofres públicos R$ 156 bilhões, de acordo com as estimativas iniciais. Atualmente, esse valor já está em R$ 272 bilhões.

Além dos atrasos, em alguns casos os custos subiram porque o projeto inicial foi completamente revisto.

A reforma do aeroporto de Brasília, por exemplo, previa pequenas intervenções e um novo anexo. Privatizado em 2012, a empresa vencedora acabou refazendo o projeto, elevando a estimativa de custo em quase 20 vezes.

A polêmica refinaria Abreu e Lima (PE), investigada pela Polícia Federal por suspeita de superfaturamento, só deve ficar pronta em 2015 e custará à Petrobras R$ 26,8 bilhões. A previsão inicial era de R$ 5,6 bilhões.

Técnicos ouvidos pela Folha afirmam que as projeções iniciais do PAC refletiam uma falta de experiência do governo para executar grandes obras, já que as décadas de 80 e 90 foram marcadas por seguidas crises econômicas.

As áreas técnicas do governo estudam o PAC 3 desde o início do ano, mas não houve ainda anúncio oficial sobre o formato do programa.

Empresários de várias áreas do setor de infraestrutura estão apresentando demandas sobre as intervenções mais prioritárias e as propostas estão em análise pelo governo.

Fernando Henrique Cardoso: Falta sentimento democrático

- O Estado de S. Paulo

Ainda é cedo, mas há fortes indícios de que o PT perderá as próximas eleições. Em que Estado com muitos eleitores seus candidatos a governador se mostram competitivos? Talvez em um. No total os petistas aparecem bem situados apenas em quatro Estados, se tanto, três deles com não muitos eleitores. Quanto aos aliados, especialmente o principal, o PMDB, parece que andam em franca debandada em vários Estados. Também, pudera, como pedir fidelidade no apoio à reeleição quando, além do pouco embalo da chapa presidencial, os candidatos da oposição e do próprio PMDB aos governos estaduais aparecem bem à frente dos candidatos do PT?

As taxas de rejeição da presidenta estão nas nuvens, não só em São Paulo, onde nem o céu é o limite. Também crescem nos pequenos municípios do Norte e do Nordeste para onde, nas asas das Bolsas Família, migraram os apoios do partido que nasceu com os trabalhadores urbanos. As raízes deste quadro se abeberam em vários mananciais: os das dificuldades econômicas, da tragédia das políticas energéticas (vale Prêmio Nobel derrubar ao mesmo tempo o valor de bolsa da Petrobrás e as chances do etanol e ainda encalacrar as empresas de energia elétrica), da confusão administrativa, do pântano das corrupções, e assim por diante. Culpa da presidenta? Não necessariamente.

Há tempo escrevi um artigo nesta página com o título Herança maldita. Fazia ironia, obviamente, com o estigma que petistas ilustres quiseram impingir ao meu governo. No artigo indicava que a origem das dificuldades não estava no atual governo, vinha de seu predecessor. A cada oportunidade que tenho procuro separar a figura da presidenta, seu comportamento passado e atual, digno de consideração, dos erros que, eventualmente, atribuo ora a ela, ora ao estilo petista de governar.

Mas, francamente, é demais não reconhecer que há motivos reais, objetivos, para o mal-estar que envolve a atual política brasileira sob hegemonia petista. Abro ao acaso os jornais desta semana: os europeus advertem que a produtividade do País está estagnada; o humor do varejo em São Paulo é o pior em três anos; a produção industrial e a confiança dos industriais não param de cair; o FMI publica documento oficial assinalando que nossa economia é das mais vulneráveis a uma mudança no cenário internacional e ajusta mais uma vez para baixo a projeção de crescimento do PIB brasileiro em 2014 para 1,3% (seriam otimistas?); o boletim Focus, do Banco Central, prevê um crescimento ainda menor, de 0,9% (seriam os pessimistas?); o juro para a pessoa física atinge seu maior patamar em três anos; a geração de empregos é a menor para o mês de junho em 16 anos; para não falar na decisão do TCU de bloquear os bens dos dirigentes da Petrobrás ao responsabilizá-los por prejuízos causados aos cofres públicos na compra da refinaria de Pasadena.

Espanta, portanto, que a remessa de análise conjuntural feita por analistas de um banco a seus clientes haja provocado reações tão inusitadas. O mercado não deve intrometer-se na política, protestaram governo e petistas. Talvez. Mas se intromete rotineiramente e quando o vento está a favor os governos se deixam embalar por seu sopro. Então, por que agora e por que de forma tão desproporcional ao fato, presidenta?

Não creio que seja por desconhecimento da situação, muito menos por ingenuidade. Trata-se de estratégia: o ataque é a melhor defesa. E nisso Lula é mestre. Lá vem aí de novo com a "zelite" (da qual faz parte) contra o povo pobre. Até aí, táticas eleitorais. Mas me preocupa a insistência em tapar o sol com peneira. Talvez queiram esconder o acúmulo de dificuldades que se estão avolumando para o próximo mandato: inflação subindo, com tarifas públicas e preço da gasolina represados; contas públicas que nem malabarismos fiscais conseguem ajustar; o BNDES com um duto ligado ao Tesouro, numa espécie de orçamento paralelo, como no passado remoto; as tarifas elétricas rebaixadas fora de hora e agora o Tesouro bancando os custos da manobra populista; e assim por diante. Em algum momento o próximo governo, mesmo se for o do PT, terá de pôr cobro a tanto desatino. Mas, creem os governistas, enquanto der, vamos empurrando com a barriga.

Que fez o governo do PSDB quando as pesquisas eleitorais de 2002 apontavam possível vitória do PT da época? Elevou os juros, antes mesmo das eleições, reduzindo as próprias chances eleitorais.

Sustentou mundo afora, antes e depois das eleições, que não haveria perigo de irresponsabilidades, pois as leis e a cultura do País haviam mudado. Pediu um empréstimo ao FMI, com a prévia anuência pública de todos os candidatos a presidente, inclusive e especificamente do candidato do PT. O dinheiro seria desembolsado e utilizado pelo governo a ser eleito para acalmar os mercados, que temiam um descontrole cambial e inflacionário, e mesmo uma moratória, com a vitória de Lula.

Aprovamos ainda uma lei para dar tempo e condições ao novo governo de se inteirar da situação e se organizar antes mesmo de tomar posse.

Agora, na eventualidade de vitória oposicionista (e, repito, é cedo para assegurá-la), que fazem os detentores do poder? Previnem-se ameaçando: faremos o controle social da mídia; criaremos um governo paralelo, com comissões populares sob a batuta da Casa Civil, que dará os rumos à sociedade; amedrontam bancos que apenas dizem o que todos sabem, etc. Sei que são mais palavras equívocas do que realidades impositivas. Mas denotam um estado de espírito. Em lugar de se prepararem para "aceitar o outro", como em qualquer transição democrática decente, estigmatizam os adversários e ameaçam com um futuro do qual os outros estarão excluídos.

Vejo fantasmas? Pode ser, mas é melhor cuidar do que não lhes dar atenção. A democracia entre nós, já disseram melhor outros personagens, é como uma planta tenra que tem de ser cuidada e regada com exemplos, pensamentos, palavras e ações todos os dias. Cuidemos dela, pois.

* Sociólogo, foi presidente da República

Merval Pereira: Nulos e brancos

- O Globo

A presidente Dilma Rousseff tem um caminho bem mais acidentado para conseguir a reeleição do que teve em 2010, especialmente pelo desejo de mudança que as pesquisas eleitorais vêm captando entre cerca de 70% dos eleitores.

Mas a oposição também não tem tido capacidade, até o momento, de atrair esse eleitorado descontente, o que faz com que Dilma permaneça na liderança da corrida presidencial e o índice de votos brancos e nulos se apresente extremamente alto para esta época da campanha, beneficiando quem está à frente da corrida, pois precisará de menos votos válidos para vencer.

Na pesquisa realizada em julho pelo Ibope, o índice de votos brancos e nulos ficou em torno de 16%, mais que o dobro do encontrado na mesma época em 2010, no registro da diretora daquele instituto, Marcia Cavallari. Não é à toa, portanto, que os oposicionistas começam a se preocupar com essa tendência, que pode representar tanto falta de interesse pelas eleições como desencanto com a política.

A não identificação dos eleitores com os candidatos oposicionistas é uma questão a ser atacada nas propagandas eleitorais de rádio e televisão, mas o candidato tucano Aécio Neves prepara-se para fazer uma campanha especial contra o voto nulo e branco, esclarecendo que ele beneficia geralmente os candidatos contra quem se quer protestar, na suposição de que o protesto sempre será em maior escala contra os que estão no governo.

Segundo Marcia Cavalari em entrevista ao “Estadão”, os eleitores que hoje dizem ter intenção de votar em branco ou nulo são mais escolarizados, possuem renda familiar mais elevada e vivem em grandes centros urbanos, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, um perfil bastante semelhante ao dos manifestantes de 2013. “Portanto, eles podem sim, ao longo da campanha, mudar para os candidatos de oposição”, analisa Cavalari, para quem a probabilidade desse tipo de eleitor votar na presidente Dilma “é bem mais baixa’.

Outra questão difícil para a presidente Dilma é o jogo do segundo turno, já que os índices do governo não facilitam a possibilidade de vencer a eleição no primeiro turno.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi reeleito em 1998 em meio a grandes dificuldades econômicas, a ponto de ter sido obrigado a desvalorizar o Real imediatamente após a vitória nas urnas.

Mas naquele momento o ambiente político era favorável à continuidade do Plano Real, e a permanência de FHC à frente do governo era uma garantia do projeto econômico, que tinha o apoio generalizado no Congresso e na população, tanto que a reeleição foi aprovada de maneira quase consensual na sociedade. Mas ele temia que, num segundo turno, o desgaste do governo aumentasse.

Hoje, um segundo turno será mais apertado do que se supunha, segundo as pesquisas, e a chance de vitória de qualquer um da oposição é real. O apoio da maioria dos eleitores de Eduardo Campos a Aécio contra Dilma num segundo turno acontecerá naturalmente, e será difícil a ele ficar em cima do muro, como Marina fez em 2010 e provavelmente fará este ano, pois na campanha sua ação será sempre contra Dilma e o PT, preservando o ex-presidente Lula. Segundo as pesquisas, 55% dos eleitores de Campos declaram preferir Aécio, enquanto apenas 26% votariam em Dilma.

O apoio do eleitorado de Aécio Neves a Campos também será natural. Os eleitores do pastor Everaldo, do PSC, também estarão naturalmente na oposição, pelo tom que ele está dando à sua campanha, e sua perspectiva eleitoral é muito boa, garantindo- lhe espaço político nas negociações do segundo turno.

E a presidente Dilma tem ainda problemas a resolver no eleitorado de extrema-esquerda, que pelo visto prefere uma derrota do PT: 64% dos eleitores do PSOL votam Aécio num segundo turno, assim como metade dos eleitores do PSTU.

Dora Kramer: Cessar fogo

- O Estado de S. Paulo

Ante a iminência de o governador Geraldo Alckmin ganhar a eleição no primeiro turno e prejudicar a já complicada situação da presidente Dilma Rousseff em São Paulo, foi estabelecido um cessar fogo entre PT e PMDB no maior colégio eleitoral do País.

Nada escrito nem formalizado, mas um acerto tácito com base na evidência de que o estica e puxa entre as campanhas de Paulo Skaf e Alexandre Padilha em torno da resistência do pemedebista em apoiar Dilma e da insistência dos petistas em obrigá-lo a abrir espaço para a presidente só tende a favorecer ainda mais o adversário de fato, o PSDB.

A avaliação do vice-presidente, segundo interlocutores, é a de que não haverá chance de ocorrer um segundo turno em São Paulo se os dois partidos não se unirem na tentativa de reduzir as intenções de voto de Alckmin, hoje em 50%.

Temer não analisa o quadro baseado em pesquisas, mas na política: não são poucos os prefeitos e as lideranças do PMDB que já querem se bandear para o lado do presumido vencedor. Se acontecer, a oposição ganha reforço para as candidaturas presidenciais de Aécio Neves e até de Eduardo Campos, pois o PSB está na vice de Alckmin.

O ambiente de briga aliado à queda de Skaf nas pesquisas só estimula esse movimento de migração e dificulta o trabalho de contenção. O candidato do PMDB já chegou a ter 21% das intenções de voto no mês de junho; agora está com 10%.

A temperatura entre os dois partidos chegou ao ponto de fervura na semana passada quando, diante da resistência de Skaf e de mais alguns dirigentes do PMDB regional em apoiar Dilma por causa da rejeição dela no Estado, o PT reagiu com faca nos dentes.

Circularam notícias de que poderia haver uma intervenção do PMDB nacional e que Michel Temer estaria pronto para enquadrar Skaf, obrigando-o a declarar-se cabo eleitoral da presidente.

Era um exagero ou precipitação. Temer preferiu fazer as coisas ao seu modo, contornando os obstáculos sem gestos impositivos, de forma a não deixar o candidato em situação de constrangimento diante do eleitorado.

Na quinta-feira Temer teve uma conversa séria com o candidato em que expôs os argumentos pelos quais seria altamente desvantajoso para ele mesmo e para o grupo político como um todo tratar o PT como inimigo.

"O PT é um concorrente na disputa, mas não um adversário", disse Temer, aconselhando Skaf a não levar em conta só as ponderações do marqueteiro, mas observar com atenção o cenário político.

E o quadro, na opinião dele, agora aponta para a necessidade de se construir uma chance de haver segundo turno. Se for eleito no primeiro, Geraldo Alckmin mais a tropa do PSDB e aliados em São Paulo estarão livres para trabalhar contra Dilma Rousseff.

Ficou, portanto, acertado o seguinte: o PMDB em São Paulo não abraça, mas também não afasta a candidatura da presidente. Ela não precisa ser o eixo da campanha de Skaf. Ao contrário, o ponto central do candidato será o Estado, a população e seus problemas; transportes, segurança, abastecimento de água e tudo o que afeta o dia a dia do cidadão.

Skaf não está obrigado a falar na presidente. Mas também não deverá renegá-la. A tarefa de fazer menção a ela e pontuar a "boa relação" do partido com o governo federal ficará com Michel Temer.
Em contrapartida, o PT para de cobrar do candidato do PMDB uma posição mais explícita; esse papel no plano estadual é do petista Alexandre Padilha.

Moral da história: o combinado não sai caro.

Lição do abismo. Do caso do aeroporto construído em terras da família Neves, fica ao senador Aécio a seguinte constatação: não cabe ao candidato a presidente julgar o que seja relevante ou não; a ele cabe responder com clareza, e presteza, o que lhe é perguntado.

Ou então questões irrelevantes acabam se tornando absolutamente desgastantes.

Eliane Cantanhêde: A indústria dá o troco

- Folha de S. Paulo

Há uma relação direta entre dois anúncios cheios de significado: a produção da indústria caiu em 21 de 26 setores em junho; a arrecadação da campanha de Dilma Rousseff caiu em relação a 2010.

A lógica é elementar, comprovando que, se o mar não está para peixe, o ambiente industrial não está muito animado com a reeleição e isso reflete nas doações de campanha.

No primeiro mês oficial da eleição, a arrecadação de Dilma foi bem menor do que a do mesmo período de 2010 e está equiparada à do tucano Aécio Neves --que foi mais que o dobro do que José Serra recebeu quatro anos atrás. Aécio, aliás, foi o que mais atraiu recursos na largada. Campos não está mal, mas tem o fantasma de Marina.

O empresariado aposta suas fichas e dá o troco em Dilma pelo desempenho industrial, que embicou para baixo, e pelos indicadores da economia, um pior que o outro.

Só na semana passada: 1) o governo gasta demais e está muito longe de cumprir a própria meta de economia para o ano; 2) as exportações melhoraram em julho, com as tais plataformas de petróleo, e nem isso reverte o déficit comercial no ano, de US$ 916 milhões; 3) o IBGE detecta o recuo da indústria pelo quarto mês seguido. Pobre PIB...

Quem pode estar feliz? Sem felicidade, não há ânimo para a reeleição.

Dilma saiu da condição de "poste" para a vitória de 2010 embalada por uma popularidade recorde de Lula e por um crescimento econômico de 7,5%. Tudo fazia sentido.

Em 2014, Lula anda meio sumido, a popularidade da presidente é sofrível, a previsão de crescimento é de mísero 1% e o efeito da política econômica desses três anos e meio desaba no empresariado e no eleitorado na pior hora.

O dia 19 vem aí e a proporção do tempo na TV é bem mais favorável a Dilma do que a das doações de campanha. Mas para falar da era Lula e esquecer a era Dilma. Com a TV, ou vai ou racha --inclusive os aliados.

Luiz Carlos Azedo: Agosto, desgosto

- Correio Braziliense

Associado a tragédias e catástrofes, agosto é um mês malvisto pelo povo — e temido pelos políticos. A superstição começou na França, por causa da famosa Noite de São Bartolomeu, em 24 de agosto de 1572, na qual foram massacrados os líderes protestantes convidados para o casamento real que selaria a paz entre católicos e huguenotes, seguidores do teólogo protestante João Calvino. Catarina de Médici, rainha católica, ordenou o extermínio em massa dos calvinistas, que durou meses. Estima-se entre 70 mil e 100 mil mortes, dependendo do credo de quem fez as contas.

No Brasil, a superstição ganhou muita força por causa do suicídio do presidente Getúlio Vargas, um episódio dramático, que é considerado por muitos um divisor de águas da nossa política: em 24 de agosto de 1954, por volta das 8 horas, Getúlio Vargas deixou seu quarto no Palácio do Catete em direção ao gabinete de trabalho. Voltou com um objeto no bolso do paletó do pijama. Às 8h30, deu o tiro no coração que traumatizou a vida nacional.

O episódio está registrado em livros de história e documentários, rendeu um dos melhores romances de Rubem Fonseca (Agosto) e uma interpretação magistral de Tony Ramos no filme Getúlio. Está sendo recontado, com riqueza de detalhes, no último volume da trilogia de Lira Neto, Getúlio (1945-1954), Da volta pela consagração popular ao suicídio, cuja pré-venda já começou nas grandes livrarias, pela internet.

Muitos acreditam que Getúlio tramou sua própria morte ao longo da crise de agosto de 1954, o mês mais turbulento da República, que só não resultou numa ditadura militar devido ao suicídio. "Foi um golpe de mestre. Um cálculo político muito benfeito", avalia a historiadora Maria Celina Soares D"Araújo, intérprete da Era Vargas. Duas semanas antes, Vargas havia entregado rascunhos de sua carta-testamento ao amigo José Maciel Filho, redator de seus discursos.

Os políticos da União Democrática Nacional (UDN), principalmente o jornalista Carlos Lacerda, eram os principais adversários de Vargas. À esquerda, era combatido também pelo líder comunista Luís Carlos Prestes. Lacerda defendia a deposição de Vargas desde as eleições de 1950: "[Vargas] não deve ser candidato à Presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar".

Vargas havia sido deposto em 1945, após 15 anos no poder. Eleito com 48,7% dos votos, em 3 de outubro de 1950, foi empossado em 27 de janeiro do ano seguinte. Voltou "nos braços do povo", com um projeto nacionalista: criou a Petrobras, o BNDES e projetou a Eletrobras, mas enfrentou muitas denúncias de corrupção. "Patriarca do roubo" e "gerente-geral da corrupção no Brasil", acusava Lacerda, que apelava aos quartéis.

A crise
Com o Manifesto dos Coronéis, a conspiração ganhou força. Os militares queriam mais investimentos nas Forças Armadas, melhores salários e a saída do "comunista" João Goulart, que mais tarde seria deposto da Presidência no golpe de 1964. Vargas afastou Jango e, uma semana depois, no1º de maio, encampou a mais radical proposta do ex-ministro: aumento de 100% para o salário mínimo, que passaria a ser igual ao soldo de um segundo-tenente. Também aumentou a contribuição dos empresários para a Previdência.

A crise tornou-se irreversível em 5 de agosto. Na portaria de seu prédio, em Copacabana, Carlos Lacerda sofreu um atentado, no qual foi baleado no pé esquerdo. O major-aviador Rubens Vaz, que o acompanhava, foi assassinado. Conduzidas pela Aeronáutica, as investigações sobre o "crime da rua Tonelero" incriminaram Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal do presidente. Lutero, filho de Vargas, e Benjamim, o Bejo, foram postos sob suspeita de serem os verdadeiros mandantes.

Vargas já havia derrotado um pedido de impeachment proposto pelo líder udenista Afonso Arinos; menos de dois meses depois, viu suas bases políticas e militares virar fumaça. No dia 22, os brigadeiros da Aeronáutica pediram sua renúncia. No Senado, no dia 23, o vice-presidente Café Filho anunciou o rompimento. Às 3h do dia 24, o desfecho da reunião ministerial de emergência que convocara foi sua despedida do poder.

Aceitou a licença provisória, mas, ao fazê-lo, evocou a própria morte: "Determino que os ministros militares mantenham a ordem pública. Se conseguirem, eu apresentarei o meu pedido de licença. No caso contrário, os revoltosos encontrarão aqui dentro do palácio o meu cadáver". O presidente Getúlio Vargas já havia decidido o que fazer ao amanhecer: "Saio da vida para entrar na história", escreveu. Virou mito.

João Bosco Rabello: Silêncio eloquente

- O Estado de S. Paulo

A Petrobrás teve 11 ex-diretores responsabilizados pelo Tribunal de Contas da União (TCU) pela operação comercial de compra de uma refinaria nos Estados Unidos, sob a suspeita de servir a um esquema de desvio de recursos para fins ainda investigados.

Apenas nesse caso a operação envolve a quantia de 712 milhões de dólares que o TCU pretende estornar para os cofres da empresa. Os bens dos 11 ex-diretores estão bloqueados, inclusive os do seu ex-presidente, Sérgio Gabrielli. A sua sucessora, Graça Foster, poderá ir pelo mesmo caminho.

Um dos alcançados pela decisão do tribunal, Paulo Roberto Costa, está preso. E a Polícia Federal investiga a participação de seu parceiro, o doleiro Alberto Youssef, ambos réus por desvio de dinheiro da refinaria Abreu e Lima, como sócio da estatal em um terceiro empreendimento - a usina termelétrica de Suape.

Nesta, Youssef estava associado ao ex-deputado José Janene na empresa CSA Project Finance, investigada por lavagem de dinheiro do mensalão, repassado pelo publicitário Marcos Valério. É Janene o padrinho político de Paulo Roberto Costa na Petrobrás, formando um elo que aproxima as investigações de desvios para campanhas eleitorais.

São casos que já ultrapassaram o estágio das denúncias e geraram ações policiais e judiciais, com bloqueios de bens e prisões. Sua consistência se mede também pela antecipação da presidente Dilma Rousseff ao seu desfecho policial, declarando-se inocente de uma decisão da empresa que sabia, mais tarde, incriminadora.

No entanto, tanto Dilma, à época presidente do Conselho de Administração da Petrobrás, quanto seu antecessor, Lula, presidente da República, calam sobre o desdobramento desses casos. A presidente satisfez-se com a não inclusão do Conselho na decisão do TCU, que a isenta, por ora, da responsabilidade imposta aos ex- diretores.

Já o ex-presidente, em cuja gestão ocorreram os fatos, os inclui no roteiro cirúrgico que cumpre como cabo eleitoral da afilhada - um script que o mantém em cena apenas como advogado do governo da sucessora, omitindo-se de qualquer tema incômodo com origem no seu.

A ideia é que seu governo figure na campanha quando for conveniente avaliar os 14 anos do PT no poder para atenuar a crise econômica atual. E separando as duas gestões na maior parte do tempo, como convém ao ex-presidente, para não macular a popularidade com a qual voltou à planície.

Mas o escândalo da Petrobrás é um vínculo de alto teor explosivo a unir criador e criatura, juntos à época como chefe e subordinada. O que torna o silêncio de ambos. sobre os escândalos, eloquente.

Gaudêncio Torquato: A rua, o eleitor e os candidatos

- O Estado de S. Paulo

O ano era o de 64 antes de Cristo. O candidato, Marco Túlio Cícero, o tribuno mais eloquente do ciclo de César, tinha o apoio das classes altas. Disputava-se o cargo de cônsul de Roma. O adversário, o general Catilina, era o candidato do proletariado. O marqueteiro de Cícero, Quinto, seu irmão, considerado o primeiro organizador de estratégias de marketing, enviou-lhe uma carta cheia de recomendações: "Volte sua atenção para a cidade, todas as associações, os distritos e os bairros; vá ao encalço de homens de toda e qualquer região, passe a conhecê-los, cultive e fortaleça a amizade, cuidando para que eles cabalem votos para você; três são as coisas que levam as pessoas a se sentir cativadas e dispostas a dar apoio eleitoral: um favor, uma esperança ou a simpatia espontânea". Cícero venceu, repetiu a vitória um ano depois, acusou Catilina de corrupção, roubo, adultério, perversão e puxou sua orelha com a célebre interrogação: "Quousque tandem abutere Catilina patientia nostra?" ("Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?").

Os conselhos de Quinto, suportando a corrosão de mais de dois milênios, chegam incólumes ao cenário eleitoral brasileiro, sendo receita eficaz para os 24.979 candidatos que disputarão, em outubro, 1.709 vagas - para a Presidência da República, o Executivo dos 26 Estados e do Distrito Federal, as representações no Senado, na Câmara dos Deputados e nas Assembleias legislativas. O tufão que inundou as ruas no ano passado, com grupos em passeatas e depredações, cujas marolas ainda se fazem presentes aqui e ali, serve como biruta para mostrar aos candidatos a direção a seguir: ruas, becos, bairros, cidades. Tal apontamento se ancora no espírito do tempo, esse vetor que tende a imprimir aos ciclos eleitorais características peculiares, agendas condizentes com o ânimo social, discursos alinhados ao cotidiano. A lógica é cristalina: se o povo está nas ruas, os candidatos devem ir ao seu encontro.

Milton Nascimento, na bela música Nos Bailes da Vida, canta: "Com a roupa encharcada e a alma repleta de chão, todo artista tem de ir aonde o povo está". Candidatos são os artistas do palco político. Cada eleição tem sua índole. A deste ano é a campanha de rua.

O barulho social bate nas portas dos Poderes. O eco espraia-se pelas teias organizadas por setores e categorias profissionais, organizações não governamentais e, mais importante, sob o empuxo da elevação do nível de conscientização política de participantes de todas as classes, até mesmo das margens. Sob o clamor geral, aos candidatos se impõe a lição de casa: conhecer os problemas regionais, absorver as prioridades de cada compartimento da pirâmide e dar respostas adequadas e factíveis às reivindicações (demonstrando como realizarão as promessas). A diferença de outros pleitos se escancara. Hoje a percepção do eleitor é mais aguda, situação apontada não apenas pelo ajuntamento de conglomerados eleitorais, mas também pela baixa avaliação que faz de governos e candidatos.

O que motiva a contundente expressão social? Entre as hipóteses, alinham-se o sentimento da nova classe média (C) de que não alcançou o mesmo patamar de sua vizinha de cima, a classe B; a sensação de que os ganhos obtidos se esvaem no ralo da inflação; a precariedade dos serviços públicos; o receio de voltar ao andar de baixo da pirâmide; a maré enchente de escândalos, desvios e corrupção, que estende o fosso entre o universo político e o eleitor... Em suma, a sensação generalizada de que o País gira em torno de si mesmo, tateando sofregamente na trilha esburacada de grandes deficiências. Não é exagero aduzir que a comunidade nacional grita em uníssono: basta de mesmice!

A indignação é solfejada por um conjunto formado por tipos variados de eleitores, entre os quais se incluem amorfos, emotivos, pragmáticos, locais, religiosos, esclarecidos/racionais. Grupamentos de baixo nível de conscientização, que tendem a estender braços ao populismo, habitam principalmente o território que agrega 54% (72 milhões) dos 142 milhões de eleitores que não chegaram a concluir o primeiro grau. Constata-se, porém, que mesmo na terra desse eleitorado se ouve acentuado teor crítico, a denotar menor dispersão e olhar atento. O fato é que os currais das turbas ignaras se vão fechando. Veja-se a pressão de grupos como o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto. O voto segmentado, direcionado, será mais volumoso que o de ontem, a refletir a organicidade social do País. Um bloco em ascensão é o do voto religioso, até comporta candidato próprio, na demonstração de que os credos evangélicos e o mercado da fé, endinheirados, passam a ser parceiros poderosos da política.

O bolo eleitoral incha com o fermento das redes sociais, formando exércitos de ataque e de defesa em torno dos atores políticos. A virulência verbal recrudesce. Até grupos tradicionalmente alheios à política, como os jovens, se envolvem na malha eletrônica, que passa a exercer papel importante no debate nacional.

Resta, por último, retratar a galeria de candidatos. O perfil predominante acaba de sair do forno do TSE: homem, branco, casado, sem ter concluído o ensino superior. Se considerarmos que a população brasileira é constituída, segundo o Pnad, por 47% de pessoas brancas, 43% de pardas e 8% de negras, a proporção de candidatos brancos supera o conjunto. As mulheres entram na arena eleitoral com apenas 29,7% do total de candidatos (7.410), apesar de constituírem maioria da população (51,5%). O painel de profissões mostra fatia maior de candidatos que se dizem empresários (9,3%), advogados (5,5%), comerciantes e políticos (deputados, vereadores). O circo eleitoral abre suas cortinas para os olimpianos da cultura de massa - artistas e ex-jogadores de futebol -, que tentarão atrair votos com sua fama. Sem o sucesso de outrora.

Ao fundo, o eleitor insatisfeito parece gritar: "Até quando, candidatos, abusareis da nossa paciência?".

* Jornalista, professor titular da USP